Esta pesquisa de que venho refereciando fragmentos de entrevistas e de algumas tentativas de análise, é um estudo de caso que estou a realizar e que incide sobre uma comunidade que não ultrapassará as 60/70 pessoas, residindo momentaneamente em Portugal, visto que a mobilidade e transnacionalidade caracteriza a maioria dos sujeitos que a compõem. Nem sequer se pretende generalizar, existe um estudo de caso em curso, onde recolhi histórias de vida, que não é, nem pretende ser representativo das travestis que não se enquadram nos parâmetros que estabeleci para a investigação, nomeadamente, o serem brasileiras, imigrantes clandestinas e cuja a actividade se exerce no âmbito da indústria do sexo. Como deve ser do conhecimento geral, o estudo de caso ou intensivo, visa esencialmente um tipo de informação qualitativa, mais do que quantitativa. Posto isto, vou pegar no comentário do RB e a partir daí demonstrar pelo recurso a exemplos concretos emergentes das observações, que efectivamente algumas das aplicações não correm da melhor forma:
1º - Nem sempre estas aplicações correm bem, foi o caso da própria Paula que ao aplicar silicone na barriga da perna o viu descair para a zona do tornozelo, sendo que é bem patente nessa região anatómica, aquilo que à primeira vista parece ser um enorme inchaço, que rodeia na totalidade a zona do tornozelo e sua periferia. No entanto, isso não a parece preocupar muito, aceita inclusive as constantes brincadeiras das outras, nomeadamente de Adriana que em tom jocoso se queixa que ela lhe deforma todas as meias que empresta.
2º- Na semana passada, aquando da ida ao Porto, em que Adriana regressou logo na manhã seguinte por ter anúncio, Paula ficou por lá e nesse período de tempo bombou a cara de Karmen, reesultado um dos lados ficou mais cheio que outro. Discutem acerca do que pode ser aquele inchaço…silicone a mais num lado que noutro? Paula diz que não, terá apanhado um nervo? Bem…aventam-se soluções…ou se tira o silicone que está a mais ou coloca-se mais silicone do lado que está menor. Entretanto Adriana brinca…dizendo a Karmen que podia deixar crescer a barba do lado que está mais inchado…riem-se todas, eu contenho a gargalhada com esforço, é que entretanto Adriana diz a Karmen para encher as bochechas ou então para se rir com força…a cena torna-se hilariante…Karmen ri-se também, embora pouco (lógico que as consequências podem ser bem mais graves, dependendo também da zona do corpo bombada).
Já coloquei em mim mesma nas nádegas, nas pernas. Tem que ter sangue frio, não é? (Risos), mas a “gente” passa por tanta coisa mais difícil na nossa vida e sobrevive, isso aí não é nada. A dor maior não é a do corpo, aquilo passa, a dor maior é a que fica no coração, essa é a dor maior (…) mas as pessoas são assim, têm essa visão da “gente”, nunca tiveram oportunidade de sentar e conversar com uma pessoa como nós, para tentar entender como nós somos, o que passa na nossa cabeça, e a “gente” sofre, se a “gente” não sofre, nunca as pessoa procuraram saber isso, elas pensam que a “gente” por ser o que somos é porque somos safados, vulgares, pessoas sem estudos, essas coisas…não tem nada a ver, assim como tem homens ladrões, homens que não têm estudos, pessoas ignorantes, existe as mesmas pessoas no nosso meio e não é por um que a pessoa vai julgar todos. Parámos por aqui (Entrevista a Adriana).
Acima de tudo, para além dos dramas pessoais e humanos envolvidos, destaca-se a determinação destas pessoas em quererem ser quem são.
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