A antropologia para mim é a relação com a alteridade, ainda que essa alteridade seja uma extensão de nós próprios a partir do momento que com ela interagimos. O antropólogo não tem que se tornar na alteridade que observa e com que contacta (isto no caso da antropologia cultural), tampouco tem que empunhar uma bandeira anunciando as vantagens dessa alteridade , se o fizer poderá estar a fugir à verdade. O que quanto a mim pode e deve fazer, é sensocomunizar essa diferença. Sensocomunizar é de alguma forma ultrapassar o etnocentrismo, pois só se torna comum o que de certa maneira não se apresenta como exótico. O exótico foi na verdade um dos primeiros alvos antropológicos, actualmente a diferença, encarada enquanto minoria, não deve ser assim tratada. Ao iniciar uma pesquisa sobre a prostituiçao travesti nos principais centros urbanos portugueses, nunca tive a pretensão do sensacionalismo ou se quisermos do exótico post-moderno, mas sim o objectivo de iniciar uma aprendizagem pessoal e profissional no sentido de ultrapassar o âmbito mais restrito do universo de valores onde me formei e continuo a formar, num processo inacabado que ganha novo folgo de cada vez que me proponho a algo novo, que me leve para a rua e para o contacto directo com as pessoas. É minha opinião e maneira de encarar a antropologia, a de que o antropólogo deve testar contantemente as suas fronteiras simbólicas, essencialmente. Julgo ser esse o exercício que o pode tornar melhor profissional e uma pessoa mais rica. Isso implica da minha parte uma maior valorização da teoria da acção do que da estrutura.
1 comentário:
Falas bonito amor
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