terça-feira, 29 de maio de 2007

Identidades

A questão da identidade é crucial, ninguém adquire a sua identidade olhando para um espelho, advém da natureza sociável do animal humano e essa só se concretiza pelo contacto. Os processos em abstracto são relativamente simples. O homem nasce como indíviduo, com o tempo tona-se uma pessoa, ou seja adquire uma máscara, uma espécie de cosmética social que o torna um actor social, mais ou menos distinto dos demais. Tal realiza-se por processos sucessivos de oposição e consequente identificação, daí que para nós próprios não passemos de representações que fazemos a partir da representação da realidade que nos rodeia. As representações nascem da necessidade de classificar, classificando o homem pode ordenar a natureza onde se inclui, embora disso não faça por vezes a representação mais adequada. Ordenando cria-se uma ordem, a ordem mundial, a ordem nacional, a ordem da U.E., a ordem no fundo é uma invenção que nasce de classificações estrategicamente realizadas para servir certos fins, esses fins últimos encerram sempre dinâmicas de poder (Homo hierarquicus do Dummont creio). Daí qua a classificação e consequente ordem revelem a natureza hierárquica da espécie, ser social é respeitar uma hierarquia que nasce de classificações que inventam uma ordem. O chefe índio, o presidente americano, o primeiro ministro inglês, etc...meras classificações de uma ordem que serve o fim último da hierarquização e consequente concretização de relações de infra e supra ordenação. O réu e o juíz, o cidadão comum e o policia, o funcionário e o chefe, o aluno e o professor, etc...dinâmicas de poder mais ou menos acentuadas, que consoante os seus meios e capacidade de inventar e implantar novas classificações, se podem tornar iminentemente ameaçadoras para uma outra ordem, por exemplo a mundial. Porque não se chama branco ao preto e preto ao branco? Poderia perfeitamente ser o caso, não passam de signos linguísticos, que no entanto ao serem inventados ganharam vida própria, ganharam uma imagem acústica que lhes corresponde, novamente uma representação de um determinado fragmento de realidade, neste caso de duas cores que passaram a ser classificadas e que assentes num concenso justificaram uma hierarquia, a que sobrepõe aqueles que possuem "razão" quando chamam preto àquilo que em si não é preto, mas socialmente é aceite como tal, àqueles que invertendo as regras do jogo, decidiram representar o branco pelo signo linguistico preto. Se estes últimos triunfassem na sua invenção, uma parte da ordem mundial estaria ameaçada. Percebem como seria hilariante ouvir chamar preto ao Bush ou branco ao José Eduardo dos Santos de Angola?? A ordem não ruiria de imediato, mas tal aconteceria num curto iato de tempo, porque existem uma séria de outras classificações que dependem ou comandam esta. Mais uma vez as hierarquias, até na ordem das classificações humanas. A identidade mais ou menos marcada, mais ou menos diferenciada, depende pois das classificações e do aderir ou não aos concensos apresentados socialmente. O que acontece a quem não adere de todo a classificações? Não se considera que possua uma identidade, é ao invés classificado (num ciclo interminável porque não existe indiferença) como doente mental, o que acontece a um doente mental?? Vai para uma instituição classificada para o efeito e destinada a manter uma determinada ordem identitária.
Aderindo a determinadas classificações representativas da realidade, ordenamos igualmente o interior, num processo agencial que jamais deve ser passivo. Não à ditadura da TV.

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