terça-feira, 24 de junho de 2008

Gilberto Freyre

Referência biográfica a Gilberto Freyre, inventor do luso tropicalismo, reaproveitado e reinventado por Adriano Moreira, como o modo português de estar. Nascido em 1900, filho de um juiz de direito e catedrático de economia política, inicia o seu processo escolar no colégio americano Gilreath, encetando aquilo que se poderá apodar de uma educação livresca não tropical, aprende latim, francês e em 1930, quando a revolução derruba o regime, freyre que pertencia aos quadros da república velha, segue para o exílio (Castelo 1999:23), e após passagem por África chega a Portugal. Em 1931 lecciona como professor extraordinário da universidade de Stanford, entretanto havia já desempenhado funções oficiais junto das elites Brasileiras, por exemplo como oficial de gabinete do governador de Pernambuco, Estácio de Albuquerque Coimbra. Em 1933 conclui o livro sobre o qual nos debruçamos (casa branca e senzala) e em 1938 é convidado por Oliveira Salazar para ser membro da Academia Portuguesa de História (http://www.releituras.com/gilbertofreyre_bio.asp). A sua formação é ocidental, adapta conhecimentos da sua formação europeia e norte – americana (Castelo 1999:19).

Estas breves referências, de alguma forma dispersas, tem tão somente como objectivo, não o de retirar mérito à obra de inegável valor de Gilberto Freyre, mas sim o de a contextualizar, de chamar à atenção para o facto de pertencer às elites Brasileiras, porventura mais próximas de uma cultura europeia ou norte americana do que Brasileira, o que viria a culminar em 1938 com o reconhecimento de Oliveira Salazar, do seu mérito intelectual, através do convite que atrás fiz referência. Posteriormente e ainda no período de vigência institucional do estado novo, a doutrina de Gilberto Freyre será aproveitada como um elemento definidor do ser-se português, o modo português de estar no mundo (castelo 1999:13). Na actualidade revela utilidade numa identidade nacional que justifica a defesa da maior aproximação aos povos lusófonos, em nome da língua e da história comuns e de uma suposta sintonia cultural e afectiva (idem:13). Poderá ser afirmado que esta teoria de Freyre, ao ser recebida em Portugal, promoveu uma alteração na política e ideologia coloniais do estado novo (idem:14), quanto a esta dois momentos podem ser observados, um primeiro momento, situado nos anos 30 – 40, em que as teses de Freyre são recebidas com muitas reticências; e um segundo momento, a partir dos anos 50, em que o luso – tropicalismo é incorporado e adaptado pelo discurso oficial do salazarismo (ibidem:69), com respectivos usos políticos, desejando:


(…) extrair da sistemática que vimos esboçando sugestões que se apliquem à administração, à higiene, ao ensino, às indústrias, à medicina, à alimentação, à interpretação e orientação das artes, a métodos de catequese, quer da parte de Portugal, nas suas províncias tropicais, quer da parte do Brasil, nas suas áreas de autocolonização e nas suas relações com Portugal e com o ultramar português (Freyre 1958:14).
Castelo, Cláudia 1999 “O modo Português de Estar no Mundo”: O Luso – Tropicalismo e a Ideologia Colonial Portuguesa, 1933 – 1961, Edições Afrontamento: Porto.
Freyre, Gilberto 2005 Casa – Grande e Senzala, Global Editora: S. Paulo.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Psicologia étnica; Dia de Portugal, das comunidades e Camões; possíveis raízes e mecanismos de reinvenção sucessiva.

Com os anos 50 e após o términus da segunda guerra mundial, aceleram-se os processos globalizantes, nomeadamente o desenvolvimento tecnológico que acentua os fluxos de pessoas e capitais, gerando interdependências, remodelando deste modo os conceitos de fronteiras até então construídos. Da facilidade de contacto entre os povos, surge a necessidade destes, de elaborarem novas fronteiras de carácter acentuadamente simbólico (COHEN,BARTH). É nesta ambiência de choque e contrastes ao nível cultural, que os antropólogos vislumbram um novo objecto de investigação, a construção de uma personalidade colectiva capaz de distinguir os povos dos demais, tentando através da sua análise construir um perfil psicológico colectivo ou psicologia étnica que identifique os sujeitos individualmente considerados, num conceito mais lato, o de nação (ANDERSON). No entanto, a génese desta problemática científica, remonta a finais do séc. XIX, data das primeiras emigrações de Portugal para os Estados Unidos (Baganha) e dos primeiros choques culturais.

Em Portugal, o assunto da psicologia étnica é desenvolvido a partir de 1870/80, sensivelmente no momento crucial do “take off” do projecto Antropológico. É o caso de Teófilo Braga, com uma visão simpática dos Portugueses, descrevendo-os como indivíduos orgulhosos, propensos à aventura, de genio imitativo com contornos de fatalismo. Obras de referência são: “A Pátria Portuguesa. O Território e a Raça” ou “ Cancioneiro Popular Português”. Com uma visão mais negativa, aparecem-nos Rosa Peixoto e Adolfo Coelho, o primeiro devido ao seu gosto pela arquitectura, estabelece paralelismo entre o interior das habitações e a alma Portuguesa, que considera rude, indigente, violenta e nada criativa. Na sua obra “Cruel e Triste Fado”, acentua esta visão negativa , apelidando este tipo de canção e o carácter dos Portugueses, como sendo vadio, imundo, hipócrita e malandro. Adolfo Coelho partilha desta negatividade, sendo que de alguma forma se mostra percursor no caminho para a interdisciplinaridade. Mostra-se atento a factores de ordem degenerativa ao nível da psicologia étnica em “Esboço de um Programa para o Estudo Patológico e Demográfico do Povo Português”, 1890. João Leal aponta dois reparos a esta panorâmica, o facto de considerar as reflexões pouco sistémicas e o do seu resultado não apresentar concenso entre os vários estudiosos da época.

A partir de 1950 com o fim da guerra, o boom da emigração de Portugal para a Europa, o início da guerra colonial que possibilitou maior mobilidade dos Portugueses dentro do seu território, florescimento da interdisciplinaridade e a necessidade de afirmação no plano internacional de diferenças estrategicamente elaboradas com fins políticos (COHEN) ou fronteiras simbólicas potenciadoras de um self ascription or ascription by others(BARTH), surge no panorama Português Jorge Dias, que inaugura uma tendência de cooperação entre antropólogos, no caso Margot Dias ou jorge Galhano, que devido ao clima de enorme fluxo de ideias, pessoas e mercadorias viaja pelos E.U.A. , onde adquire alguma visibilidade internacional e de onde resultam influências no seu trabalho etnográfico do Culturalismo Norte Americano, inspirado por exemplo na obra “A Espada e o Crisanto” de Ruth Bendict, onde é descrito o carácter colectivo dos Japoneses, com atavismos nítidos em “Elementos Fundamentais da Cultura Portuguesa”. Saliente-se a sua preocupação em estabelecer uma caracterização do perfil psicológico étnico dos Portugueses, de onde se reflectem evidentes influências de Orlando Ribeiro. Inaugura novos objectos na etnografia Portuguesa, nomeadamente em contextos Africanos, mais concretamente com os Maconde em Moçambique.
No fundo, o que se procurava através da articulação das estratégias não planeadas ou planeadas do povo Português e a visão sobre elas lançada pelos cientistas, era a invenção de um “do it yourself kit”(Orvar Lofgren) passível de ser transportado por um discurso político, do tipo “banal nationalism”de Billig, para as mais profundas raízes étnico-psicológicas através de um processo de socialização, transmitido mediante massificação cultural e que aglomerasse em torno de símbolos, essa essência "do ser português",transformando-a em algo de “genuinamente” nacional ou seja uma representação com convicção e consenso de realidade generalizada.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Afinal em que consiste a antropologia?

Pois bem, pelo meio das minhas viagens na antroposfera fui dar a um sítio, que em poucas palavras responde à pergunta/s de alguns, que porventura se baralham quando entre referências a pessoas, grupos de pessoas, grupos "sócio-históricos", sociedades, etc..., verificam que aparecem primatas ou até mesmo cadáveres milenares, dos quais só restam os esqueletos e todos ou alguns dos ossos que os compõem...dêem uma olhada, pode ajudar: http://www.zaz.com.br/voltaire/cultura/2002/06/07/001.htm