sexta-feira, 15 de junho de 2007

Papéis e seus desempenhos - o palco

Num certo momento do trabalho de campo, também em Lisboa, quando estava no computador, sou surpreendido pelo ruído de um aparelho eléctrico que ainda não conhecia, quando olho para trás e na altura posso assegurar-vos que me assustei, verifico que era Karmen rapando os pelos do seu imponente peito de silicone. Este último exemplo demonstra como a partir de certa altura ultrapassei os limites do palco e me foi permitida a entrada nos bastidores:

Não é provavelmente por um simples acaso histórico que a “palavra” pessoa, na sua acepção de origem, designa uma máscara. Trata-se antes do reconhecimento do facto de toda a gente estar sempre e em toda a parte, com maior ou menor consciência, a representar um papel…é nestes papéis que nos conhecemos uns aos outros; é nestes papéis que nos conhecemos a nós próprios (Goffman1993:31-32).

Neste sentido terei acedido aos fundamentos das máscaras, que as tornam as pessoas que efectivamente são, chegamos ao mundo como indivíduos, adquirimos um carácter e transformamo-nos em pessoas (idem:32), naquele preciso momento em que karmen procedeu à remoção de pelos, eu deixei de ser parte da audiência e sem audiência não há palco, nem desempenho de papel consentâneo com determinado estatuto, neste caso o de travesti (ibidem:139).

3 comentários:

Catarina Soutinho disse...

É muito díficil ser-se simplesmente uma pessoa. Temos sempre que ser mais qualqur coisinha!
Obrigada pela visita.

R disse...

Está bem vista essa teoria da palavra e da pessoa.

bela lugosi`s dead (F.JSAL) disse...
Este comentário foi removido pelo autor.