segunda-feira, 30 de abril de 2007

quinta-feira, 26 de abril de 2007

fragmentos

The most despized sexual casts currently include transsexuals, transvestites, fetishists, sadomasochists, sex workers such as prostitutes (…) as sexual behaviour or ocupations fall lower on scale, the individuals who practice them are subjected to a presumption of mental illness, disreputability, criminality, restricted social and physical mobility, loss of institucional support and economic sanctions (Rubin1992:279).

Fragmentos

(…) ici et là apparaissent dês formes hybrides et embryonnaires de différenciation sociale (Agier 2002:103). Tal é também um resultado evidente, de as instituições apenas acomodarem os padrões comportamentais tipo (Kardiner 1961:240), há portanto desorganização social, quando as atitudes individuais não são satisfeitas no âmbito das instituições (Coulon 1992:28), quando grupos minoritários como imigrantes clandestinos, não têm respostas válidas ao nível das cúpulas socialmente integradoras. Guiddens diria que as instituições nascem das práticas e nesse sentido há ainda muito para fazer. Já no plano das instituições secundárias, pelas observações realizadas, a integração dá-se essencialmente através da religião. No entanto este tema do religioso será abordado mais tarde.
Baseando-me, não só nas entrevistas, mas também nas observações que venho fazendo desde Agosto, parece-me plausível afirmar que tanto Adriana como as restantes travestis e imigrantes ilegais, se encontram enclausuradas nesta dupla condição, les réfugiés sont maintenus en quarantaine à cause de l´incapacité politique à concevoir leur place dans la société tout entière (Agier 2002:120).

Fragmentos

Já no caso do trabalho de Loise, a questão da masculinidade ou falta dela, por parte do cliente, remete para a o ser activo ou passivo na relação (Loise:20), no entanto, também aqui o discurso é de certa forma ambivalente, apontando para a negociação de uma identidade sexual constante, como resposta a estímulos concretos:

Il montre qu`au – dela de l`influence dês facteurs historiques et culturels dans la construction de la sexualité, le genne n`est pás une entité fixe, mais se faconne continuellement en function du contextee dans lequel il évolue. Dans le cadre de leur travail, les bichas sont amenées à renégocier une identité sexuelle en accord avec les attentes des clients (idem:67).

Assim, os sujeitos aparecem providos de capacidade de agenciamento e negociação no processo em que se inserem:

Os problemas mais complexos da vida moderna decorrem da vontade do indivíduo preservar a sua independência e individualidade perante os poderes supremos da sociedade (…) Resistência do indivíduo à uniformização e à submissão perante as engrenagens sócio- tecnológicas (Simmel in Fortuna 2001:31).

Pelo que análise destes processos identitários dinâmicos, porque constantemente negociados, deve ser processada em escalas, no fundo parâmetros diferenciados consoante as circunstâncias concretas em que se inserem (Silvano 1997: 153). Tal envolve uma concepção estrutural dinâmica de carácter, que contemple na construção das identidades a tensionalidade entre principio do prazer e principio da realidade, primeiramente no sujeito, religado depois ao grupo onde se integra e às relações que este estabelece sob um ponto de vista interno e externo:


This simplifies our tasck somewhat, for it restates the goal: the precise definition of the role played by the emotional life of man in creating those phenomena institutions and practices – which we deal in the social sciences (Kardiner 1945:1).


Esta análise estrutural dinâmica tem na base o conceito dinâmico de carácter de Freud, considerado uma das suas grandes contribuições, bem como a tensão entre desejo e receio de um mundo que é essencialmente hostil às aspirações e expectativas do sujeito agenciador. Esta perspectiva analítica deve ser realizada, tendo em atenção o papel dos sistemas projectivos, subdivididos em primários e secundários, relacionando portanto a fase da infância ligada ao desejo (Freud 2002:25) e à omnipotência narcísica, com a fase adulta já com a tomada de contacto com o principio da realidade através do crivo da experiência (idem:13). O primeiro período enquadrado por instituições primárias como a família e a escola, o segundo culminará com a integração religiosa, filosófica, política, etc.


According as the experiences varied, so did the products of projective systems in folklore and religion (Kardiner 1945:23).

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Reflectir sobre o Capitalismo



A etiqueta que aqui esponho acompanhava ás calças de ganga que comprei numa loja da cadeia Pull & Bear (em outlet) petentente ao grupo espanhol Inditex. Do mesmo grupo fazem parte muitas das lojas de pronto a vestir existentes nos shoppings portugueses :

Cadeia                     nº Total de lojas do Grupo
Zara                                   899
Pull and Bear                    440
Massimo Dutti                  375
Bershka                             384
Stradivarius                      268
Oysho                                162
Zara Home                        122
Kiddy's Class                    157
Often                                   ?
Tempe                                 ?

oito dos formatos comerciais da Inditex estão distribuídos pelas referidas 3.000 lojas, que empregam mais de 60.000 pessoas em todo o mundo.

As vendas do grupo ascenderam, em 2005, aos 6.741 milhões de euros.

Não será então dificil compreender como é que este Grupo Multinacional consegue esta proeza uma vez que consegue obter lucros com a venda de uma peça de roupa na ordem dos 1200%.

Assim, qualquer pessoa que tenha comprado o mesmo artigo textil do que eu , pagou mais de 12 vezes o preço que eu paguei pelo mesmo, o mesmo será dizer que com o preço de apenas umas calças vendidas á modica quantia de mais de sete contos (em dinheiro antigo) alguém meses mais tarde poderia comprar 12 unidades por 
seiscentos escudos.

Obviamente não estou a tentar defender a venda de todos os artigos ao preço pelo qual comprei o meu uma vez que, pressuponho, tenha sido mais ou menos o preço de compra para o negociante, exijo sim um preço justo ... o que também não me parece estar a ser o praticado aquando da colocação do produto no mercado. a grande questão é ser eu e provavelmente muito 
poucos para além de mim a fazer tamanha exigencia.

No entanto na economia de consumo são estas as regras.

As mercadorias estao sujeitas a duas pressões fundamentais impostas pelos "podutores" e distribuidores das mercadorias: 

A primeira é a da especulação , ou seja, o encarecimento injustificado do produto face
aos seus custos de produção , transporte e retalho, a outra, sem a qual a primeira não poderia 
nunca funcionar é a regra do cartel , aqui bastante visivel pela existencia de preços standardizados para muitos dos produtos das várias lojas do grupo ( muitas vezes localizadas nos mesmos espaços comerciais) ou então em oligopolios onde vários macro-produtores / distribuidores se reunem para estipular preços minimos de venda , muito acima claro, do preço TRABALHO da mercadoria. isto acontece para impedir que haja competição entre establecimentos de venda e consequentemente baixas nos preços... o que significaria automáticamente, baixas nos lucros das empresas.

Toda esta lógica faz com que o consumidor nao se possa desalienar da especulação por não encontrar no mercado artigos semelhantes a preços inferiores, nunca conhecendo o preço real do produto , ou apenas tendo vagas iluminações em ocasiões excepcionais nestes escoamentos de restos muito esporádicos.



sábado, 21 de abril de 2007

Em frança, mudaram-se os tempos , mudam-se as vontades

                        


Para comprovar o carácter eclético deste espaço decidi falar um pouco de política uma vez que esta subjaz a toda e qualquer sociedade humana.

Para o bem ou para o mal, as eleições em França neste ano de 2007 têm uma importância que suplanta em larga medida a da "simples" eleição do presidente francês.

Elas parecem na verdade estar a revelar um ponto de viragem fulcral na história e na mentalidade dos povos europeus e na sua percepção de que se atingiram os limites de algumas das bases do socialismo, assentes não só em supostas igualdades que (sabe-se "agora") afinal não existem (ou pelo menos não na formula simplista sob a qual foram concebidas), como também ás fortes e já recorrentes evidencias empíricas da existência de mecanismos sociais (constituídos com os impostos de quem trabalha) que acabam por ficar votados a utilizações parasitárias, gastos em integrações falhadas ou em mecanismos multiculturais que rompem com os limites de tolerância das populações autóctones culminando inevitavelmente em conflitos sociais.


É keynes quem primeiro nos fala de modelos económicos eternamente em alternância. aliados a estes alternam os modelos sociais e políticos entre o liberalismo e o conservadorismo.  Penso que nos encontramos enquanto europeus precisamente num ponto de revira volta já sem retorno possível.


O século XX começou com a exaltação de liberdades falhadas que pressupunham o derrube dos antigos regimes de reis e Czares, através de inúmeros movimentos populares , comunistas e republicanos.

Estes movimentos libertários rapidamente originaram regimes austeros e totalitários, regimes

que caíram sensivelmente após o final da segunda guerra mundial.

o ponto da viragem desta nova era do inicio do seculo XXI marca-se a contra relógio para uma clara diminuição das "liberdades" e dos direitos adquiridos (económicos, laborais, humanos) aproximando-se de um novo equilíbrio despertado pelo aparecimento de novas economias emergentes que retiram progressivamente o protagonismo ao mundo ocidental.

A história do século XXI não parece andar muito longe do mesmo rumo que seguiu o passado século .

Em França obviamente todos estes elementos reveladores de descontentamento perante as politicas vigentes só vêm á luz numa altura onde se pede consecutivamente á classe trabalhadora que aperte o cinto devido ás conjunturas globalizantes e de escassez laboral que o nosso país também conhece...


Já diz o velho ditado... casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. por isso ´é claro e evidente que toda esta situação se põe nos pontos em que a encontramos hoje devido á recessão económica (grande inimiga do estado social).


Não considero que seja anormal a tentativa defensiva ou de preservação por parte dos europeus em casos onde se vêm realmente ameaçados os pilares de uma sociedade assente  em dois pilares fundamentais democracia e na economia capitalista.


Para compreendermos a situação politica francesa , de momento a mais flagrante mas com certeza não sendo a única, deveremos de evitar a recorrência a simplismos de cariz emotivo e puramente opinativo como alguns que por aí tenho ouvido de que : -- a população francesa afinal não está tão evoluída como se pensava... sendo assim penso que me é legitimo perguntarmo-nos o que é que é ser evoluído? é continuar nos dias de hoje a ver o mundo com os olhos de ontem? ou interiorizar a mensagem que muitos acharam interessantíssima e reveladora aquando da queda dos regimes autoritários , mas a qual já não acham pertinente, (não obstante a sua intemporalidade) e que assim reza:

Mudam-se os tempos mudam-se as vontades


No fundo custa ver morrer o sonho de todo um conjunto de gerações que cresceram

... Com a ideia de um estado social, de certo modo paternalista, que lhes forneceria reformas para uma velhice que cada vez se estende mais,
... Na ideia de que os salários aumentariam todos os anos,
... Na ideia que se arranjaria um trabalho para a vida,
... Na ideia de que o progresso seria infinito e inalienavel,
...Na ideia de que os direitos adquiridos não reconheceriam retrocesso em qualquer circunstancia,
... Na ideia de que o ocidente seria para sempre hegemónico relativamente as restantes geografias do mundo,
...Na ideia que os direitos do homem são coisas naturais e não construções sociais

... entre outras tantas ideias que agora lhes vêm escapar por entre os dedos...

O trunfo da humanidade tem sido e será mais uma vez a capacidade de adaptação ás novas circunstancias... no entanto esta readaptação não se fará sem revolta e sem o derramamento de sangue numa Europa que não o conhece há já meio século.

considerações sobre a prostituição

                   


Reflectindo hoje sobre a questão da prostituição...

Considero que não devemos de reduzir o homem aos seus devaneios mentais que se culturalizam, e cuja sua variabilidade é muitas vezes equacionada, como por exemplo na corrente culturalista, a um fenómeno tão aleatório como a geração espontânea entre outras
filosofias místicas originárias existentes no paradigma pré cientifico.


O lugar da prostituição feminina independentemente da sua normatividade social, ou seja, tendo já em conta a sua construção cultural relativizada, parece condensar em si mesmo a confusão.

Parece haver assim uma dificuldade na definição, não na palavra ou da clarividência conceptual que temos dela, (pois tal como rezam os ditos populares é a mais velha profissão do mundo, logo a invenção de uma palavra que a designe terá eventualmente de ter sido também uma das primeiras) mas sim na ambiguidade dos ideias e contradições emocionais e sistemáticas que subjazem a esta profissão.

Este estilo de vida, se assim podemos definir a prostituição, constitui sem duvida uma das ameaças aos sistemas de pensamento identificadas por Mary Douglas em pureza e perigo, na medida em que ameaçam a conjugalidade e a monogamia (pelo menos nas culturas europeias).
Desta forma, esta actividade torna-se uma prática impura pois encontra-se no limiar da cultura
transgredindo as linhas internas de um sistema.

Esta transgressão é assim considerada como poluiçao ou seja, "barulho" e entropia que ameaçam a boa ordem das coisas e que constituem por isso uma forte ameaça ás estruturas éticas e morais de uma sociedade.

Mas, segundo penso, devemos de ir para alem deste diagnóstico estruturalista assente na organização do pensamento humano e centrar-nos quer na universalidade desta prática, quer na universalidade desta abominação para alem dos sistemas simbólicos.


O "problema" relativo á prostituição é no fundo uma contradição.
Esta contradição deverá de ser focada na própria lógica que sustenta a sua existência:
 ---- a valência biológica diferencial e intersexual do apetite sexual humano e a necessidade masculina pela variedade sexual, contrastante com uma maior selectividade e restrição numérica face aos pares de acasalamento resultantes da escolha feminina.

Para suplantar a sobre-necessidade sexual dos indivíduos masculinos face aos indivíduos femininos gera-se , pela mais simples lógica da oferta e da procura, um mercado de oferta sexual feminina.

O constrangimento vem precisamente do facto de que este apetite sexual por variedade contrasta com a anguista da paternidade.

Podemos também assim perceber o porquê da ausência generalizadas de troca de parceiros sexuais, embora existam exemplos de comunismo sexual como por exemplo o descrito por Marcel Mauss no “Ensaio sobre as Variações Sazoneiras das Sociedades Esquimós” ou mesmo a emergência na sociedade contemporânea ocidental de práticas cada vez mais comuns como o swing.

No entanto todas estas práticas entram em contradição com o ciúme, mecanismo que evoluio também diferencialmente em cada um dos sexos, mas que favorece o sucesso reprodutivo dos indivíduos sejam eles masculinos ou femininos. Se pensarmos evolutivamente, os indivíduos que não tinham ciúmes do contacto sexual entre as suas parceiras e outros machos corriam sérios riscos de não virem a ser os pais crias destas e como tal, não serão provavelmente os nossos antepassados, mas sim, indivíduos cuja codificação genética se perdeu algures no tempo (levando consigo a ausencia do ciume).

A prostituição assenta assim numa necessidade contraditória que tem como personagem central o individuo masculino em vez do feminino, pois é o primeiro que acaba por classificar e ter toda uma relação dupla com o fenómeno.

Esta dupla acepção deve-se primeiro á necessidade da existencia de um mercado sexual mas cuja valorização é feita muito negativamente devido á existência do mecanismo do ciúme.

isto permite assim que fundamentalmente  possam existir certas mulheres que, por necessidade extrema o façam, mas onde se mantenha uma liberalização da actividade sexual feminina altamente restrita (eis o porquê de a prostituiçao não ser totalmente ilegal em nenhuma sociedade do mundo, embora seja sempre restrita e restritiva.)

O objectivo de que esta prática se mantenha sempre uma actividade, não só oculta como condenável, favorecerá o desprestigio social de qualquer das esposas dos consumidores sexuais  que a possam vir a pratica-la, de forma a que estas não comprometam a paternidade dos seus pares masculinos com actividades de poligamia.

Obviamente poderemos considerar este sistema de constrangimentos á masculinidade como um constitutivo da própria condição feminina por parte dos homens que, não só lhes confere a guarda do par, como a construção de uma dualidade simbólica da feminilidade:
-- a mulher sob o seu controlo é a virgem , mãe (dos seus filhos claro),
-- a mulher autónoma e livre sexualmente é sempre conotada com um leque vasto de termos socialmente negativos e desvalorizantes... da libertina á prostituta.

Poderemos assim avançar que o aparecimento da cultura é o maior mecanismo de controlo do outro (especialmente do feminino) suplantando largamente e a longo prazo qualquer dominância assente na força física como eventualmente terá sido praticada pelos nossos antepassados não humanos.

A vitória da cultura parece assim representar a vitória do mundo masculino sobre o mundo feminino, pois é ela que permite a criação de todo um conjunto de mitos de monstros e inseguranças existentes para alem das fronteiras da aldeia (ou conjunto territorial onde ficam confinadas as mulheres e as crianças) .

Esta capacidade de produzir cultura, arte , palavras , lendas e mitos permitiu assim aos indivíduos masculinos um mais fácil acesso ás garantias das suas próprias necessidades sexuais.

A monogamia (ou pelo menos o racionamento na distribuição mais ou menos igualitária das fêmeas por cada um dos machos constitutivos de uma sociedade ) poderá eventualmente ser a melhor estratégia para o garante deste controlo culturalizado sobre o feminino , universo este que fica agora confinado a uma territorialidade restrita por fronteiras de onde apenas os homens estão autorizados a trespassar.


O aparecimento da cultura será provavelmente o mecanismo revolucionário do patriarcado que retirou os homens da sua perseguição , muitas vezes servil das hordas femininas (sobretudo recolectoras) e que por isso mesmo estariam sujeitas aos desígnios da natureza no que respeita á recolha do alimento.

Eis mais uma vez aquilo que parece ser o porquê da conotação mitificada da mulher com o mundo natural e do homem com o mundo cultural, e eis mais uma vez a origem da inversão do estatuto do matriarcado original, para o patriarcado actual. Realidades que cronologicamente poderão não andar tão desfasadas de um real mas que têm muitas vezes sido apenas interpretado como Mitos de origem, histórias inventadas, logicas de  inversão simbóilicas estatutárias sem fundo de verdade e nada mais .





sexta-feira, 20 de abril de 2007

Questões e mais Questões







Como ando sempre a pensar nos males do mundo , vinha hoje sugerir-vos uma reflexão. Mais uma vez vou debruçar-me sobre um assunto sobre o qual escrevi num dos ultmos posts: o racismo.
Hoje envolta numa espécie de teoria da conspiração dei comigo a pensar se por ventura o racismo não havia sido uma palavra inventada pelos brancos ( raça “dominante” ) para menorizar eternamente os não brancos e garantirem assim o seu inalienável estatuto de superioridade?

Acontece que quer tenha ou não sido engendrado, o esquema parece estar a funcionar...

Isto porque se pensarmos bem qual é o propósito da constituição de uma palavra que evidencia as divergências e crelas entre duas ou mais raças?

Porque pensamos com as palavras, gostava de sugerir este exercício de utopia mental
Como seria se não existisse a palavra?


O que eu penso é que a palavra em si poderá constituir uma espécie de veneno para quem a usa.

Em “Filhos diferentes de deuses diferentes de Susana e Gabriel pereira bastos mostram-nos como a palavra racismo é francamente mais utilizada pelos grupos com menos sucesso adaptativo ou considerados pelos autores como mais problemáticos a vários níveis na sociedade alargada (ciganos e cabo-verdianos) sentindo-se e dizendo-se muitas vezes vitimas de racismo, enquanto que outros grupos (sikhs e khojas) que embora pertencendo a raças e culturas igualmente distintas das da maioria da população, eram tidos como não problemáticos (parafraseando igualmente os autores) sendo também detentores um maior nível social , escolar e de integração económica. Estes últimos não se não evidenciavam sentimentos ou discursos de serem directamente vitimas de discriminação ou racismo.


Embora os autores tentem explicar a situação com recurso a uma multiplicidade de outras dimensões tais como a religião ou a ligação mais ou menos antiga com o território português estudando as próprias clivagens internas de cada um dos grupos que acabavam em certa medida por constituir uma diversidade dentro destes modelos mais gerais, penso que podemos tirar daqui a nossa própria interpretação , eu pessoalmente encontrei-me numa espécie de dilema existencial relacionado com a própria palavra que descreve o fenómeno sobre a qual podemos por as seguintes questões de causalidade:



- Será o racismo uma palavra / realidade que inferioriza e corta as possibilidades de progressão e de afirmação dos indivíduos minoritários numa sociedade maioritária?

                                    ou

- Será o racismo uma arma de arremesso ou uma ferramenta de desculpabilização que não favorece o mérito e o esforço integrativo dos indivíduos de uma determinada minoria para uma completa integração social na sociedade alargada?


Caso nos debrucemos sobre a segunda hipótese, (não excluindo claro a evidente existência da primeira (que, embora clara não considero que seja a única origem e motivo da utilização da palavra e ideia em discussão)) poderíamos pensar que a existência de uma palavra á partida votada a excluir indivíduos marcados genética ou culturalmente com traços distintivos das suas aspirações a ascender a determinadas posições na sociedade possa na realidade surtir o efeito desejado.

Não obstante esta palavra torna-se igualmente desculpabilizadora e legitimadora da ausência de esforço dos indivíduos contribuindo para a uma formação oral do seu carácter, em vez de uma analidade competitiva e baseada no gosto pelo mérito e pelo amor condicional, tudo isto assente perspectiva frommiana. Parece ser precisamente por este motivo, por esta contaminação semântica, que são precisamente estes os grupos com menor sucesso escolar o que contribui para a manutenção de um status social e económico abaixo da média nas sociedades cada vez mais tecnocratas como a portuguesa e a europeia em geral.

O importante penso, seria também analisarmos as questões numa perspectiva social e assente naquilo que a sociedade espera de nós. Tal como uma criança mimada é aquela de quem se exigio pouco ou nada e uma criança dotada é aquela de quem sempre se exigiu mérito, tal como a irresponsabilidade e a promiscuidade que se atribui vulgarmente aos indivíduos homossexuais deriva precisamente da ausência de uma regulamentação social da sua própria sexualidade e da sua própria família e os condena a um ciclo vicioso de marginalidade no imaginário social também podemos colocar esta questão em relação á raça / cultura dos indivíduos que acaba hoje por estar a funcionar na sociedade ocidental como as castas (inclusivamente no que respeita aos sectores de ocupação laboral , mas claro ,com uma flexibilidade mais do que evidente) nos sistemas sociais indianos.

Seria, pelo menos a meu ver, pertinente colocarmos sob um ponto de vista utópico uma virtual erradicação da referida palavra e estudar hipoteticamente os resultados que esta acção poderia surtir nos grupos que mais se sentem vitimas de racismo.

-- Como reagiriam as pessoas destes grupos na ausência de um marcador verbal diferencial de vitimização perante a sociedade maioritária e opressora?

-- seria possível a construção de uma identidade marcada por perspectivas de um maior igualitarismo ao nível das possibilidades de ascensão social?

-- seria possível a ascensão ao nível médio social e económico destas minorias através da afirmação de um mérito potencial exigido igualmente aos grupos minoritários , agora na ausência dessa palavra facilitadora da exclusão?

-- seria a ausência de distinção / palavra evidenciadora de clivagens uma forma de promover a mudança adaptativa de hábitos culturais ou formas de vida não favoráveis á integração destes grupos na sociedade maioritária, ou era a palavra racismo uma legitimadora da permanência destes mesmos hábitos culturais marginalizantes?

-- ou por ultimo, estaríamos inevitavelmente condenados ao ressurgimento da ideia sob qualquer outra forma sintáctica?

terça-feira, 17 de abril de 2007

Cantico Negro Mp3



Tal como havia prometido informalmente ao colega Bela Lugosi's dead ca vai , referente ao poema postado ha já alguns dias , o audio recitado por João Villaret.


Cantico Negro de José Regio Mp3

Olhares

Haenni, Loise A Vida Maluca, Universidade de Neuchâtel, instituto de etnologia.


Au jour le jour, leur préocupation principale se résume à savoir comment gagner les plus d´argent possible en s´assurant un maximum des clients sans se faire prendre par la police (pp.3).

Aujourd´hui, si le chiffre d´affaire le permet, elle envoie chaque semaine de lárgent à su famile (pp.6).

Dans une contexte de compétition, il arrive fréquemment que les prostituées se dénoncent entre elles lorsqu´une illégale ou gagne plus d´argent. Pour elle, je representais une amie qui l´écoutait et la soutenait dans la mesure du possible (pp.8).

Mon objectif est de faire une ethnografie des actions et des discours (pp.9).

Aborder la prostitution dans une perspective culturelle impliquerait d´elargir les champs d´analyse et de prendre en compte le fait que les prostituées sont des personnnes "comme tout le monde" qui vont au magasin, au cinéma, au parc, etc...(pp.10).

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Racismo , xenofobia, homem branco , homem preto





Por vezes tenho uma séria dificuldade em distinguir racismo de xenofobia.
Isto porque acredito que o racismo é algo que ultrapassa a cor da pele e que fundamentalmente terá mais a ver com a cultura e com todo um sistema de valores que a suporta do que propriamente com a raça ou etnia.


Podemos constatar isso no caso dos judeus que embora na sua maioria fenotipicamente caucasianos são discriminados em todo o mundo cristão e islâmico. o mesmo se passa em relação aos próprios árabes ou médio orientais em geral (cuja cor não difere grandemente da dos ocidentais), historicamente menorizados pelos Europeus como nos clarifica Edward Said em "orientalism".


Quanto á questão do racismo em relação ao homem africano tudo se remete mais uma vez para a construção mental de que a cultura africana é mais primitiva e menos sofisticada do que a cultura europeia, ou seja, é mais do que cor de pele , existem concepções de hierarquização, separação (não contaminação) e de não fusão com valores dos quais é "feio" partilhar-se.


Tudo isto tem a ver sobretudo com uma memória histórica relacionada com as descobertas, com a ideia de que o "preto" andava descalço e era selvagem e muitas vezes canibal, não possuía armas de fogo e fundamentalmente muitas tribos subsarianas nem tão pouco tinham “chegado” á revolução do neolítico, algo que os europeus (ou os povos do crescente fértil que lhes antecederam) alcançaram há cerca de 10 000 anos. tudo isto assenta na concepção da historia como um processo linear onde todos os povos e culturas deverão de passar pelas mesmas fases do desenvolvimento e os que ainda não passaram por esta ou aquela etapa estão claramente atrasados face aos que já as experienciaram. de qualquer forma este argumento é tão facialmente rebatível com a simples utilização de uma parábola infantil: o dizermos que um tigre é inferior a uma foca porque ainda não desenvolveu "barbatanas" e não sabe deslocar-se em meio aquático uma vez que antes de estar no mar a foca foi um animal terrestre e que portanto já está mais evoluída do que o tigre... obviamente raciocínios como este não fazem sentido.

No entanto, o certo é que muitas vezes o relativo e o absoluto não falam a mesma língua e que embora em termos relativos possamos pensar a história de uma forma não linear nem tão pouco absolutamente evolucionista a verdade é que em termos absolutos o homem branco conseguiu sobrelevar-se sobre os restantes, construindo para si uma base estatutária quase impossível de derrubar (como podemos ver no cartoon) através da construção de um discurso de hierarquização cultural onde o negro por norma ocupa a base da estrutura e o oriental uma posição intermédia, logo abaixo da do caucasiano ocidental , que protagonizou a "invenção" ou a melhor aplicação das técnicas e tecnologias e que isso faz dele sem duvida uma máquina de guerra e poder sem par.

É bom que não esqueçamos que o próprio caucasiano se hierarquiza internamente sendo o obra prima da criação divina o WASP anglo-saxonico sendo que, logo, e, mais uma vez não podemos falar em raças ou etnias, mas em pequenos traços culturais distintivos que conduziram historicamente a piores ou melhores resultados organizativos das sociedades e consequentemente a vitórias ou derrotas na competição entre os povos. Estas causalidades multidimensionais não podem por motivos históricos ou mesmo de exaustão de variáveis ser averiguadas o que faz com que simplesmente o homem acabe por materializa-las na naturalização da melhor tez mais ou menos escura, na cor dos olhos, do cabelo, mais claro , mais escuro , mais liso ou ondulado , ou na religião professada e que os considere como os verdadeiros responsáveis pela soberania de um povo e naõ de outro.


A "raça" (coloco entre aspas não por não considerar que ela não existe mas porque a comunidade cientifica quer acabar com o termo embora sinceramente acredite que não é com novilingua que se destroem conceitos radicados em valores identitários básicos como este) é fundamentalmente um aglutinador de pessoas sob um ponto em comum, a raça é uma categoria que une abstractamente pessoas, tal como a religião, a nacionalidade, o status social, o nível educacional, a ideologia politica etc... em todas estas categorias existem guerras e disputas por direitos e pelo acesso ao poder


Assim, penso que a única forma de se diminuir os conflitos será talvez uma minimização das diferenças em vez de se acentuarem ainda mais, e muito pessoalmente acredito que isso se faz com integração nacional e não com multiculturalismo (peço desde já as minhas desculpas aqueles que acreditam fielmente nesta ideologia / utopia)


Por outro lado acabamos por encontrar a mesma lógica que encontramos por exemplo face á homossexualidade ( temática que estou a estudar em concreto , mas tal como estas, outras minorias que o valham) ou seja, as pessoas discriminam no abstracto mas no concreto torna-se mais complicado discriminar porque se conhecem as pessoas reais altura em que se torna mais difícil encontrar pontos de divisão ou separação entre pessoas e que mais facilmente se encontram pontos em comum.


Depois penso que poderão existir questões de acumulação de características que aliadas á raça podem exacerbar aparentemente a importância desta. por exemplo quando pensamos em pessoas negras sabemos que elas não são todas iguais, tal como ninguém é igual, e, provavelmente teremos uma impressão diferente de um aluno universitário que tem a pele escura do que temos de um rapaz , igualmente de pele escura que vive no gueto e está inserido em gangs que traficam droga e praticam outro tipo de crimes. a valorização não poderá de forma alguma ser a mesma, no entanto , não existe um termo para designar o individuo branco que também se encontra neste gang. Se uma pessoa discrimina o individuo branco essa discriminação não tem nome, se uma pessoa discrimina o individuo negro essa discriminação tem um nome muito sonante : RACISMO, quando no fundo a critica poder-se-á estar a dirigir-se a outra dimensão do individuo que não a raça, como por exemplo o estilo de vida, as actividades ilicitas , etc...


O conceito de racismo tornou-se assim ele próprio um conceito polémico o qual é importante trabalhar e destrinçar nas suas múltiplas acepções


No entanto há que não esquecer que o racismo não é apenas uma questão unidireccional, pois, sendo a raça um suporte visível para a construção de categorias e posicionamentos em hierarquias temos obviamente também um racismo contra caucasianos que muitos dos críticos tendenciosos se esquecem de mencionar nomeadamente em países africanos que pretendem separar-se da influencia / dominância ou paternalismo dos europeus e que constroem discursos absolutamente racistas e ideologias como a da negritude assente obviamente na Raça. muitos casos na África do sul são bastante representativos como por exemplo o facto de os jogadores de rugby brancos são ameaçados de ver os seus passaportes confiscados caso não sejam seleccionados mais jogadores negros para a selecção nacional, ou o caso que já tem alguns anos onde se discutia a legitimidade da miss Angola ter uma tez "demasiado" clara...


A salientar que nada disto é uma questão racista, mas sim relativista, pensar que o racismo é apenas um comportamento do branco para o preto é considerar a existência de diferenças fundamentais até na própria estrutura de pensamento do individuo negro (mais uma vez inferiorizante)...


sábado, 14 de abril de 2007

O afastamento...pausa?

A minha "epopeia" de afastamento do terreno começou há duas semanas, principiando com o pitoresco episódio da ida à faculdade para ter uma reunião com a orientadora durante as férias. Desde aí...apenas pesquisa de artigos em bibliotecas on-line na net. Queria ter trabalhado mais, não o fiz...no entanto julgo que pode até ter sido positiva esta pausa, propiciando um afastamento talvez necessário e temporário da cultura, onde até certo ponto me tentei inserir. Aproveitei para ler...não temáticas antropológicas, mas sim poesia...aproveitei igualmente para viajar por aí...espairecer as ideias, buscando energias para uma nova fase deste trabalho. Sou um adepto da prática, do empírico, no entanto reconheço que sem teorias o meu projecto redundaria num empreendimento jornalístico...por isso...preparado para a próxima fase? Será esta semana? Mais baseado num relógio biológico, que num de pulso...que não uso...espero que sim! que seja esta semana...

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Cântico Negro

José Régio


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...Se vim ao mundo,foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

domingo, 8 de abril de 2007

Dar e receber no terreno





Na escrita deste post gostaria de trazer de mais uma vez á luz a problemática da nossa dívida para com os nossos informantes.

Como compensar os nossos informantes pelas suas informações e pelo tempo dispendido quando na maioria das vezes essa tão desejada oportunidade não surge e pior... quando é fortemente contrariada pelos mesmos (como julgo já ter referido todos os informantes com quem tive a oportunidade de beber uma cola fizeram questão de ma pagar)?

A resposta pode ser simples... esperar pela oportunidade!

Posso dizer que numa das minhas ultimas entrevistas a oportunidade surgio e tive a possibilidade de "pagar" o tempo do meu informante na mesma moeda de troca, ou seja, tempo (sim porque a sua história de vida é demasiado dispendiosa para a minha parca bolsa... e claro, nenhum antropólogo pode na realidade "pagar"... é uma dádiva a fundo perdido... ou talvez uma semente de esperança que se lança a um futuro melhor e humanamente mais justo).

Mas como ia dizendo a ocasião não poderia ter sido a mais acertada, algo me fez marcar a entrevista para uma altura especialmente problemática da vida do meu interlocutor que me fez sentir que a minha companhia lhe fazia bem, que era importante e que o podia ajudar a falar e reflectir sobre o sucedido... e... assim foi, tornei-me ouvinte para além da temática estritamente combinada da entrevista. Conhecemo-nos ao fim da tarde e só nos despedimos quando a noite e as horas de conversa nos cansaram. Posso concluir que pelo menos em certas ocasiões o nosso tempo e a nossa capacidade de ouvir poderão ser a nossa melhor dádiva.


(Mais uma vez refiro tal como bela lugosis dead no seu comentário ao anterior post que todas estas histórias parecerão vagas pois visam sempre a salvaguarda da identidade dos intervenientes.)


sábado, 7 de abril de 2007

Episódios do terreno

Ora bem, nesta onda pouco técnica e de acesso mais generalizado, predisponho-me neste momento a relatar alguns dos episódios que me têm acontecido, durante este percurso iniciado em Agosto de 2006. E faço-o porque penso que antropologia também é isto, o contacto entre o antropólogo e as pessoas com quem inter-age no sentido de desenvolver algo de cientificamente útil e válido, em que os usos sociais do trabalho científico possam proporcionar a todos uma sociedade mais tolerante, mais informada, menos assustada com maus objectos para onde desloca outras frustrações imanentes ao seu funcionamento, por necessidade de oposição para se poder identificar. Conheci muitas pessoas e nessas interacções fui como que solicitado para entrar naquele mundo (que não me assusta, a questão não é essa), a proposta foi esta: tomar conta de uma casa onde travestis e mulheres se dedicassem à indústria do sexo, bastar-me-ia pagar a renda, cerca de 600€ e recolher de cada uma delas 150€ por semana, assim sendo numa semana teria esse dinheiro realizado. Como é obvio, tal nem se tornou uma fonte de dúvidas ou dilemas éticos para mim, respeito aquelas pessoas, provavelmente mais do que respeito muitos engravatados (acredito que o hábito não faz o monge, nem lhes confere especiais qualidades), no entanto sei que para além de ser uma prova de confiança e de aceitação do antropólogo no meio, não me retira a noção de qual o trabalho que tenho que realizar e de quais os meus objectivos. Um deles já consegui...ultrapassar os meus próprios preconceitos e enriquecer-me no contacto com novas pessoas e diferentes formas de vida.

terça-feira, 3 de abril de 2007

O antropólogo, o projecto...será normal?

Hoje o meu tema será ligeiramente diferente, isso porque um antropólogo é uma pessoa como as outras...ou será que não? Bem...passou-se o seguinte, após dois meses de investigação no Porto, regresso a Lisboa com a marmita intelectual cheia de material e penso...bem...tenho que ir à faculdade falar com a minha orientadora...quando entro na faculdade, realmente apercebo-me que havia pouca gente...muito pouca gente até...apenas os habituais gatos saltitavam de um lado para o outro...mas nada de muito preocupante para o meu objectivo de reunir com a orientadora. Vou buscar o meu cafésito como é habitual, dou uma olhadela pelas salas todas vazias e vá-se lá saber porquê, nem isso me pareceu estranho...até que se fez luz na minha cabeça escura!! Encontrei a secretária do departamento que me falou em algo de muito estranho para mim...férias da páscoa...isso existe??Sim existe...Após todo o meu enorme esforço para conseguir ir à faculdade (já lá não ia desde Janeiro), o pessoal está todo de férias?? Ainda por cima da Páscoa?? Como não me lembrei disso??Será normal não saber que existem férias da Páscoa??
até breve.

Onde estás?












Ainda a propósito das questões de género tentei elaborar um esquema simples que nos permita desconstruir toda uma lógica binária , decididamente proveniente da educação estatisticamente culturalizada em torno da sexualidade humana.

o objectivo não é só mostrar que necessitamos de passar a pensar a realidade humana em geral e a sua identidade e sexualidade em particular como um continuo, onde cada individuo representa o discreto (num conjunto de possibilidades virtualmente infinitas) mas também esclarecer as dimensões nem sempre bem delimitadas pela nossa consciência acerca do sexo e do género onde deveremos de conseguir isolar as dimensões estruturantes que constituem o todo para assim o podermos compreender em vez de mitificar:

Temos assim em termos genéricos três dimensões fundamentais:

 sexo biológico (embora seja a dimensão mais estática em termos de estatística populacional pois a esmagadora maioria dos indivíduos nasce á partida com um sexo biológico definido e exclusivista: Macho ou Fêmea, existem também indivíduos aos quais chamamos interssexuais em quem convergem genitália e mesmo características sexuais secundárias de ambos os sexos)

 A identidade de género - sendo o ser humano um ser bio-socio-cultural possui a capacidade e a necessidade de deter uma identidade individual que lhe permitirá relacionar-se e ser reconhecido pelos demais indivíduos da sociedade. Muitas vezes um individuo que nasce com um sexo biológico exclusivo não se sente detentor de uma identidade bem como das funções sociais atribuídas a esse sexo biológico sentindo-se sim total ou parcialmente identificado com o outro sexo. A este individuo chamamos transgenero. Sendo impossível alterar a identidade de género de um individuo (ou seja, a componente mental e comportamental da sexualidade) algumas pessoas decidem ser incontornável a transição física (fenotípica) para se sentirem plenamente masculinos / femininos (transexuais)enquanto que outros apenas sentem necessidade de que os outros indivíduos da sociedade os reconheçam e tratem como pertencentes ao seu sexo identitário adoptando para isso posturas e indumentaria socialmente reconhecidas ao referido sexo(travestis por exemplo).

 A orientação sexual . É algo que não devemos de confundir com identidade de género porque são dimensões que se intercrusam. A orientação sexual tem a ver com a capacidade que um individuo tem para se sentir atraído por um ou por outro sexo. Estatisticamente os indivíduos do sexo masculino com identidade de género masculina sentem-se atraídos por indivíduos de sexo biológico feminino igualmente com identidade de género feminina. No entanto existem excepções. Indivíduos com sexo biológico masculino e identidade de género masculina podem sentir-se atraídos por indivíduos com identidade e sexo biológico masculino, o mesmo para o caso feminino. Aqui estamos na presença da homossexualidade. A bissexualidade acontece quando os indivíduos se sentem atraídos pelos dois sexos, mas , mais uma vez não tem de ser em termos de divisão pura ou seja, um individuo não tem de se sentir 50% atraído por homens e 50% por mulheres, muitas vezes a atracção é híbrida no sentido de haver características que os bissexuais sentem como atractivas nos homens e outras nas mulheres.


Vemos assim , com base nestas três dimensões a possibilidade de elaborar uma matriz com três eixos que se entrecruzam e possibilitam a localização sexual e identitária de cada um de nós. a tentativa de um modelo de inclusão ao invés do modelo de exclusão boleano que introduz nos indivíduos frustrações, incompreensões e não aceitações de si desnecessárias. O objectivo será então a elaboração de esquemas que permitam a substituição do pensamento simplista e tendencialmente simplificador da complexidade humana de carácter milenar e até hoje tão inabalável que podemos pelo menos questionar-nos se não consistirá nos dias que correm um verdadeiro handycap binarista para a compreensão de lógicas complexas em muitas outras áreas do conhecimento.