Eu chegando a S. Paulo, eu fiquei numa pensão, das piores pensões…não tinha, nem estrelas…uma amiga que me levou e ali…eu não tinha conta em banco, nem nada nessa época…levei dinheiro na mão…geralmente as pessoas que faziam as cirurgias, que são geralmente aplicações de silicone…eram clandestinas e uma das pessoas que fazia isso era drogado…era um rapaz muito drogado e um dia consegui falar com ele para ele ir em casa fazer…ele tinha que se drogar primeiro para poder depois aplicar…ele se drogava na veia. Aconteceu que ele se drogou e passou mal, gerou-se aquela confusão na pensão…era uma pensão onde viviam drogados, tinha drogas dentro, traficantes…era mesmo uma pensão “mal” mesmo…caíram em cima de mim, eu consegui me escapar, porque deu polícia…tudo lá, só que deixei minha bolsa…deixei tudo lá e me roubaram tudo e eu fiquei com um vestido e uma sandália no pé, desci a rua que eu nem conhecia, porque fazia uma semana que eu tinha chegado lá…nem conhecia…nem sabia como era S. Paulo…soube que tinha uma amiga minha que trabalhava num local…nessa época…onde já tinha muitas amigas que trabalhavam com prostituição…eu não trabalhava com prostituição…eu até recriminava isso, eu dizia “jamais vou fazer uma coisa dessa, prefiro ganhar suando que ganhar sorrindo!”
Eu – Que idade tinhas mais ou menos?
Adriana – Isso já tinha 20 anos para 21…então eu soube que essa amiga minha estava num local em S. Paulo chamado a boca do lixo e…eu sai andando na rua…sem saber…
Eu – Bocas são aquelas cenas tipo bairro…
Eu – Que idade tinhas mais ou menos?
Adriana – Isso já tinha 20 anos para 21…então eu soube que essa amiga minha estava num local em S. Paulo chamado a boca do lixo e…eu sai andando na rua…sem saber…
Eu – Bocas são aquelas cenas tipo bairro…
Adriana – É…boca do lixo é um bairro de S. Paulo, se chama St. ª Efigénia, mas chamam boca do lixo…por ser perigosa, é umas das zonas mais perigosas que tem em S. Paulo, só que lá tem local onde as transsexuais trabalham, eu nunca sabia disso…somente que tinha uma amiga que morava ali. Saí na rua, andando…andando desnorteada da cabeça e isso eram 22 horas e quando deu 5 da madrugada eu estava andando…parou um táxi para mim…eu estava chorando, aí eu contei a história para ele e lhe pedi para me levar num local chamado boca do lixo, para ir ter com uma amiga, que sabia que parava num hotel chamado Santana, ele me respondeu que sabia onde era e que me levava lá. Nisso o Brasil tem uma coisa de “boa”, é que os taxistas dão “carona” para a “gente” e ele foi e me levou…me deixou na porta…eu pedi lá para o encarregado que estava na porta…contei minha história para ele, que estava procurando a minha amiga…ele deixou…contei a situação para ela e ela disse :”ahh não se preocupa não…fica aqui, amanhã tu desce para a rua…”então isso para mim foi um horror…imaginar que eu tinha que descer para a rua…trabalhar…fazer programa…para ganhar dinheiro para fazer o que eu queria…fiquei pensando…meu deus…o que é que eu vou fazer? Fiquei ali pensando…eu não queria isso…não queria isso…que eu nunca fiz…não sabia nem como é que era…o que é que tinha que falar para as pessoas…só que a vontade que eu tinha de ter a transformação era tão grande e para mim saber que ia voltar a Belém sem nada...
Obrigado Adriana.
3 comentários:
Uma senhora história de vida.
Mais uma grande história de vida, de facto...
que horror! o que a pobre da Adriana sofreu...foi dose! isto de aplicar silicone xi.....
bem, para destressar:
Andanças do poeta
pelo céu cor de violeta
que lindo,
que lindo vai o poeta.
Pôs uma camisa branca
e sapatos amarelos,
as calças agarradinhas
são da feira de Barcelos.
Pelo céu vai o poeta.
Sobe,sobe de bicicleta.
Eugénio de Andrade
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