sexta-feira, 4 de maio de 2007

O mundo globalizado e as fronteiras









visitando o Blog do Rafael Velasquez http://budaverde.blogspot.com/ não pude deixar de enviar o meu comentário .. talvez menos positivo em relação ás relações entre os Povos e os Homens numa conjuntura mundial de globalização onde se sobrelevam questões de Dinheiro, I e Emigração, Emprego, Diversidade e Identidade.

Segundo penso, embora possamos ser sonhadores e desejar um mundo melhor é sempre complicado fazer a ponte entre a utopia e a Realidade.

A Realidade é que embora todos os povos tenham desde sempre trocado objectos e até pessoas entre si nunca perderam por assim dizer "amor" ou a fidelidade ao seu grupo de forma a que quisessem facilmente juntar-se ao outro e extinguir-se identitáriamente na sua origem.

Desta forma, é inato ao homem e á sua construção cultural a hierarquização sobre-valorativa do grupo e da cultura na qual se nasce e se cresce. É por isso que o contacto com o outro é tão complicado, porque temos uma estrturura mental que se desenvolve de forma desigual ao longo da nossa vida e este é um marcador biológico que nos liga fortemente ao nosso grupo de socialização e de forma mais ténue a outros eventuais grupos com os quais tenhamos contacto numa fase da vida mais tardia.

Obviamente que seria bom que as pessoas se pudessem dar bem e respeitar entre si, mas para isso teria de haver uma revolução mais do que cultural, provavelmente biológica na nossa espécie sem que soubessemos á partida as catástrofes que daí poderiam advir...

a filiação para com os diversos grupos é a chave para a diversidade... imaginemos então que os americanos por exemplo , que se projectam ao mundo como povo exemplar , rico , nobre na ciencia e nas artes do cinema e da guerra, abastado em recursos e de atraentes possibilidades de consumo... se todos os restantes povos não possuissem o mecanismo identitário que lhes permite amar mais o seu berço do que o grupo do outro (algo que só se consegue com a exaltação provavelmente excessiva do interior e o denegrir do exterior) todos os restantes grupos de humanos queriam transformar-se em americanos, adoptando as suas estratégias de vida, os seus habitos , costumes, lingua abandonando todas as outras faculdades que cosntituem a diversidade (tão util e indispensavel para a sobrevivencia da espécie como a nossa própria diversidade genética).

Assim , facilmente podemos pensar uma revolução magna na humanidade implicando toda uma alteração da ecologia humana e o equilibrio e sustentabilidade da própria espécie.Por isso, e para que o ser humano tenha chegado aos dias de hoje, este mecanismo de alteridade cultural terá sido sem qualquer duvida uma adaptação biológica na sua mais pura essencia.

Por isso, o que eu penso é que fundamentalmente as pessoas deverao de conhecer a relatividade para compreenderem que o amor que têm pelo seu povo e pela sua nação , não é maior , menor ou mais ou menos legítimo que o amor que o outro tem pela dele, e que isso não implica que não possamos residir e trabalhar na terra do outro se a soubermos respeitar da mesma forma que respeitamos a nossa claro está.

No entanto esta compreensão também não impliaca a total ausencia de sentimentos decorrentes dessa mesma evolução biológica na relação com o outro e da necessidade de manutenção do grupo.. retornando ao exemplo americano... se todos os homens , mulheres e crianças do mundo quisessem ser americanos, fazendo contas á vida, cada americano teria de abdicar de X partes da sua riqueza e distribui-la por cada um dos novos "americanos", é aqui que entra a questão do emprego tão exaltada nas sociedades que actualmente recebem grande parte dos migrantes mundiais como as sociedades Europeias... biológicamente também não me parece provavel que a luta pela sobrevivencia que invoca claramente a ganancia estivesse de acordo com esse princípio solidário... daí o fecho das "portas", daí as fronteiras e as guerras entre os povos.

Eliminar fronteiras (como sugerem os mais romanticos e optimitas) seria o caos total ... perguntemos aos povos primitivos (esses bons selvagens que muitos de nós tendem a pintar) se também não constroem as suas fronteiras? As fronteiras existem desde que o homem é homem. Acabar com elas seria indubitávelmente o caos na humanidade. eliminar fronteiras seria como eliminar paternidades e filiações simbólicas, seria nascer sem patria (notemos a própria invocaçao da palavra que liga a terra á paternidade)como se se nascesse sem cuidados pater / maternais.. seria nascer sem protecção , mesmo que apenas simbólica e seria no fundo a ausencia total de pertença.

Podem dizer-me: -- ah, tudo bem, pertenceriamos ao mundo, seriamos cidadãos do mundo... eu posso dizer-vos que isso não existe. que isso tem uma existencia volátil e circunstancial e sobretudo ideológica na história da humanidade num ponto muito exacto entre o século XX e o XXI mas que de forma alguma é um dado adquirido á minima oscilação económica ou bélica ao nivel mundial...

De qualquer das formas nunca se é cidadão do mundo por complecto.. existem sempre locais onde não podemos entrar, noutros controlam-nos o passaporte, os dias de estadia , os vistos de permanencia, noutros rebentam bombas e chovem rajadas de tiros, noutros ainda embora não voem balas com essa facilidade não nos garantem sequer os direitos basicos aos quais estamos habituados... e porquê? porque todos no fundo querem gantir a sua sustentabilidade e evitar a "contaminação e corrupção" á boa maneira de Mary Douglas mas sobretudo a soberania como podemos ver por tres casos bastante emblemáticos da história contemporânea...

-- o nazismo alemão como resposta á ameaça da soberania alemã pelos povos judaicos, --- o caso da ex-juguslávia com a ameaça de terras cristãs por povos muçulmanos
-- o caso do Ruandês com recalcamentos hierárquicos de maiorias por parte de minorias de individuos de outras etnias...

Eu pergunto então... se nem as fronteiras conseguem eliminar de uma vez o aparecimento destes problemas , o que seria sem elas?

Eu faço um pedido apenas, o de que não sejamos ingénuos apesar de toda a nossa boa vontade.

2 comentários:

Moura ao Luar disse...

Um óptimo fim de semana para estes futuros antropólogos :-)

sapiens disse...

ah fim de semaaaaaana, nem me fales :)