sexta-feira, 29 de junho de 2007

quinta-feira, 28 de junho de 2007

O religioso

Neste bloco temático vou referenciar aspectos que achei extremamente curiosos na relação estabelecida entre a comunidade travesti e o sobrenatural/religioso. Na verdade, tornou-se claro para mim que a maior parte delas são originárias do nordeste do Brasil, a partir das entrevistas e das muitas conversas que fui mantendo e escutando, no entanto, não querendo estabelecer qualquer nexo de causalidade generalizante, tornou-se um dado empírico recorrentemente fornecido pelas minhas informantes, o facto de serem oriundas de famílias evangélicas, extremamente tradicionalistas e conservadoras. Logo o deus Jeová é frequentemente referido e solicitado no seu dia a dia. Um pouco na senda do fenómeno social total de Marcel Mausse, o exemplo que a seguir ilustrarei, demonstra como a condição de género não é autónoma, relacionando-se com uma multiplicidade de outros factos sociais, nomeadamente com o aspecto religioso. Na entrevista com Paula, a dada altura verifiquei que na sua oralidade ela assumia o género masculino quando falava em deus, o deus cristão, embora assimilado através de uma das suas seitas em ascensão no Brasil. Reparando nisso, não resisti a colocar-lhe a questão relativa a essa postura, a sua resposta demonstrou mais uma vez que a questão do género pode ser variável, consoante o papel que se desempenhe, neste caso a travesti devota, perante deus assumia-se como homem, porque de outra forma seria pecado.
Deste modo, o deus cristão, aparece muito nos seus discursos, sendo inclusivamente invocado em situações que elas próprias consideram pecado a seus olhos, o que nos transportaria para a ambivalência e plasticidade dos discursos religiosos. Por outro lado temos as práticas relacionadas com o Umbanda e com o Camdumblé;

This gendered inversion is usually tied to other instances of inversion, such as man dressing up in female clothes during carnival, the male homosexual component in the afro – brazilian religion candomblé, and the androgynous personae of several of brazil`s most famous singers and songwriters(Kulick1998:9).
(…) porque o homossexualismo, é muito ligado a esse tipo de coisa, entende, ao candomblé, a santa Iria, tudo isso, mas o caso, eu não sou uma pessoa que esteja ligada demais a isso, eu creio, só que a própria bíblia fala que existe mais coisas entre os céus e a terra do que a vossa boa filosofia possa entender (Entrevista a Paula:35).

Era recorrente verificar a existência de telefonemas para o Brasil, com o intuito de resolver imbróglios amorosos ou questões relacionadas com mau axé* na actividade.
Atenção que tudo o que aqui está deve ser contextualizado com o grupo em questão, aquelas que observei, entrevistei e com quem troquei ideias.

flexi-segurança

Flexi-segurança...a partir de hoje quem não souber o que isto significa, é analfabruto. Novo código do trabalho. Quem sabe a solução para os problemas de patrões com imensos empregados a recibos verdes, mas que no entanto proclamam a necessidade de maior flexibilidade nos despedimentos, o que surpreendentemente e paralelamente irá proporcionar uma maior segurança ao pessoal que trabalha???? Tenho a certeza que durante o verão, muitos serão aqueles que nas esplanadas estivais, irão debitar a sua cultura em lata através deste termo (com gestos largos de mãos, pequenos toques na barba bem aparada, etc...)...flexi-segurança...

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Esqueci-me

AHHHHH!!!! esqueci-me de dizer...a ADRIANA É UMA BACANA!!l Lá estou eu a ser pop novamente...no entanto...algo deve ser dito, o grande defeito da minha informante é não curtir rock mesmo e ter um cão miniatura daqueles que nunca sabemos onde estão, até o ouvirmos ganir.
Desculpem o desabafo...mas andava com uma vontade de dizer isto que nem vos passa...acho que ando a deixar a televisão ligada quando está a passar a novela vingança na sic...só pode...tanta agressividade...

Género

they are regularly the victims of violent police brutality and random assassinations (Kulick1998:7).
On the contrary, the cruelty with which many families treat their sons and siblings who become travesti is chilling. Pastinha told me that her deceased mother, whom Pastinha worshipped, was a fundamentalist protestant who never accepted Pastinha´s transformation into a travesty. She happily accepted he money that Pastinha sent or brought with her on her occasional brief visits to her childhood home (Kulick1998:179) (…)it appears that despite their initial rejection, the families (especially the mothers) of most travestis eventually come to accept them, and even welcome them back into their homes when they arrive on shorts visits (…) most are aware that their families accept them as long as they can provide them with financial support (Kulick1998:181).
dans un contexte de compétition, il arrive fréquemment que les prostituées se dénoncent entre elles lorsqu`une illégale ou gagne plus d`argent (Loise2006:8).
Perhaps the distrust that travesties so widely feel for one another, and the practices that reinforce and perpetuate the distrust – the gossip, the violence, the robberies, the betrayals, the conscious seduction of other´s boyfriends…(Kulic1998:43).
(…) as que são travestis elas optam pela transformação, querem corpo de mulher, querem ter aparência feminina…recorrem a cirurgias, menos à mutilação, menos em se transformarem em totalmente mulheres…estão felizes com o sexo que têm, agora as transsexuais não, as transsexuais são aquelas que nem querem recorrer a uma cirurgia porque têm na cabeça que são mulheres mesmo e que terem nascido com um pénis foi um erro e mandam operar, algumas fazem cirurgias, outras ficam-se pelas hormonas…(entrevista Adriana:22).
Whenever the topic of transsexualism arises in travesty conversations, the general reaction is incomprehension. No one can understand the point (…) amputating one´s penis will only make one unable to experience any sexual pleasure ever again. (Kulick1998:85).

Le fait que les bichas soient pour la plupart contre une opération génitale et expriment un dégoût aigu pour les vagins, montre que malgré leur désir à devenir “comme une femme, elles ne rejettent pás entièrement leur masculinité (loise2006:19).


(…) não, de forma alguma, é uma coisa que nunca me passou pela cabeça, foi eu ser mulher, porque eu acho, que por mais que se tente, por mais que se faça, até mesmo se eu fizesse uma cirurgia, e retirasse o pénis e fizesse aquela coisa toda… que tem muitas que fazem, ainda assim, eu não seria mulher, porque eu acho que mulher, a palavra mulher (…) só tem um significado, poder gerar uma vida, entende, poder ter… é o dom, de você poder carregar uma vida, e é uma coisa que por mais …(Entrevista a Paula:10).

Not only do sex change operations not produce women, and not only do they rob one of all possibility of experiencing sexual pleasure, travesties believe, but they also result in insanity (Kulick1998:86).

Marcos Benedetti, além de reforçar que as travestis possuem um gênero próprio, já que elas querem se sentir mulher, mas não ser mulher, defende que elas ocupam um espaço peculiar - da ambiguidade (Tussi2006).

As transsexuais são em número muito escasso em Portugal, pelo que me foi dado a conhecer, tão escasso, que por exemplo uma mulher em casa de Armando, se apresentava no anúncio como uma travesti operada, ou seja transsexual, isto para se tornar apelativa pela raridade da sua oferta. Adriana e as colegas que conheci eram e são travestis, le pénis est l`élement central de leur travail (idem:19) sendo necessário para a ejaculação, permitindo a libertação do sémen, que de outra forma ficará retido no corpo até chegar ao cérebro (Kulick1998:86, Lidz & Lidz1989).Existe esta ideia subliminar de que o sémen precisa sair e que tal não acontecerá, se, se proceder à amputação.

Na convivência nos tornamos mais sensíveis a outras pessoas, a situações de outras pessoas, ou seja, isso nos torna com certeza mais femininas, do que no caso, o homem em si, entende? Mas há também os momentos em que a masculinidade aflora, como às vezes, há necessidade sexual, entende? No caso há também, se precisarmos utilizar a força masculina, entende? São situações que contradizem tudo…(Entrevista a Paula:34).

As travestis, além dessas intervenções e da apreensão de uma série de técnicas corporais que as distancia dos padrões masculinos, buscam agir, em muitos momentos, segundo prescrições de comportamentos instituídos como femininos, sem esquecerem em contextos específicos, que dentro delas “mora um rapaz”, expressão habitual no meio (Pelúcio2006:525).

A partir dessa visão, esperam que os homens de verdade sejam másculos, activos, empreendedores, penetradores (Pelúcio2006:526), a man is someone who will always assume the penetrative role (Kulick1998:124). Tal é também constatado no caso do trabalho de Loise, a questão da masculinidade ou falta dela, por parte do cliente, remete para o ser activo ou passivo na relação (Kulic1998:165, Loise2006:20).

Il montre qu`au – dela de l`influence dês facteurs historiques et culturels dans la construction de la sexualité, le genne n`est pás une entité fixe, mais se faconne continuellement en function du contextee dans lequel il évolue. Dans le cadre de leur travail, les bichas sont amenées à renégocier une identité sexuelle en accord avec les attentes des clients (Loise2006:67).

(…) mentalmente, psicologicamente, porque a coisa é assim, nós estamos no…no…no…como eu posso te dizer? No limiar, no limite, entre um e outro, porque é assim, eu, no caso, eu já me considero mais para a parte feminina, do que para a parte masculina (Entrevista a Adriana:34).

(…) está claro quem é a mulher e quem é o homem, uma vez que dentro do sistema simbólico próprio dos travestis, as relações com o mesmo sexo só podem ser entendidas/experimentadas se masculino e feminino estão presentes em um casal. Assim o género transgride o sexo, impondo-se como construção/adequação ao que seria natural e por isso visto como correcto (Pelúcio2006:524).

(…) eu estou dentro da minha casa, faço o que tenho que fazer dentro da minha casa, bem…o que eu faço? Eu vendo o meu corpo…trabalho com isso, dá dinheiro e eu gosto, quer dizer…uni o útil ao agradável (…) (Entrevista a Adriana:18).

Travesti prostitution is thus not only a source of income but also, as Erica emphasizes, a source of pleasurable and reaffirming experiencies (Kulick1998:136).


terça-feira, 26 de junho de 2007

Ideias

Parece-me evidente que o fenómeno da prostituição travesti, se inclui num outro a que se convencionou designar globalização, onde os fluxos de pessoas, ideias, imagens, capitais, informação, se processam a um ritmo nunca antes verificado, propiciando o encontro de culturas e sub - culturas. Salienta-se no meio travesti, a importância da Internet, não só como forma de publicidade e anúncio, mas como componente de uma comunicação com familiares, amigas, amigos, clientes, etc. A globalização assim entendida, como compressão de duas das categorias fundamentais da organização humana, espaço e tempo (Harvey:1989) ou como processo de intensificação brutal de fluxos de capitais mercadorias, ideias, cultura e pessoas à escala mundial e das relações, articulações e dependências que se geram por seu intermédio entre indivíduos e sociedades (Giddens1990, 2000), mostra-se também presente neste caso, não só pelas dinâmicas migratórias por si potenciadas, mas por tudo o que os indivíduos transportam ao iniciá-las, a sua cultura, os seus saberes, a sua imagem, etc.

Os indivíduos observados, quer na minha pesquisa, quer noutras que vão estando presentes ao longo do texto, apresentam uma dinâmica de grande mobilidade geográfica, que é acompanhada por remessas pecuniárias periodicamente enviadas para o país de origem. Aliás, parece dar-se o caso da sua identidade de género ser familiarmente aceite, a partir do momento em que ela se revela uma fonte de rendimento suplementar para a família:


Money is thus a central reason why travestis prostitute themselves. They need to earn more money partly to be able to eat and pay their rent, but also to maintain affective relationships with their boyfriends and family (Kulick1998:182).

Por outro lado;

Grosso modo, travestis são indivíduos biologicamente masculinos que, através da utilização de um complexo sistema de” techniques du corps” (Mauss1996), moldam seus corpos com características ideologicamente ligadas ao feminino (Pelúcio2005:1).

Esta identidade de género é mais volátil e ambígua ou se preferirmos estratégica, que a identidade de sexo, o que faz com que eu sustente um raciocínio ligeiramente diferente do que se verifica com as minhas informantes, estas afirmam que não se trata de uma opção, que é algo que está nelas, que nasce com elas. Pois bem, esta ambiguidade na construção de discursos de género, relativamente à mulher, ao cliente, ao “marido”, faz-me crer que existe aqui muito de cultural, por outras palavras uma intima conexão entre natureza e cultura, um aprender ou reaprender de um outro ethos de grupo, o feminino, que consoante as situações se evidencia ou se vai dissipando em maior ou menor grau. A não coincidência exacta entre sexo e género, não se verifica apenas nos travestis;

Nos Inuit, mais conhecidos pelo nome de esquimós (…) a criança que vem ao mundo tem um sexo aparente, mas o sexo não é necessariamente considerado o seu sexo real, com efeito, o sexo real é fornecido pela identidade pela alma-nome, isto é, o sexo do antepassado cuja alma-nome penetrou tal mulher, se instalou na matriz para nascer de novo (Hérritier1996: 191).

Tal demonstra que a partir da questão da observação e classificação das diferenças de sexo, se ergue um vasto “mundo” de construções simbólicas onde se incluem as de género, assim, parece que para as travestis, sê-lo não é uma questão de opção, sem o referirem objectivamente, partilham duma abordagem mais biológica do que cultural. A minha perspectiva é mista, natureza e cultura influenciando-se reciprocamente, em que a fase infantil de aculturação me parece ser de extrema relevância (Whiting & Child1973, Mead1988).

De qualquer forma, sendo como que uma terceira via em permanente estado de liminaridade, ela assenta nos modelos de masculinidade e feminilidade do sexo biológico e das construções culturais realizadas a partir da constatação base dessa diferença. A penetração ou o ser penetrado, os gestos, a aparência, os papéis na cama e na sociedade, a maior plasticidade de comportamentos, geram uma espécie de terceiro género, nem homem, nem mulher, mas sim um sincretismo identitário de ambos;

Out of this trinity of gendered types, it would be possible to construct the argument that travestis operate within, and indeed themselves embody, a system in which there are three genders – men, women and travestis (Kulick1998:226).

Moreover, identity has come to supply something of an anchor amidst the turbulent waters of the - industrialization and the large - scale patterns of planetary reconstruction that are hesitantly named “globalization” and “late modernity” (Woodward 1997:312).

No fundo esta plasticidade identitária, traduz a necessidade de sobreviver em condições adversas, numa aparente não existência ou reconhecimento social deste terceiro género, numa comunidade à escala planetária em permanente convulsão.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Bairros do presente! nações do futuro?

O bairro onde eu moro é um bairro calmo, gigante mas calmo.
O bairro onde eu moro não tem ciganos nem chineses mas tem brancos morenos, brancos loiros, pretos e mulatos.
O bairro onde eu moro tem escolas onde estudam meninos brancos morenos, brancos loiros, pretos e mulatos
O bairro onde eu moro não tem vivendas nem barracas, tem apartamentos em predios com muitos andares. É um bairro da classe trabalhadora, sei-o pelo tipo de automoveis estacionados e porque o rendimento minimo não chega para pagar as rendas, e quem ganha mais nos negócios mais lucrativos compra casa noutro lado.
No bairro onde eu moro não há espaço para grandes festas nem grandes "barulheiras", as pessoas levantam-se cedo no dia seguinte e á meia noite a maioria já dorme. As pessoas do meu bairro têm calendários e horários diários semelhantes.
No bairro onde eu moro há pouca criminalidade ( pressuponho que haja.. já o dizia Durkheim.. mas ainda não a presenceei ... ah, sim, já vi grafitis) , as diferenças nas posses dos individuis são (pelo menos aparentemente) tão ténues que ninguém tem interesse em roubar ou destruir o património alheio , para além disso, todos têm algo a perder se investirem em semelhante actividade.. sim, aqui todas as pessoas pagam renda e condomínio, pressuponho que seja por isso que não se partem vidros propositadamente e que não cospurcam quer os espaços publicos quer os pri e semi-privados como as entradas dos prédios.

O bairro onde eu moro constitui um modelo de coexistencia que é o reflexo da convivencia e homogeneidade de classes e modos de vida publicos mais do que da heterogeneidade de raças , culturas e religiões na esfera privada. Neste bairro de modos de fazer cosmopolitas, citadinos e europeus fala-se português, usa-se o euro como moeda de troca e conduz-se pela direita , ao mesmo tempo que se come Muamba de Galinha, borchtch e bacalhau e se é católico, ortodoxo evangélico, animista ou cientista.

Neste bairro a convivencia é possivel pela homogeneidade comportamental e de respeito na esfera publica , e agradável porque permite antever uma possibilidade futura para a convivencia dos povos.

Manifesto Comunista em Cartoon

Antropologos em segundo plano


















Hoje de manhã assisti ao programa Opinião Publica na sic notícias. O tema em debate eram os ciganos e a escolarização, na sequencia de o dia nacional do Cigano.

O programa em questão tem linhas de participação para a intervenção dos telespectadores e contou com várias participações. Pressuponho que grande parte da audiencia pudesse "lucrar" em compreender melhor as realidades de integração e exclusão dos ciganos em portugal. no entanto, o programa embora bem intencionado acabou por se revelar pouco relevante para o acrescentar de algo á temática.

Em estudio, dois intervenientes, um representante da comunidade Cigana e um outro senhora (do qual não me apercebi do estatuto ou da especialidade).
Notei no entanto a evidente falta de um antropologo. Mais uma vez a antropologia não é chamada para os temas mais polémicos referentes á identidade, ás etnias e diferentes comunidades entre as quais têm establecido pontes ao longo da história.

post-modernidade

L`objetif de ce travail n´est pas de donner des responses à ce qui est souvent considere comme un “probléme sociale”mais d`offrir un example sur la manière d`aborder la l´industrie du sex sous nouveaux angles d´analyse, sns tomber dans le moralism ou le misérabilisme (Loise2006:10).

Nunca foi esta perspectiva que senti ou que me passaram, antes pelo contrário, encontrei pessoas conscientes das escolhas realizadas e dispostas a arcar com as consequências, sem no entanto querer voltar atrás. Julgo que de alguma forma os travestis e transsexuais são um exemplo acabado de post-modernidade:

in traditional societies, the past is hounored and symbols are valued because they contain and perpetuate the experience of generations (…) Modernity, by contrast, is not only defined as the experience of living with rapid, extensive and continuous change, but it is a highly reflexive form of life in which social practices are contantly examined and reformed in the light of incoming information about those very practices, thus constitutively altering their character (Guiddens 1990 in Hall at al [1992]1996: 277).

Elas constituem um ícone de rotura com um passado próximo, moremente em Portugal, onde a transição da pré-modernidade para a post-modernidade se processou sem um experimentar pleno da modernidade, são um exemplo de mudança de comportamentos e um objecto emissor e receptor de consciência reflexiva o que, na maior parte dos casos choca com o pseudo pluralismo estadual, como forma de organização política e social:

(…) a state or condition of society in which members of diverse ethnic, racial, religious, or social groups mantain an autonomous participation in and development of their traditional culture or special interest within the confines of a common civilization (Conner1994:106).

Neste caso de grupos de indivíduos que possuem instituições que os acomodam, mas que rapidamente entram em conflito com os “ilegítimos” das instituições políticas e sociais.

sábado, 23 de junho de 2007

Cebolinha e Cascão em Mitos e Lendas

Mobilidade, transnacionalidade

Quando Adriana se mudou para o apartamento de Telma, esta viajou para o P.... ficando na casa daquela. Em Lisboa conheci Paula, que veio de Coimbra para trabalhar com Adriana, cerca de um mês depois viajou para Espanha, desde então nada mais soube dela. Luciana que estava em casa de Adriana quando pela primeira vez cheguei ao P.... com o intuito de começar as observações, viajou para a Alemanha. Orlanda neste período de tempo já alternou entre Porto e Lisboa umas três vezes, esteve igualmente em Coimbra e Leiria, estando neste momento em Espanha pela segunda vez e desde há já algum tempo. Taíz, uma travesti morena, com uma profunda cicatriz de um corte provocado por faca no pescoço, que conheci igualmente em casa de Adriana quando estava acompanhada por um Francês com quem se juntou em Barcelona, partiu pouco depois para o Brasil com ele, devido a carta de expulsão. Neste momento ainda lá está, extorquindo dinheiro a outras na rua (Em Maio regressa a Portugal, em Junho de 2007 está em Barcelona novamente). Ele é um programador e criador de vírus para Internet, que dizia chegar a ganhar cerca de 3000€ por dia. Não a conseguiu acompanhar e saiu do Brasil. Mortinha, uma das travestis que também conheci e que estava a trabalhar em casa de Armando, partiu em Março para a Suiça, onde Loise realizou as suas observações (Em Maio já está em Portugal). EKarini, a travesti portuguesa, que falava com sotaque brasileiro (no desempenho do seu papel [Goffman1993:29-31]) ser travesti e prostituta era ser brasileira, atraía mais clientes), saiu do Porto para Espanha sensivelmente em Outubro com o intuito de lá ganhar dinheiro para fazer um implante de peito, neste momento encontra-se em Lisboa. Transnationalism is a process by which migrants, through their daily life activities and social, economic, and political relations, create social fields that cross national boundaries (Portes:22). Pour toutes sortes de raisons législatives e sociales – dues entre outres aux politiques répressives de la police et des agents de l`immigration partout en Europe – les prostituées ont tendance à se déplacer constantment de ville en ville et de pays en pays (Loise2006:54).

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Mobilidade, transnacionalidade

Como se pode verificar estamos perante situações de grande mobilidade, ligadas certamente a um processo de globalização e a uma capacidade financeira acima da média na maior parte dos casos. Veja-se que para Adriana, um mau dia de trabalho corresponde a três clientes, tal significa por sua vez um valor na ordem dos 150€. Cheguei a constatar que num dia atendeu 12 clientes, façam-se as contas.

The globalization of production and consuption, or the heightened mobility of people, goods, ideas and capital, also creates transnational communities and generates a demand for the skills and out-looks these communities offer (Levit2001:22).

Tal reflecte igualmente uma certa ambivalência nas relações entre colegas travestis, malgré le contexte de compétition propre au milieu, les marques de solidarité font aussi partie des relations entre postituées (Loise2006:56). Na verdade, quando se deslocam em território português, fazem-no para apartamentos de colegas, já em Espanha a situação mostra-se ligeiramente diferente, visto que funciona com o que chamam de pisos, andares em que existe alguém que fica com 50% dos ganhos auferidos pelas prostitutas travesti. No entanto, algo se mantém mesmo nesta situação, quem as chama e convence a ir para Espanha ou outro país, são geralmente amigas, apesar da rivalidade visível nas suas relações.

Neste panorama de mobilidade, tal como Loise afirma, de fait, je n`ai durant mon terrain, jamais eu la sensation de me trouver eu face de personnes totalement victims ou dépourvues de ressources face à l`adversité et ceci malgré des conditions de travail souvent três pénibles (Idem:39).

(…) eu estou dentro da minha casa, faço o que tenho que fazer dentro da minha casa, bem…o que eu faço? Eu vendo o meu corpo…trabalho com isso, dá dinheiro e eu gosto, quer dizer…uni o útil ao agradável (…) (Entrevista a Adriana:18).

Esta mobilidade, inserida em processos migratórios não se inicia na Europa, começa desde logo no Brasil:

La parcours de Cynthia ilustre bien ce processus migratoire (…) elle entreprit alors une première migration à S. Paulo (…) c`est allors qu`elle rencontra des personnes qui lui proposèrent l`aider à réaliser le voyager jusqu`en europe (Loise2006:40).

Quando cheguei em S.Paulo, depois de fugir de casa de carona, fazer sete programas no caminho; procurar casa de cafetina (…) quando eu cheguei em frente ao prédio dela, eu olhei para o céu e pensei: “Pronto, agora eu sou dona do meu nariz! Agora eu sou adulta! (Pelúcio2006:527).
A vinda para a Europa parte de conversas com amigas, que lhes propõem ajuda financeira, que será mais ou menos onerosa consoante o grau de amizade e até o poder negocial de quem necessita do dinheiro. Adriana depois de estar em Portugal, acabou por “ajudar” outras na situação em que há uns anos atrás, ela se encontrava e é taxativamente assim que vêem o trazer alguém para a Europa, como uma ajuda, Cynthia (…) de plus, dans sa vision des choses, elle souhaitait le faire “para ajudar” (pour aider) une autre personne, pour lui faciliter les choses comme elle l`avait fait pour sa cousine Alexa, arrivée en Suisse à moindre frais qu`elle – même (Loise2006:37). Nem todos os casos são tão justos quanto estes parecem ser, por exemplo Paula, a travesti que conheci em Lisboa que trabalhava no mesmo apartamento que Adriana ficou a dever bem mais do que aquilo que efectivamente tinha pago para vir para Portugal, vim devendo 8000€ (Entrevista a Paula:11).

Episódios de terreno

Nesta linha de pensamento, vou igualmente referenciar Armando, tem 60 anos e é taxista, é o homem de serviço para as deslocações de Adriana e muitas outras travestis. Conheci-o no dia 26 de Outubro de 2006, ele chegou pelas 22 horas, sentou-se e começou a falar, duma casa que tem na M..., onde tem umas “bichas” a ganhar dinheiro. Sujeito baixo, anafado e careca. Primeiramente fala apenas com Adriana, passados uns 10 minutos dirige-se a mim puxando conversa:

Armando - Sabe eu sou médico, mas gosto disto de ser taxista - acenei com a cabeça, afirmativamente – sabe eu quando fui para o Brasil, tinha comprado o hotel da B...... por meio milhão de contos, só que passei uma procuração a uma mulher e ela ficou-me com tudo o que tinha – novamente aceno a cabeça – quando regressei do Brasil, não tinha nada, um mês depois de regressar arranjei trabalho numa imobiliária e passado um mês tinha ganho 35.000 contos.
Eu – Pois…tem que ser.
Armando – Bem, vou embora, já estou para aqui a falar há muito tempo (Diário de campo:6).

Um sujeito bastante cómico, viria a verificar mais tarde que uma boa pessoa. Parece ser um pouco terra à terra, mas é extremamente educado e por diversas vezes se tornou o meu motorista na cidade do P..... Nessas voltas pela cidade, contou-me histórias hilariantes:

Armando - Sabe, Sr.º L..., eu ando sempre com um canivete no assento do carro. Uma vez ouvi pelo rádio táxis que havia um fulano que andava a assaltar taxistas, ouvi a sua descrição fisionómica e tudo. Não é que mais tarde o apanho?? Eu sabia o que ele queria, mas fiz de conta que estava tudo bem…quando cheguei ao local de destino…ele pede-me todo o dinheiro. Fiz de conta que ia tirar o dinheiro do bolso, do lado onde guardo o chino e quando trago de lá a mão espeto-lhe o chino no peito - Eu ria por dentro com aquela história, era uma cena digna de um filme de Hollywood – ele abre a porta do carro…dá três passos e cai.
Eu - Então…e foi-se embora e deixou-o lá?
Armando - Claro.
Eu - Nunca mais ouviu falar nele?
Armando - Não.
(Diário de campo:33-33).

Armando tem efectivamente alguma tendência para o exagero, no entanto possui na realidade uma casa, primeiramente situada na M..., posteriormente perto das A...., onde tem três ou quatro travestis e às vezes mulheres.

Sou bué da pop

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Hierarquias, animalidades latentes

Como se sabe também as sociedades estão organizadas hierarquicamente e a hierarquia faz-se, entre outras formas, através da vinculação pelo medo e consequente Instinto de procura de protecção (Eibl-Eibesfeldt 1998:145), paga os teus impostos e nada terás a temer, sendo que a formulação de qualquer imperativo pressupõe a convicção de superioridade por parte do emissor (coacção legal por exemplo) e de submissão por parte do receptor.

A formação de uma hierarquia pressupõe duas disposições que não encontramos nas espécies animais que vivem solitariamente. Os animais devem, em primeiro lugar, mostrar ambição pelo posto hierárquico e, em segundo lugar, também a disposição de se subordinarem quando não conseguirem atingir os postos mais elevados. Também se pode comprovar nos seres humanos a existência destes dois tipos de disposições ( Eibl-Eibesfeldt 1998:111).


Embora as formas de gerir as hierarquias não sejam universais, por exemplo os Balinesis:


an individual may lose his menbership in the hierarchy for various acts, but his place in it cannot be altered. Should he later return to orthodoxy and be accepted back, he will return to his original position in relation to the other menbers (Bateson 2000: 114-115).


Tais processos devem ser sempre relacionados com o contexto ecológico e cultural onde se inserem:


The Balinese, especially in the food, are not hungry or poverty-striken. They are wastefull of food, and a very considerable part of their activitie goes into entirely nonproductive activities of an artistic or ritual nature in which food and wealth are lavisly expended (Idem: 116).


Parece-me plausível sustentar a hipótese de que quem menos necessidade tem de competir por recursos que lhe permitam a sobrevivência, simplesmente porque eles existem em abundância, mais tempo terá para actividades não agonísticas (arte, poesia, brincadeira). Por exemplo os Balineses resolvem as disputas recorrendo à música.


Já noutros contextos e reportando-nos às sociedades “modernas”, existe uma ameaça de agressão que paira e a sua aniquilação reside no sentimento reconfortante do cumprimento de imposições exteriores ao indivíduo e decorrentes da sua vertente social. Não cobiçar a mulher do próximo, princípio ético-religioso que desde logo ameaça o prevaricador. São exemplos de normas éticas omnipresentes que condicionam a vida do homem, mas, como na vida nada é linear, tudo isto e muito mais se pode fazer desde que não se saiba e isto já é cultura. Cultura é sofisticação e sofisticar é adornar. Neste caso adorna-se por exemplo a ânsia de alcançar os bens materiais e espirituais que supostamente nos fornecem a realização, são preceitos que legitimam hierarquias que evitam as disputas agressivas permanentes, pela mulher do outro, pela defesa da honra da esposa ou namorada ou pela posse dos bens pragmáticos que nos dão estatuto social. Em última análise legitimam-se as classes sociais que só existem em função dos seus privilégios ou ausência deles.

O frango A passa a ter direitos prioritários sobre a comida, sobre o lugar preferido de dormida e pode picar um frango hierarquicamente inferior quando nas disputas iniciais venceu o frango “B”, “C” e “D” (Eibl-Eibesfeldt 1998:109). (os galos e galinhas do mundo)

No ser humano a força física é na actualidade tendencialmente substituída pela astúcia e pela sofisticação que permite por exemplo, dominar as subtilezas da lei num processo de divórcio, de expropriação por utilidade pública ou ainda mais grave, mas menos subtil, quando se manipulam resoluções das Nações Unidas para lutar pelos melhores poços de petróleo. No fundo a agressividade é a forma de gerir a sociabilidade e a sociabilidade o meio de regulamentar a agressividade no acesso aos bens, embora por vezes tal não suceda e a sociabilidade desapareça por completo e com ela a agressividade, surgindo então a nefasta e insensível violência, adornada por sofisticados discursos políticos, orientados por altos valores morais e religiosos que a justificam.

Uma clarificação conceptual torna-se agora necessária, quando se usa o termo agressividade pretendem-se significar os actos ritualizados realizados com o objectivo de evitar perdas e danos, tendo paralelamente a função de hierarquizar (os Zunis têm rituais de iniciação bastante cruéis que mostram a banalidade da agressividade no seu dia a dia [Eibl-Eibesfeldt 1998:96]) e violência quando se pretende provocar perdas e danos nos conspecíficos, nos animais superiores (1), a propensão para fazer asneiras está, infelizmente! , na razão directa do seu desenvolvimento intelectual (Lorenz 1983:17).
Para que os gestos de submissão, que têm por objectivo apaziguar, tenham efeito é necessário que a pessoa atacada tenha tempo suficiente para os emitir e o faça de modo a que o seu adversário os possa apreender. Estas condições deixam de se verificar quando os homens se atacam com armas. A invenção da primeira arma pré-histórica, a moca cuneiforme, permitiu ao homem pôr fora de combate o seu adversário com uma única pancada, roubando-lhe assim, de antemão, qualquer possibilidade de ele mostrar a sua sujeição (Eibl-Eibesfeldt 1998:123).
Neste Post, apenas pretendo sustentar a hipótese de que o aparecimento da arma e seu posterior desenvolvimento tecnológico, alterou os padrões bio-socio-culturais da submissão, com reflexos directos no âmbito da violência e agressividade. É apenas uma ideia.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Animalidades latentes, culturalmente sofisticadas

Bateson ao trabalhar com os Iatmul conclui que a superação das situações de conflito se alcançam pela submissão de uma das partes e que existe uma agressividade que se expressa na realização de rituais que celebram a violência contra estranhos, de alguma forma condizente com o que Konrad Lorenz afirmara de que o homem tem um impulso natural de agressividade para com os seus conspecíficos, só que como se verifica com os Iatmul, esse “instinto” é inibido para com os conhecidos (o grupo), através da submissão e efusivamente festejado quando direccionado para o exterior da comunidade:

Major achievements which, though greeted with more elaborate NAVEN upon their first performance, are also received with some show of naven behaviour every time they occur. Of these the most important is homicide. The first time a boy kills an enemy or a foreigner or some bought victims is made the occasion for the most complete naven, involving the gratest number of relatives and the greatest variety of ritual incidents (Bateson 1938:7).

Como se constata, o ritual será mais efusivo quanto mais agressivo e exteriormente canalizado for o acto de violência:

In our society, fissions tends to be heretical (a following after other doctrines or mores), but in Iatmul, fission is rather schismatic (a following after other leaders without change of dogma) (Bateson 2000:78).

Os rituais mais complexos são dramatizados para celebrar assassinatos.

No entanto, para as outras espécies, a ritualização destina-se a poupar vidas no interior do grupo (machos que competem pelas fêmeas através de atributos fanéricos, evitando o confronto). Relativamente à espécie humana a grande questão é a de que com a globalização económica, política, cultural entre muitas outras componentes, globaliza-se também a guerra e o modo de fazer guerra. Na actualidade são poucos os casos em que os oponentes beligerantes se encontram cara a cara, se assim fosse o perigo de auto-destruição da espécie poderia ser menor e o ciclo schismogenico contrariado por elementos de controlo (Bateson 1973).

Na primeira guerra mundial os soldados entrincheirados da frente ocidental estavam tão próximos uns dos outros que após tantos meses de calma na frente os Franceses e os Alemães não puderam evitar a descoberta de características humanas no adversário, e o simples reconhecimento de que do outro lado da trincheira também passavam fome e sofriam igualmente com a miséria do dia a dia foi suficiente para “desmoralizar” as tropas. Quando se atingia o ponto em que os soldados já trocavam cigarros era altura dos generais substituírem as tropas (Eibl-Eibesfeldt 1998:125).

Como se verifica a proximidade ou distanciamento físico, ligado à tecnologia de matar pode fazer a diferença quanto ao desenlace mais ou menos nefasto de acontecimentos potencialmente violentos e isto porque o homem quando mata ou quando poupa uma vida fá-lo simbolicamente, ele tem a capacidade de demonizar o oponente, de lhe atribuir denotativamente valores que lhe justifiquem o acto. Mais uma vez a proximidade física entre oponentes, pode obstar a essa função espontânea ou manipulada de subjectivar negativamente o “inimigo”, através da comunicação mímica que expressa o medo e a submissão.

Outro caso que exemplifica as alterações de índole social que a forma de matar pode operar numa comunidade está patente no estudo de Gewertz e Errington sobre os Chambri, a que Margaret Mead havia chamado de Tchambuli em trabalho precedente sobre o mesmo universo de estudo (Errington &Gewertz 1991).Verifica-se que o sistema tribal de compensações pele morte de estranhos ao grupo funcionava, permitindo uma coexistência mais ou menos pacífica entre os povos da região. Em 1905 com a introdução da shotgun pelos Alemães e consequente desmoronar do sistema de indemenizações que tinha base o conhecimento de quem havia matado quem, os conflitos crescem exponencialmente:

The Chambri lived largely safe from Iatmul attack until Europeans arrived to the coast of New Guinea at the turn o f the centuary (…) Fighting between the two became increasingly frequent until about 1905, when the Chambri fled their island rather than the risk further military encounters with Iatmul, whose ferocity had been augmented by the acquisition of a German Shotgun (Errington &Gewertz 1991:6).

Discorrendo sobre a justiça






A meio de uma amena conversa entre a minha família e um senhor amigo , comentava-se a sua visita á Suíça... semelhanças.. diferenças até que surge o mais que obvio campo económico (de pedra e cal sempre que se aborda um país com maior prosperidade económica). Falou-se casualmente dos cheques, o meu pai conta que quando lá foi calhou a perguntar como era na Suíça quando alguém passava cheques carecas. Disseram-lhe que lá quase não haviam cheques carecas pois quando isso acontecia o processo área rápido : contactar a policia e ir conjuntamente com ela reaver o capital em três “knocks on the door”. Este deveria de ser recebido no momento, preferencialmente em numerário sendo em géneros sempre que o dinheiro vivo escasseasse na bolsa do devedor. Talvez em Portugal se ganhasse muito com a menor burocratização do nosso sistema de justiça. No mínimo uma política semelhante surtiria três efeitos positivos:

- maior responsabilidade na contracção de dividas.

- repromoção da poupança (actividade aparentemente em vias de extinção em território nacional)

- maior sentimento de justiça e cooperaçaõ estatal na defesa dos valores privados.

ressalvo obviamente os atalhos na realidade promovidos pelo discurso informal mas permito-me a especular como a justiça pode ser um processo célere e menos burocrático quando pensado de forma diferente da portuguesa.


Agora um pouco em jeito de opinião pessoal, acredito que a justiça é um valor moral cultural e sobretudo informal que o sistema legal tenta burocratizar. A burocratização da justiça poderá ter as suas vantagens mas vista na balança da moralidade, ou seja, pela lente da cultura ao invés da lente puramente jurídica a justiça deveria de deixar de lado o símbolo que a caracteriza, a clássica balança de dois pratos. A balança apenas é possível de equilibrar através da moral social que é a origem critica da justiça de todos nós tal como a recebemos da cultura pelos nossos pais e pelo discurso informal da sociedade em nosso redor.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

The Namesake:

Fui assistir Nome de Família (no original: The Namesake) e me encantei com mais esse filme dirigido por Mira Nair, a mesma de Um Casamento à Indiana. Algumas pessoas não costumam gostar do cinema indiano, uns alegam sobre a qualidade dos filmes da Bollywood, outros a duração e outros mais enfurecidos que não entendem nada. Não concordo com nenhum deles, a qualidade tanto da fotografia, como roteiro e direção são excelentes. Mas o motivo para o qual me coloco ao escrever sobre a película é sua genial temática que é a tradição.

Como estudante de ciências sociais e uma pessoa minimamente informada sobre alguns dos costumes da Índia, sinto-me um pouco à-vontade para falar do que me saltou à vista: o choque cultural que o jovem Gogol sofre entre os dois extremos: o tradicionalismo religioso oriental contra o ocidental crente na ciência e no seu liberalismo. Numa visualização mais simples: O tradicionalismo indiano versus o liberalismo americano. Gogol nasce nos Estados Unidos, é um cidadão americano de nascimento mais indiano de tradição, com um olhar mais apurado ele está numa situação em que nem é uma coisa nem é outra. Esse é o problema que acredito ser a chave do filme.

Ele sofre dois processos de aculturação, a tradição indiana em casa e a liberal americana na escola e na socialização com outros meninos americanos. É possível crescer numa tradição cultural tão complexa em mitos e ritos num ambiente completamente diverso? Enquanto para nós (ocidentais) é difícil de imaginar um casamento arranjado pelos nossos pais sem que ao menos conheçamos a noiva ou o noivo, para os indianos é estranho também o nosso jeito de arrumar um parceiro.

Propaga-se a idéia da liberdade como um bem para ao Homem. Enquanto que na verdade ele é preso pela sua cultura e se move dentro de seus limites. Quando há uma ruptura cultural a sociedade há uma coerção ao infrator. Tomemos como exemplo o fato de não poder andar nu ou de trajes menores pela rua, isso seria atentando ao pudor podendo haver multa ou cadeia, em quando em sociedades indígenas a falta de roupa é algo natural. Sendo assim a liberdade é relativa. Não podemos dizer que um casamento arranjando, a escolha do nome da criança pelo avô e não pelos pais, signifique uma falta de liberdade.

Não quero me alongar demasiadamente sobre a analise filme citando cenas da qual ilustram magistralmente bem as palavras acima. Pouco falei na história do filme, pois podem facilmente encontrar em qualquer site especializado em cinema. Acredito que daqui uns 4 meses ou menos já se encontre nas locadoras.

Site oficial do filme (português - Brasil): nomedefamiliafilme.com.br

Blog do autor - buda verda

Álvaro de Campos - Adiamento


Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...

Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,

E assim será possível; mas hoje não...



Não, hoje nada; hoje não posso.

A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,

O sono da minha vida real, intercalado,

O cansaço antecipado e infinito,

Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...

Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...

Hoje quero preparar-me,

Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...

Ele é que é decisivo.

Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...

Amanhã é o dia dos planos.
sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;

Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...

Tenho vontade de chorar,

Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.

Só depois de amanhã...

Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.

Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...

Depois de amanhã serei outro,

A minha vida triunfar-se-á,

Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático

Serão convocadas por um edital...

Mas por um edital de amanhã...

Hoje quero dormir, redigirei amanhã...

Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?

Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,

Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...

Antes, não...

Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.

Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.

Só depois de amanhã...

Tenho sono como o frio de um cão vadio.

Tenho muito sono.

Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...

Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...

Sim, o porvir...

Apenas porque é genial - Antony and the johnsons

domingo, 17 de junho de 2007

Equações mentais da categorização





“As soon as we recognize that there is nothing morally commendable about the products of evolution, we can describe human psicology honestily , without the fear that identifying a “natural” trait is the same as condoning it. (...) many commentators from the religious and cultural right believe that any behaviour that strikes them as biologically atipical such as homosexuality, voluntary childlessness, and women who assume traditional male roles or vice versa, should be condenmed because it is “unnatural”. For example, the popular talk show host Laura Shlesinger has declared, “i am getting people to stop doing wrong and start doing right”. As part of this crusade she has called on gay people to submit to therapy to change their sexual orientation, because homosexuality is a “biological error”. This kind of moral reasonging can come only from people who knows nothing about biology. Most activities that moral people extol – being faithful to one’s spouse, turning the other cheek , treating every child as precious, loving thy neigbor as thyself – are “biological erros” and are utteraly unnatural in the resto f the living world. Pinker : 2002 – 164

A origem da discriminação resulta em primeira instancia de uma equação falaciosa entre a normalidade (estatistica) e a naturalidade, e anormalidade (estatistica) e a não naturalidade. A não naturalidade torna-se então num elemento sujeito a reavaliações e validações (concepções desse elemento como pureza ou perigo) perante o sistema cultural onde acontece que as toleram em certos casos ou as tentam eliminar noutros tantos.


Entrevista a Paula

Paula: No caso é assim, eu acho que é uma coisa que me fortalece, de certa forma sim, eu não sou, eu…eu lógico que sou crente, pelo simples facto de quê? Eu não sou é evangélico, ….., ao pé da letra, a religião, mas o conhecimento que eu tenho da bíblia, me faz entender e ter, como dizer? Uma concepção bem diferente do mundo, porque eu sei discernir o certo e errado, eu sei como ver as situações, com outros olhos, ter esperanças, principalmente de conseguir os meus objectivos e como eu posso dizer? É uma coisa, que de certa forma dá muito mais força, para você vencer certas barreiras e até mesmo preconceitos, porque você pensa assim, eu penso, voltando no caso à religiosidade, Cristo que foi…que é Cristo, ele veio, ele foi discriminado, ele não foi aceite, ele chegou ao ponto de ser morto, na cruz, porque é que eu vou me sentir derrotado por ser descriminado, de forma alguma.
Eu: Tu agora disseste, “ porque é que eu vou me sentir derrotado”, porque é que não disseste derrotada?
Paula: Hum…é, às vezes tem lapsos (risos), são lapsos momentâneos, não, porque no caso, estou falando da parte religiosa, entende, no caso eu tenho um respeito muito grande, e no caso, nessas partes eu, eu tenho consciência que…
Eu: Que é pecado?
Paula: Exactamente, tenho o mesmo com a família, minha família até hoje me chama de Paulo, entende? No caso é uma coisa, por mais que eu tente, não vai mudar e no caso, em relação à religião, também é da mesma forma, eu tenho consciência do que eu sou (…), entende? Eu sei que se de repente no cientifico não deixei de ser homem, no psicológico sim, na fisionomia sim, mas na parte de…a ciência me condena pelo facto de, o que eu sou, nunca vou deixar de ser…
É interessante como no aspecto religioso existe um assumir do género masculino, o que evidencia o facto de que em certos aspectos existe auto-repressão, se quisermos exercida por um super ego castrador do id e do ego. Julgo que esta é uma das grandes vantagens da entrevista antropológica, baseada numa relação de confiança e não paga. O sensacionalismo deixa de estar presente em ambas as partes e conseguem-se atingir questões de pormenor, que para mim são extremamente interessantes, sob vários pontos de vista.

sábado, 16 de junho de 2007

re-postagem:identidades

A questão da identidade é crucial, ninguém adquire a sua identidade olhando para um espelho, advém da natureza sociável do animal humano e essa só se concretiza pelo contacto. Os processos em abstracto são relativamente simples. O homem nasce como indíviduo, com o tempo tona-se uma pessoa, ou seja adquire uma máscara, uma espécie de cosmética social que o torna um actor social, mais ou menos distinto dos demais. Tal realiza-se por processos sucessivos de oposição e consequente identificação, daí que para nós próprios não passemos de representações que fazemos a partir da representação da realidade que nos rodeia. As representações nascem da necessidade de classificar, classificando o homem pode ordenar a natureza onde se inclui, embora disso não faça por vezes a representação mais adequada. Ordenando cria-se uma ordem, a ordem mundial, a ordem nacional, a ordem da U.E., a ordem no fundo é uma invenção que nasce de classificações estrategicamente realizadas para servir certos fins, esses fins últimos encerram sempre dinâmicas de poder (Homo hierarquiqus ou cus?? [porra para o Descartes e a sua dúvida que me persegue, mas não me faz chegar a deus...]do Dummont creio). Daí qua a classificação e consequente ordem revelem a natureza hierárquica da espécie, ser social é respeitar uma hierarquia que nasce de classificações que inventam uma ordem. O chefe índio, o presidente americano, o primeiro ministro inglês, etc...meras classificações de uma ordem que serve o fim último da hierarquização e consequente concretização de relações de infra e supra ordenação. O réu e o juíz, o cidadão comum e o policia, o funcionário e o chefe, o aluno e o professor, etc...dinâmicas de poder mais ou menos acentuadas, que consoante os seus meios e capacidade de inventar e implantar novas classificações, se podem tornar iminentemente ameaçadoras para uma outra ordem, por exemplo a mundial. Porque não se chama branco ao preto e preto ao branco? Poderia perfeitamente ser o caso, não passam de signos linguísticos, que no entanto ao serem inventados ganharam vida própria, ganharam uma imagem acústica que lhes corresponde, novamente uma representação de um determinado fragmento de realidade, neste caso de duas cores que passaram a ser classificadas e que assentes num concenso justificaram uma hierarquia, a que sobrepõe aqueles que possuem "razão" quando chamam preto àquilo que em si não é preto, mas socialmente é aceite como tal, àqueles que invertendo as regras do jogo, decidiram representar o branco pelo signo linguistico preto. Se estes últimos triunfassem na sua invenção, uma parte da ordem mundial estaria ameaçada. Percebem como seria hilariante ouvir chamar preto ao Bush ou branco ao José Eduardo dos Santos de Angola?? A ordem não ruiria de imediato, mas tal aconteceria num curto iato de tempo, porque existem uma séria de outras classificações que dependem ou comandam esta. Mais uma vez as hierarquias, até na ordem das classificações humanas. A identidade mais ou menos marcada, mais ou menos diferenciada, depende pois das classificações e do aderir ou não aos concensos apresentados socialmente. O que acontece a quem não adere de todo a classificações? Não se considera que possua uma identidade, é ao invés classificado (num ciclo interminável porque não existe indiferença) como doente mental, o que acontece a um doente mental?? Vai para uma instituição classificada para o efeito e destinada a manter uma determinada ordem identitária.
A ordem é que interessa e serve sempre mais uns que outros...a igualdade é um mito...porque tudo gira em torno da diferença.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Papéis e seus desempenhos - o palco

Num certo momento do trabalho de campo, também em Lisboa, quando estava no computador, sou surpreendido pelo ruído de um aparelho eléctrico que ainda não conhecia, quando olho para trás e na altura posso assegurar-vos que me assustei, verifico que era Karmen rapando os pelos do seu imponente peito de silicone. Este último exemplo demonstra como a partir de certa altura ultrapassei os limites do palco e me foi permitida a entrada nos bastidores:

Não é provavelmente por um simples acaso histórico que a “palavra” pessoa, na sua acepção de origem, designa uma máscara. Trata-se antes do reconhecimento do facto de toda a gente estar sempre e em toda a parte, com maior ou menor consciência, a representar um papel…é nestes papéis que nos conhecemos uns aos outros; é nestes papéis que nos conhecemos a nós próprios (Goffman1993:31-32).

Neste sentido terei acedido aos fundamentos das máscaras, que as tornam as pessoas que efectivamente são, chegamos ao mundo como indivíduos, adquirimos um carácter e transformamo-nos em pessoas (idem:32), naquele preciso momento em que karmen procedeu à remoção de pelos, eu deixei de ser parte da audiência e sem audiência não há palco, nem desempenho de papel consentâneo com determinado estatuto, neste caso o de travesti (ibidem:139).

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Activismo de género





Projecto anarquia de género (site)

Conferência

NÚCLEO INTERDISCIPLINAR DE ESTUDOS DO PATRIMÓNIO

CONFERÊNCIA QUEBRA-NOZES E CHIMPANZÉS: CONSTRUINDO PONTES ENTRE A ARQUEOLOGIA E A PRIMATOLOGIA – INVESTIGAÇÃO INTERDISCIPLINAR EM EVOLUÇÃO HUMANA POR SUSANA CARVALHO CÂMARA MUNICIPAL DE LEIRIA, MESTRE EM EVOLUÇÃO HUMANA PELO DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA, MEMBRO DA EQUIPA INTERNACIONAL DE BOSSOU-NIMBA DA UNIVERSIDADE DE QUIOTO, .
18 DE JUNHO DE 2007 ANFITEATRO 1, 16H30 FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
AV. DE BERNA, 26-C 1069-061 LISBOA METRO: CAMPO PEQUENO E PRAÇA DE ESPANHA COMBOIO: ENTRECAMPOS ENTRADA LIVRE APOIOS: FCSH-UNL AEFCSH
93 863 21 28; 93 663 65 64
A aplicação de métodos da Arqueologia à Primatologia amplia o conhecimento sobre a cultura material dos Chimpanzés e, consequentemente, sobre a Evolução Humana. Nas regiões de Bossou e Diecké, Guiné Conakry, África Ocidental, a autora observou pela primeira vez cadeias operatórias (a tecnologia como processo faseado em várias etapas) no aproveitamento de utensilagem lítica por chimpanzés (Pan troglodytes verus) no seu habitat natural. Por via da combinação de métodos arqueológicos e primatológicos, foi identificada diversidade regional entre os conjuntos líticos observados. O tipo de matéria-prima, a sua disponibilidade e a mobilidade das ferramentas são indicados como possíveis constrangimentos ecológicos para o desenvolvimento tecnológico em primatas humanos e não-humanos. Além disso, foi possível encontrar um padrão de três tipos de estratégias de exploração de recursos, com afinidades relativamente às estratégias dos hominídeos Olduvaienses. Esta investigação, no âmbito do projecto mais alargado em que se insere, que procura encontrar e explicar as origens evolutivas das primeiras tecnologias veio colocar na ordem do dia a discussão sobre a proximidade entre o género humano e os primatas não-humanos mais próximos, afastando-se cada vez mais a ideia de que existem comportamentos que nos são exclusivos, como seja a própria planificação tecnológica. A questão não podia ser mais premente: a partir de que momento somos humanos?
Mail Enviado por Raquel J.

Excertos de entrevistas


Conheces a teoria Queer? É uma espécie de teoria que engloba pessoas. As pessoas que têm menos direitos como por exemplo, mulheres, negros, homossexuais, deficientes. A teoria Queer defende que todos estes se devem de juntar e lutar contra as pessoas que fazem com que essas pessoas tenham menos direitos que eles, e teoricamente são os homens heterosexistas. E acho que somos uma maioria, as pessoas que têm menos direitos são maioria do que esses homens heterosexistas... e é muito forte, porque na realidade são eles a minoria. Minoria que discrimina as mulheres, minoria que discrimina os homens negros, minoria que discrimina os deficientes e os homossexuais...As mulheres, há muitas mulheres machistas, e muitos homens negros machistas que as vezes também são discriminados por esses homens brancos heterosexistas... Na realidade não somos minoria e devemos juntar-nos para conseguir uma igualdade”


Blanca

A discriminação inscrita no hardware da mente humana

 

O ser humano é um ser bio-socio-cultural. Detentor de um desenvolvimento mental pos-nascimento possui a capacidade de completar o seu cérebro fora do útero materno facto que lhe permite acumular cultura enquanto modos de ver, fazer e entender o mundo à sua volta. Esse tem sido ao longo dos milénios o grande trunfo adaptativo da humanidade. Esta capacidade humana assenta essencialmente num sistema simbólico-associativo e integrativo da realidade que evita a exaustão enumerativa de possibilidades e permite ao homem constituir categorias e valores associados ás mesmas: “[As] learning proceeds objects are named. Their names then affect the way they are perceived next time: once labeled they are more speedily slotted into the pigeon holes in the future. “( Douglas:1966 in Cahill:2005 -1583)

Desta forma ao concebermos um homem esperamos segundo a cultura e educação heterosexisada que este venha a ter relações sexuais, a partilhar uma vida e a constituir família junto do seu oposto: a mulher. Quanto isto não acontece estamos na presença de uma irregularidade simbólica, logo de desordem e “impureza” na concepção de Mary Douglas. A abominação a toda a sexualidade não heterossexual advirá assim deste sistema de pensamento simbólico, assimilado num período muito precoce do desenvolvimento humano. Alargando um pouco esta problemática podemos ver como os indivíduos de cada cultura raramente procuram mudar completamente o paradigma, raramente vemos um católico tornar-se muçulmano, raramente vemos um animista tornar-se ateu ou cientista e vice-versa. Na mesma linha de pensamento o paradigma da heterossesxualidade constitui toda uma base sobre a qual assenta a conceptualização de todo um sistema identitário, relacional e social sobre o qual estão radicados os valores fundamentais e essencialmente “positivos” da vida, da auto-reprodução do casamento, das alianças matrimoniais, das unidades produtivas e reprodutivas. Esta valorização positiva está sempre associada ás em oposições estruturais que materializam a “necessidade” da complementaridade dos opostos de tal forma que não há sol sem lua, nem há dia sem noite. Em termos humanos esta complementaridade expressa-se em inúmeras dimensões, começando na reprodutiva e extrapolando-se a cada acto do dia a dia das sociedades humanas, em práticas como a divisão sexual do trabalho e na dominância do masculino sobre o feminino (opostos complementares mas desigualmente valorizados).
O crescente investimento, valorização e solidificação das estruturas lógicas que cada indivíduo faz das suas categorizações do mundo à medida que cresce e se desenvolve, conduz a uma cada vez maior inalienabilidade do mesmo “As time goes on and experiences pile up, we make a greater and greater investment in our system of labels.” ( Douglas : 1966) In Cahill:2005:1583)

Ainda as Aplicações de Silicone

Esta pesquisa de que venho refereciando fragmentos de entrevistas e de algumas tentativas de análise, é um estudo de caso que estou a realizar e que incide sobre uma comunidade que não ultrapassará as 60/70 pessoas, residindo momentaneamente em Portugal, visto que a mobilidade e transnacionalidade caracteriza a maioria dos sujeitos que a compõem. Nem sequer se pretende generalizar, existe um estudo de caso em curso, onde recolhi histórias de vida, que não é, nem pretende ser representativo das travestis que não se enquadram nos parâmetros que estabeleci para a investigação, nomeadamente, o serem brasileiras, imigrantes clandestinas e cuja a actividade se exerce no âmbito da indústria do sexo. Como deve ser do conhecimento geral, o estudo de caso ou intensivo, visa esencialmente um tipo de informação qualitativa, mais do que quantitativa. Posto isto, vou pegar no comentário do RB e a partir daí demonstrar pelo recurso a exemplos concretos emergentes das observações, que efectivamente algumas das aplicações não correm da melhor forma:
1º - Nem sempre estas aplicações correm bem, foi o caso da própria Paula que ao aplicar silicone na barriga da perna o viu descair para a zona do tornozelo, sendo que é bem patente nessa região anatómica, aquilo que à primeira vista parece ser um enorme inchaço, que rodeia na totalidade a zona do tornozelo e sua periferia. No entanto, isso não a parece preocupar muito, aceita inclusive as constantes brincadeiras das outras, nomeadamente de Adriana que em tom jocoso se queixa que ela lhe deforma todas as meias que empresta.
2º- Na semana passada, aquando da ida ao Porto, em que Adriana regressou logo na manhã seguinte por ter anúncio, Paula ficou por lá e nesse período de tempo bombou a cara de Karmen, reesultado um dos lados ficou mais cheio que outro. Discutem acerca do que pode ser aquele inchaço…silicone a mais num lado que noutro? Paula diz que não, terá apanhado um nervo? Bem…aventam-se soluções…ou se tira o silicone que está a mais ou coloca-se mais silicone do lado que está menor. Entretanto Adriana brinca…dizendo a Karmen que podia deixar crescer a barba do lado que está mais inchado…riem-se todas, eu contenho a gargalhada com esforço, é que entretanto Adriana diz a Karmen para encher as bochechas ou então para se rir com força…a cena torna-se hilariante…Karmen ri-se também, embora pouco (lógico que as consequências podem ser bem mais graves, dependendo também da zona do corpo bombada).
Já coloquei em mim mesma nas nádegas, nas pernas. Tem que ter sangue frio, não é? (Risos), mas a “gente” passa por tanta coisa mais difícil na nossa vida e sobrevive, isso aí não é nada. A dor maior não é a do corpo, aquilo passa, a dor maior é a que fica no coração, essa é a dor maior (…) mas as pessoas são assim, têm essa visão da “gente”, nunca tiveram oportunidade de sentar e conversar com uma pessoa como nós, para tentar entender como nós somos, o que passa na nossa cabeça, e a “gente” sofre, se a “gente” não sofre, nunca as pessoa procuraram saber isso, elas pensam que a “gente” por ser o que somos é porque somos safados, vulgares, pessoas sem estudos, essas coisas…não tem nada a ver, assim como tem homens ladrões, homens que não têm estudos, pessoas ignorantes, existe as mesmas pessoas no nosso meio e não é por um que a pessoa vai julgar todos. Parámos por aqui (Entrevista a Adriana).
Acima de tudo, para além dos dramas pessoais e humanos envolvidos, destaca-se a determinação destas pessoas em quererem ser quem são.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Bombação/aplicação de silicone

Nunca assisti a uma aplicação de silicone, não por não o poder fazer, creio que se o tivesse desejado, teria conseguido, mas devo confessar que não fazia muito gosto nisso. No entanto mantive inúmeras conversas sobre o tema, no início Adriana evitava falar no assunto, pelo menos com profundidade, mas com o tempo foi-se soltando também nesse aspecto. Existem dois tipos de silicone no que à sua espessura diz respeito, Adriana revelou-me que o mais fino é melhor para realizar as aplicações, em quaisquer dos casos manda-os vir do Brasil ou de Espanha. Adriana aprendeu a realizar estas operações através da observação de um médico cirurgião no Brasil.


Durante o tempo em que decorreram as observações, realizou pelo menos duas aplicações, uma a Solange e outra à dead one, é um trabalho delicado e minucioso que exige muita precisão no manejo da seringa, pode durar horas. Adriana, no caso de Solange informou-me que passou seis horas seguidas a trabalhar. O silicone, apesar de viscoso, como julgo ser do conhecimento geral, acaba por ser líquido, senão não poderia ser injectado, o que após a sua aplicação exige da parte das infiltradas um repouso absoluto, nem para urinar elas se devem levantar, devem ter um recipiente ao seu lado, que permita que o façam sem se locomoverem em demasia. Se esta regra de recuperação não for respeitada, pode acontecer que sendo líquido, ele alastre para outras partes do corpo, antes de ter solidificado. Por exemplo, se tiverem sido injectadas na bunda terão que passar cerca de três a quatro dias deitadas de barriga para baixo, se for no peito, não se poderão deitar, a posição aconselhável será a de sentadas com as costas encostadas à cabeceira da cama durante esses mesmos três a quatro dias.
O que verdadeiramente me chocou um pouco neste aspecto da "bombação" foi a questão das seringas e das agulhas, o facto de nas aplicações serem utilzadas agulhas de uso veterinário, ou seja, para uso em animais (lógico que por serem aplicações clandestinas). Mais tarde visualizei, tanto o silicone, como as próprias agulhas.
O valor pecuniário a cobrar por cada litro de silicone aplicado, oscila entre os 250 e os 300€, com a compra do material necessário realizada à parte.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

episódios/entrevistas

Eu chegando a S. Paulo, eu fiquei numa pensão, das piores pensões…não tinha, nem estrelas…uma amiga que me levou e ali…eu não tinha conta em banco, nem nada nessa época…levei dinheiro na mão…geralmente as pessoas que faziam as cirurgias, que são geralmente aplicações de silicone…eram clandestinas e uma das pessoas que fazia isso era drogado…era um rapaz muito drogado e um dia consegui falar com ele para ele ir em casa fazer…ele tinha que se drogar primeiro para poder depois aplicar…ele se drogava na veia. Aconteceu que ele se drogou e passou mal, gerou-se aquela confusão na pensão…era uma pensão onde viviam drogados, tinha drogas dentro, traficantes…era mesmo uma pensão “mal” mesmo…caíram em cima de mim, eu consegui me escapar, porque deu polícia…tudo lá, só que deixei minha bolsa…deixei tudo lá e me roubaram tudo e eu fiquei com um vestido e uma sandália no pé, desci a rua que eu nem conhecia, porque fazia uma semana que eu tinha chegado lá…nem conhecia…nem sabia como era S. Paulo…soube que tinha uma amiga minha que trabalhava num local…nessa época…onde já tinha muitas amigas que trabalhavam com prostituição…eu não trabalhava com prostituição…eu até recriminava isso, eu dizia “jamais vou fazer uma coisa dessa, prefiro ganhar suando que ganhar sorrindo!”
Eu – Que idade tinhas mais ou menos?
Adriana – Isso já tinha 20 anos para 21…então eu soube que essa amiga minha estava num local em S. Paulo chamado a boca do lixo e…eu sai andando na rua…sem saber…
Eu – Bocas são aquelas cenas tipo bairro…
Adriana – É…boca do lixo é um bairro de S. Paulo, se chama St. ª Efigénia, mas chamam boca do lixo…por ser perigosa, é umas das zonas mais perigosas que tem em S. Paulo, só que lá tem local onde as transsexuais trabalham, eu nunca sabia disso…somente que tinha uma amiga que morava ali. Saí na rua, andando…andando desnorteada da cabeça e isso eram 22 horas e quando deu 5 da madrugada eu estava andando…parou um táxi para mim…eu estava chorando, aí eu contei a história para ele e lhe pedi para me levar num local chamado boca do lixo, para ir ter com uma amiga, que sabia que parava num hotel chamado Santana, ele me respondeu que sabia onde era e que me levava lá. Nisso o Brasil tem uma coisa de “boa”, é que os taxistas dão “carona” para a “gente” e ele foi e me levou…me deixou na porta…eu pedi lá para o encarregado que estava na porta…contei minha história para ele, que estava procurando a minha amiga…ele deixou…contei a situação para ela e ela disse :”ahh não se preocupa não…fica aqui, amanhã tu desce para a rua…”então isso para mim foi um horror…imaginar que eu tinha que descer para a rua…trabalhar…fazer programa…para ganhar dinheiro para fazer o que eu queria…fiquei pensando…meu deus…o que é que eu vou fazer? Fiquei ali pensando…eu não queria isso…não queria isso…que eu nunca fiz…não sabia nem como é que era…o que é que tinha que falar para as pessoas…só que a vontade que eu tinha de ter a transformação era tão grande e para mim saber que ia voltar a Belém sem nada...
Obrigado Adriana.

Orangotangos - características

Os Orangotangos são animais de grandes dimensões (estômago incluído), pelo que toleram a toxidade dos alimentos que subsidiariamente compõem a sua dieta (essencialmente no que às folhas diz respeito e à celulose que contêm), visto serem essencialmente frugíveros (ibidem:155), orangutans are opportunistic foragers rather than absolute frugivores (ibidem:161), excepcionalmente foi observado um juvenil arrancando a cabeça de um rato para depois brincar com o seu corpo e em cativeiro um orangotango de dois anos, arrancar a cabeça de um pássaro e come-lo (ibidem:164).


Os primatas diurnos são geralmente gregários, essa tendência evolutiva resulta de pressões decorrentes dos riscos resultantes da existência de predadores e da competição por alimentos (Carel &.hoof in McGrew & Marchant 1988:4). Onde os orangotangos são mais vulneráveis a predadores, é no chão, nomeadamente em Sumatra onde se verifica a presença do tigre como um dos predadores mais temíveis. Uma das formas de reduzir esse risco é serem arborícolas, no entanto outros predadores os podem atingir nas arvores, é o caso do leopardo, daí que as fêmeas com crias construam seus ninhos em arvores com pouco alimento, desviando assim atenções (idem:4). A construção de ninhos realiza-se todas as noites quando o sol se põe (Caldecott & McConkey in Caldecott & Miles 2005:168).


A sua dieta preferencial é composta por frutos, embora em ocasiões de escassez possam comer outras coisas, principalmente em Bornéu onde essa escassez se faz sentir com maior intensidade, sendo que nesses casos podem incluir na sua dieta outros alimentos, tais como insectos ou flores por exemplo (idem:155), we know that orangutans may modify time spent feeding, dietary composition and food selectivity in response to fluctuations in fruit availability (Knott 1988:1063).


Their diets are dominated by fruits and dietary correlations indicate that orangutans prefer fruits over leaves and bark (Carel &.hoof in McGrew &Marchant 1988:5).


Os orangotangos possuem braços longos (braqueação) e polegar oponível, o que indica a sua adaptação à vida nas árvores, de quaisquer das formas as árvores de frutos mais adequadas aos orangotangos, encontram-se essencialmente na floresta de Sumatra, mais do que em Bornéu, Bornean forests are renowned for their irregular food supply for fruit –eating and seed-eating animals (Caldecott & McConkey in Caldecott & Miles 2005:161) e algumas das diferenças entre as características comportamentais destas duas espécies, têm sido atribuídas à existência de maior quantidade de alimento em Sumatra, onde a partilha de fruta entre adultos é mais provável, pela sua maior abundância, o que possibilita uma maior dose de sociabilidade, sumatran orangutans have little difficulty locating fruiting trees (McConkey in Caldecott & Miles 2005:185), que combinada com a provável existência de mais recursos naturais ao nível dos materiais disponíveis, conduz a uma maior taxa de uso de ferramentas, aprendido entre os primatas essencialmente através da observação (Caldecott & McConkey in Caldecott & Miles 2005:155), wild Sumatran orangutans have been observed to use 54 different tools for extracting insects or honey, and 20 for opening or preparing fruits (McConkey in Caldecott & Miles 2005:189). Apesar de os orangotangos de Bornéu não terem sido observados a usar ferramentas, no sentido de manipular um objecto para influenciar outro, a sua capacidade para o fazer parece evidente, quando em cativeiro e com a possibilidade de observar o comportamento de outros, o conseguem fazer com facilidade (Caldecott & McConkey in Caldecott & Miles 2005:168).
Veja-se a relevância, da maior ou menor sociabilidade na aprendizagem das técnicas de manipulação de ferramentas.



domingo, 10 de junho de 2007

"sobriedade vs embriaguêz" - os aventureiros

A quem se aventurar a interpretar o texto “ Sobriedade vs embriaguêz” como um incentivo ao consumo excessivo, aqui vai um pequeno alerta para as consequências directas desse acto ( que todos nós adoramos de vez em quando ....)
Segundo Parise .P, Edison e Kondo, M., a cirrose representa o produto final de uma agressão crónica do fígado, caracterizada, do ponto de vista histológico, pela presença de fibrose e formação nodular difusas, com desorganização e arquitectura do órgão.
As cirroses podem ser classificadas de acordo com a sua etiologia:
Metabólicas, Virais, Alcoólica, induzidas por fármacos, e ainda muitas outras...
Alguns dos sintomas da Cirrose são: Fraqueza, tosse, vómito, hemorragias produzidas pela ruptura de veias varicosas situadas na parte inferior do esófago (varizes esofágicas) , expulsão de grandes quantidades de sangue , anorexia , perda de peso, desnutrição (deve-se à absorção insuficiente de gorduras e de vitaminas lipossolúveis, resultante da fraca produção de sais biliares), icterícia (resultado da obstrução crónica do fluxo da bílis) , formação de pequenos nódulos amarelados na pele, hipertensão portal, função hepática reduzida, ascite, insuficiência renal, encefalopatia hepática.

Prognóstico e tratamento- É habitual que a cirrose seja progressiva, no entanto se esta se encontrar na fase inicial e o indivíduo deixar de beber, o processo de cicatrização é em princípio interrompido. Contudo o tecido hepático já cicatrizado fica assim indefinidamente!! O aparecimento de cancro hepático em indivíduos com cirrose causada pelo abuso de álcool é uma realidade a não ignorar, realidade essa que poderá ou não levar à necessidade de um transplante do orgão afectado( neste caso o fígado). De acordo com Miszputen Jankiel, Sender (2002) independentemente do agente etiológico, a terapêutica das principais complicações do quadro base (desnutrição, encefalopatia, hipertensão portal e ascite) será a mesma.
Consequencias psicológicas a quem se submete a um transplante do fígado:
O individuo transplantado: entre o eu e o não – eu.
A aceitação versus a culpabilidade do transplante de órgãos
A confrontação com a existência de uma doença terminal a que se associa a necessidade de realização de um transplante como única forma de sobrevivência, e a forma como tal facto é transmitido pela equipa médica, é sentido pelos pacientes como o primeiro momento de grande dificuldade em todo o processo que envolve esta terapêutica. Relatam este momento como o mais avassalador de toda a sua história de transplantação. Após a sua aceitação, a entrada numa lista de espera para transplante, é tida como o outro momento muito difícil de todo o processo. Uma vez na lista de espera, os pacientes podem ser chamados para a cirurgia a qualquer hora do dia ou da noite, visto este facto estar dependente da disponibilidade dos órgãos. A espera é acompanhada de reflexões profundas sobre a decisão tomada, sobre a correcção ou incorrecção de se ter submetido à realização de um transplante, sobre a chegada do órgão doado que se receia mesmo que não venha a tempo. Estes altos e baixos são relatados como profundamente perturbadores.
Imediatamente antes do transplante, os momentos de ansiedade alternam com os momentos de esperança. A proximidade da morte ou a dependência em relação a uma máquina, opõem-se à possibilidade de afastar o mal. Tem a ver com o milagre que é encarar a substituição daquilo que está destruído, apagar e recomeçar a partir do zero. Esta mistura de abatimento e de esperança, tendo como única bóia de salvação o transplante faz com que tudo seja admitido. «Dê-me um coração novo», disse Washkansky, o primeiro individuo a sofrer um transplante de coração, a Barnard. Espera-se o acto mágico, o acto salvador, a qualquer preço.”
Degos, Laurent in “Os enxertos de órgãos”

E vai um copito ? ;)

sábado, 9 de junho de 2007

Orangotangos

Existem duas espécies de orangotangos, os de Sumatra (Pongo abelii) e os de Bornéu (Pongo pygmaeus), Orangutans are endangered apes whose distribution is confined to the South-East Asian islands of Borneo and Sumatra (Marshal 2006:577), são primatas diurnos e essencialmente solitários (alguns consideram-nos semi-solitários [Utami:643)], no seu estado adulto (Carel &.hoof in McGrew & Marchant 1988:3), que divergiram dos primatas africanos e humanos àcerca de 11 milhões de anos (Caldecott & McConkey in Caldecott & Miles 2005:153). Pertencem à ordem dos primatas, sub –ordem dos Anthropoidea, infra –ordem dos Catarrhini, super –família dos hominoidea e família dos Pongidae. Patenteiam um acentuado dimorfismo sexual (que terá relevância na sua estratégia mista de reprodução, bimaturismo [Utami e tal:643]) e uma reduzida rede de relações sociais. Enquanto que a distribuição das fêmeas, segundo o modelo clássico, se parece processar por razões atinentes à existência de riscos para as próprias e para as crias, bem como de recursos, a distribuição dos machos parece suceder em função das possibilidades de acasalamento (Carel &.hoof in McGrew &Marchant 1988:3). Encontram-se como disse atrás, em Bornéu e Sumatra na Indonésia, the normal habitat of orangutans is the tropical rain forest typical of much of southeast ásia (Rodman &Mitani in Smuts 1987:146).
O Orangotango de Bornéu diverge do de Sumatra, ao ponto de se considerar que estas duas espécies estavam geneticamente isoladas, antes da barreira geográfica e física se verificar. Uma possibilidade para tal ter sucedido encontra-se ao nível das estratégias reprodutivas:



If so, specification must have ocurred trough reproductive isolation: for example, a divergence of preferred mate characteristics in the two emerging species would lead to a reduction in gene transfer between populations (Caldecott & McConkey in Caldecott & Miles 2005:153).
Entre os orangotangos de Bornéu existem três sub- espécies : o da região norte da ilha é de tamanho médio, o da região central é o que atinge maiores dimensões e o da região sul que é o que possui formas mais gráceis (idem:153). Em média uma macho adulto, tendo em conta ambas as ilhas, pode atingir os 75 Kg enquanto que a fêmea 40 Kg. Os machos adultos na maior parte dos casos desenvolvem grandes placas e papos na zona do pescoço, o que chega a demorar 10 anos para suceder. Ambas as espécies (Bornéu e Sumatra) atingem com facilidade os 45 anos em estado selvagem .
Há-de continuar...assim como nós também havemos de continuar eheheh

Xutos e Pontapés-Vida Malvada- Live




AIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII A PUTA DA NOSSA VIDAAAAAAAA!!!

Episódios

Negona – Ei! Para ficar aqui tem que roubar! Bicha que não rouba aqui não fica! Eu digo, ai meu deus do céu…é que tem aqueles homens que quando vêem uma novidade na rua, caiem em cima que nem urubus em cima de carniça…então havia um lá, que pagava só em dollars e ela já conhecia ele, então ela falou comigo e disse que fulano já está rodando e ele vai-te pegar como novidade, tu vais ter que entrar no carro dele, ele vai te perguntar se tu quer receber em cruzado ou em dollar e tu pedes dollars e quando tu voltares para cá tu pára o carro dele perto da “gente” e puxa a chave do carro dele, porque ele mete a maleta dos dollars atrás no carro. Eu peguei e disse…ai meu deus…se eu fosse embora dali elas nunca mais iam deixar eu caminhar de giro e se eu não parasse o carro ia ser pior para mim…eu precisava…eu tinha que fazer minha mudança, eu tinha que fazer meu corpo…tudo o que elas falavam ele falou para mim…se eu queria em dollars etc…aí…foi que eu vim embora do motel com esse homem e lhe disse para parar ali perto das minhas amigas, que tinha que falar com elas e ele parou, nisso eu disse meu deus! Isso vai ser agora…nunca tinha feito isso na minha vida…eu me tremia toda, aí quando ele parou só fiz foi puxar a chave do carro dele, puxei a chave do carro e o freio de mão e lhe disse passa tudo o que tens que passar! Quando eu falei isso, ela (Negão) engasgou o pescoço dele e disse gritando: paga a ela, paga a ela! Ele nervoso dizia que já tinha pago, mas aquilo era uma encenação, era um truque para elas roubarem ele e eu dentro do carro sem saber o que fazer…aí ela me disse: me dá a chave do carro, eu dei para ela e ela deu para outra, tirou também o relógio dele e me deu e eu sentada no carro olhando a cara do homem em pânico e pedindo por amor de deus para eu o ajudar e eu sem poder…então ela gritou para mim: Sai do carro! Corre! Corre! Eu peguei correndo, peguei um táxi e fui embora. Quando foi no outro dia, eu fui lá na rua, para ver se elas me davam algum dinheiro e elas não quiseram me dar, disseram-me que eu já tinha feito a minha parte e que podia descer na rua à hora que quisesse, a tua parte já tu fizeste, como quem diz assim, tu já pagaste para ficar aqui e lá era um local que dava muito dinheiro e eu vim-me embora para casa.
Obrigado

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Zuleika e os Confirmados - O Rock da Linguísta Antropológica



Chegou-me do fórum de estudantes de antropologia da Universidade Nova de Lisboa

Observação à Mallinowski...aprendendo a língua nativa eheheh

Apontamentos de terreno...entrevistas

Continuando, consegui trabalhar, juntar um dinheiro e disse para mim, bem agora vou fazer uma aplicação de silicone e fiz uma aplicação nas nádegas, na bunda, ficou bem…mas precisava mais para os quadris, pernas…comecei a trabalhar de novo, juntei um bom dinheiro e andava com ele na bolsa, para não deixar em casa, um dinheirão…um dia eles foram na minha casa (polícia) e na minha bolsa, olharam tudo procurando droga e viram o dinheiro e me perguntaram de onde tinha tirado aquele dinheiro, eu disse-lhes que trabalhava na rua. Eles me disseram que era mentira e que eu era traficante…aí um deles me chamou e disse que queriam ter uma conversa comigo, que eles levavam aquele dinheiro e que acabavam por ali, eu disse que não porque me tinha sacrificado muito para ter aquele dinheiro…eles me disseram que eu não estava entendendo e puxaram do bolso um pacote de cocaína e disseram que aquilo ali era quantidade para tráfico, que me levariam para a delegacia e diriam que tinham achado aquilo na minha bolsa. A opção era dar o dinheiro ou ser acusada de tráfico, implorei-lhes para não fazerem aquilo comigo…mas não adiantou. Levaram o meu dinheiro. Mais uma vez sem dinheiro, pensei…ai meu deus!...aí vou para a rua trabalhar chorando, cheguei na rua e uma amiga minha me disse para ir com ela para Indianópolis que lá se ganhava dinheiro e quem tomava conta dessa rua lá era a Cris Negão, era uma amiga de quase dois metros de altura, era brava, problemática…
Thanks Adriana.

A "dignidade" Humana ainda se constrói pelo Trabalho?











Para ouvir e para pensar...

Dança Do Desempregado
Gabriel Pensador
Composição: Gabriel O Pensador





Essa é a dança do desempregado
Quem ainda não dançou tá na hora de aprender
A nova dança do desempregado
Amanhã o dançarino pode ser você


E vai levando um pé na bunda vai
Vai por olho da rua e não volta nunca mais
E vai saindo vai saindo sai
Com uma mão na frente e a outra atrás

E bota a mão no bolsinho (Não tem nada)
E bota a mão na carteira (Não tem nada)
E bota a mão no outro bolso (Não tem nada)
E vai abrindo a geladeira (Não tem nada)
Vai porcurar mais um emprego (Não tem nada)
E olha nos classificados (Não tem nada)
E vai batendo o desespero (Não tem nada)
E vai ficar desempregado


Essa é a dança do desempregado
Quem ainda não dançou tá na hora de aprender
A nova dança do desempregado
Amanhã o dançarino pode ser você


E vai descendo vai descendo vai
E vai descendo até o Paragüai
E vai voltando vai voltando vai
"Muamba de primeira olhaí quem vai?"
E vai vendendo vai vendendo vai Sobrevivendo feito camelô
E vai correndo vai correndo vai O rapa tá chegando olhaí sujô!...


E vai rodando a bolsinha (Vai, vai!)
E vai tirando a calcinha (Vai, vai!)
E vai virando a bundinha (Vai, vai!)
E vai ganhando uma graninha
E vai vendendo o corpinho (Vai, vai!)
E vai ganhando o leitinho (Vai, vai!)
É o leitinho das crianças (Vai, vai!)
E vai entrando nessa dança

Essa é a dança do desempregado
Quem ainda não dançou tá na hora de aprender
A nova dança do desempregado
Amanhã o dançarino pode ser você


E bota a mão no bolsinho (Não tem nada)
E bota a mão na carteira (Não tem nada)
E não tem nada pra comer (Não tem nada)
E não tem nada a perder

E bota a mão no trinta e oito e vai devagarinho
E bota o ferro na cintura e vai no sapatinho
E vai roubar só uma vez pra comprar feijão
E vai roubando e vai roubando e vai virar ladrão

E bota a mão na cabeça!! (É a polícia)
E joga a arma no chão
E bota as mãos nas algemas
E vai parar no camburão

E vai contando a sua história lá pro delegado
"E cala a boca vagabundo malandro safado"
E vai entrando e olhando o sol nascer quadrado
E vai dançando nessa dança do desempregado


Essa é a dança do desempregado
Quem ainda não dançou tá na hora de aprender
A nova dança do desempregado
Amanhã o dançarino pode ser você

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Sobriedade vs Embriaguez

Embriaga-te
«Devemos andar sempre bêbados. Tudo se resume nisto: é a única solução. Para não sentires o tremendo fardo do Tempo que te despedaça os ombros e te verga para a terra, deves embriagar-te sem cessar. Mas com quê? Com vinho, com poesia ou com a virtude, a teu gosto. Mas embriaga-te.
E se alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre as verdes ervas duma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que se passou, a tudo o que gemeu, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunta-lhes que horas são: São horas de te embriagares! Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem cessar! Com vinho, com poesia, ou com a virtude, a teu gosto.»
Charles Baudelaire, (1821-1867)

tal como já foi aqui dito...a escolha é sempre tua :)

Testes Projectivos- Projecção

Depois de uma breve introdução ao modelo Psicanalítico, mais concretamente a Freud, seria de todo descabido não falarmos dos instrumentos utilizados para tentarmos aceder ao inconsciente, às camadas mais profundas da personalidade.
Os testes projectivos não são mais do que por em forma sistemática o processo de projecção.
E o que é o processo de projecção perguntarão alguns?
Quem já não se colocou na posição de interpretação dos comportamentos dos outros? Todos nós temos tendencia para interpretar o mundo que nos rodeia, o outro, e isso em função dos nossos interesses, hábitos e até mesmo do nosso humor. Ao dizermos que um individuo projecta os seus sentimentos significa assim, que este atribui ao outro sentimentos, que na realidade sãos os seus.
Ressalva: As ambições dos testes projectivos são á priori, mais reduzidos do que a cura psicalitica. Não se apresentam, efectivamente, como um meio de fazer surgir exaustivamente a cripta do inconsciente do sujeito. Todavia, têm a pretensão de permitir desenhar as suaslinhas gerais, de indicar a sua estrutura básica. Assim sendo, não são de todo um método terapêutico. ( Houareau, M. 1977)
Alguns testes utilizados na prática psicanalítica:
Rorschach
A prova consiste em interpretar formas fortuitas, manchas sem nenhum significado. É um teste projectivo que permite aceder ao inconsciente e assim ao funcionamento mental. Mediante a situação, o sujeito é induzido a uma dupla solicitação: perceptiva, enquanto estimulo real e imaginária, enquanto objecto potencial imaginado. O Rorschach permite aceder às preocupações essenciais do sujeito, aos modos de organização relacional e aos afectos e fantasmas subentendidos nas suas verbalizações/respostas (Rorschach, 1978).
Outro teste amplamente utilizado como forma de compreender a personalidade é o
O Mini-Mult. Este teste é um inventário de personalidade constituído por 71 afirmações, as quais o indivíduo deve classificar em duas categorias. Verdadeiro ou falso. Este inventário é apresentado comummente como uma forma abreviada do Inventário Multifásico de Personalidade de Minnesota – M.M.P.I. (Hathaway & McKinley, 1966), que é constituído por 566 afirmações.
Tal como o M.M.P.I., é um instrumento psicométrico que avalia, com precisão, os principais elementos da personalidade. É constituído por 8 escalas clínicas: Hipocondria, Depressão, Histeria, Desvio Psicopático, Paranóia, Psicastenia, Esquizofrenia, Hipomania e por 3 escalas de validade (escala L,F e K). A escala L é uma escala de validade, cujo resultado permite apreciar, em que medida, o sujeito falseou os resultados, escolhendo resposta que o favoreçam do ponto de vista social. Escala F, permite controlar a validade do teste, pois procura avaliar a coerência intra-psiquica. Se o resultado desta escala for mais elevado do que as escalas clínicas, estas não serão validadas. Por último, a escala K, que é essencialmente de correcção. Destina-se a tornar mais precisos os resultados nas escalas clínicas, possibilitando a identificação de factores mais eficazes, aumentando a sensibilidade do instrumento e proporcionando uma meio de correcção estatística das escalas clínicas.
Embora as escalas tenham um nome correspondente ao síndrome clínico, todas elas possuem um significado no domínio normal.