domingo, 6 de maio de 2007
O novo presidente Francês
Há quem fale de ironia quando o assunto é a subida de Nicolas Sarkozy á presidencia de França.
De ascendência Hungara, Sarkozy terá tido antepassados que também foram imigrantes, “aqueles” que ele próprio critica.
Considero extremamente simplista todo este pensamento transcrito em acusações de parvoíce intelectual do povo francês ao colocar no poder um "imigra". Muitos defendem também que a popularidade e o apoio a um tal senhor representaria uma clara discriminação face “aos imigrantes” com um paradoxo de o próprio ser parte desse todo que aparentemente os franceses não saberiam distinguir.
Resta-nos saber quem são afinal "os" imigrantes entre os quais sarkosy se inclui e que estão excluídos deste sindroma de desidentificação, critica e exclusão por parte da população francesa, merecendo até o reconhecimento que lhes possa conferir semelhante local de poder sobre toda a nação.
"Imigrante" é, como podemos facilmente constatar, um conceito chapeu, uma palavra que engloba comunidades distintas com diferentes origens, cores, hábitos, religiões, capitais monetários e simbólicos que potenciam sucessos integrativos também eles completamente distintos quando em contacto com a comunidade autoctone maioritária.
Esta eleição é uma publica revelação da existência de uma lógica distintiva, critica e discriminatória (no sentido estritamente etimológico da palavra) dos franceses face ás várias comunidades imigradas no seu pais.
Esta vitória revela-nos também a o golpe de mestre, a sabedoria e o oportunismo (algo que nem sempre tem de ser mal entendido) do novo presidente em saber dar respostas imediatas a situações particularmente fragilizadoras de todo um sistema socialista , estagnado e em completa ruína prática (mas não tanto ideológica) decorrente da nova ordem mundial globalizante.
O simplismo interpretativo de muitas acusações de discriminação para com "os imigrantes" proferidas por Sarkozy aquando dos riots dos subúrbios de paris revela ao contrário de toda esta diversidade analitica, a percepção dos imigrantes como uma categoria homogénea, quando esses mesmos desacatos constituíram uma manifestação de uma comunidade de certa forma restrita e concreta maioritariamente de origem norte africana.
Aparentemente curioso terá sido o facto de muitos dos imigrantes portugueses em França terem votado em Sarkozy, alguns deles constituíram mesmo as listas de apoio ao novo presidente, o que em termos antropológicos poderá significar uma afirmação de integração da comunidade luso-francesa em território gaulês, procurando destacar-se e distinguir-se claramente de outras comunidades de imigrantes em geral mal vistas pela população francesa nativa.
Esta aparente discriminação face "aos imigrantes" por parte de Sarkozy é apenas revista nos discursos dos mais libertários e tendencialmente esquerdistas que procuram conceber igualdades dentro das naturais desigualdades. No entanto, e , felizmente os Franceses souberam ler e interpretar as palavras de Sarkozy com o mesmo intuito com que este as proferiu. Os franceses entenderam o problema e não o generalizaram. Contrariamente, afinaram miras aos problemas concretos, e são estas, que constituem o cerne motivacional e a esperança encarnados na vitória presidencial de 2007.
O pragmatismo do novo espírito francês soube resolver toda esta questão identitária, proferindo uma palavra final sobre a questão da imigração. Uma palavra final que exclui e inclui consoante os padrões concebidos como integrativos e exclusivistas para as diversas comunidades imigrantes em França.
Hoje pareceram sobrelevar-se os discursos de ordem relativamente á concessão da legitimidade de Sarkozy, o presidente eleito pelos franceses integrados, face á derrota de Ségolène Royal, a candidata de muitos que desejam integração e ainda não a conseguiram, mas também de muitos que não a desejam pelo menos da forma como a França está disposta a oferecer.
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2 comentários:
Respeitando sempre as opiniões dos outros, não posso no entanto, deixar de dar a minha. A política teria um efeito benéfico, se as pessoas soubessem exactamente o que está sobre a mesa e que com o seu voto poderiam escolher um determinado caminho para um país, tal não acontece. O jogo político acaba por ser um Sporting-Benfica um Porto-Sporting ou um Paris Saint Germain-Lyon, em que os adeptos se vestem a rigor, levam
as bandeiras, os cahecois, gritam, fetejam ou choram, conforme o resultado:1-0 ou 53%-47%, despedem-se treinadores, demitem-se ministros...e todos os anos começa um novo campeonato...quantas e qantas pessoas durante as férias de verão se sentem deprimidas porque os rádios não dão os relatos? Quantos se sentiriam deprimidos se não se pudesse falar do Sócrates e do seu canudo ou do presidente da câmara de Lisboa?? Haja um efeito positivo na política...a bola é a palavra, os bilhetes os impostos, os líderes partidários o Pinto da Costa ou O luís Felipe vieira.:)
O jogo político tem apenas uma regra: a escolha do mal menor.
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