segunda-feira, 16 de abril de 2007

Racismo , xenofobia, homem branco , homem preto





Por vezes tenho uma séria dificuldade em distinguir racismo de xenofobia.
Isto porque acredito que o racismo é algo que ultrapassa a cor da pele e que fundamentalmente terá mais a ver com a cultura e com todo um sistema de valores que a suporta do que propriamente com a raça ou etnia.


Podemos constatar isso no caso dos judeus que embora na sua maioria fenotipicamente caucasianos são discriminados em todo o mundo cristão e islâmico. o mesmo se passa em relação aos próprios árabes ou médio orientais em geral (cuja cor não difere grandemente da dos ocidentais), historicamente menorizados pelos Europeus como nos clarifica Edward Said em "orientalism".


Quanto á questão do racismo em relação ao homem africano tudo se remete mais uma vez para a construção mental de que a cultura africana é mais primitiva e menos sofisticada do que a cultura europeia, ou seja, é mais do que cor de pele , existem concepções de hierarquização, separação (não contaminação) e de não fusão com valores dos quais é "feio" partilhar-se.


Tudo isto tem a ver sobretudo com uma memória histórica relacionada com as descobertas, com a ideia de que o "preto" andava descalço e era selvagem e muitas vezes canibal, não possuía armas de fogo e fundamentalmente muitas tribos subsarianas nem tão pouco tinham “chegado” á revolução do neolítico, algo que os europeus (ou os povos do crescente fértil que lhes antecederam) alcançaram há cerca de 10 000 anos. tudo isto assenta na concepção da historia como um processo linear onde todos os povos e culturas deverão de passar pelas mesmas fases do desenvolvimento e os que ainda não passaram por esta ou aquela etapa estão claramente atrasados face aos que já as experienciaram. de qualquer forma este argumento é tão facialmente rebatível com a simples utilização de uma parábola infantil: o dizermos que um tigre é inferior a uma foca porque ainda não desenvolveu "barbatanas" e não sabe deslocar-se em meio aquático uma vez que antes de estar no mar a foca foi um animal terrestre e que portanto já está mais evoluída do que o tigre... obviamente raciocínios como este não fazem sentido.

No entanto, o certo é que muitas vezes o relativo e o absoluto não falam a mesma língua e que embora em termos relativos possamos pensar a história de uma forma não linear nem tão pouco absolutamente evolucionista a verdade é que em termos absolutos o homem branco conseguiu sobrelevar-se sobre os restantes, construindo para si uma base estatutária quase impossível de derrubar (como podemos ver no cartoon) através da construção de um discurso de hierarquização cultural onde o negro por norma ocupa a base da estrutura e o oriental uma posição intermédia, logo abaixo da do caucasiano ocidental , que protagonizou a "invenção" ou a melhor aplicação das técnicas e tecnologias e que isso faz dele sem duvida uma máquina de guerra e poder sem par.

É bom que não esqueçamos que o próprio caucasiano se hierarquiza internamente sendo o obra prima da criação divina o WASP anglo-saxonico sendo que, logo, e, mais uma vez não podemos falar em raças ou etnias, mas em pequenos traços culturais distintivos que conduziram historicamente a piores ou melhores resultados organizativos das sociedades e consequentemente a vitórias ou derrotas na competição entre os povos. Estas causalidades multidimensionais não podem por motivos históricos ou mesmo de exaustão de variáveis ser averiguadas o que faz com que simplesmente o homem acabe por materializa-las na naturalização da melhor tez mais ou menos escura, na cor dos olhos, do cabelo, mais claro , mais escuro , mais liso ou ondulado , ou na religião professada e que os considere como os verdadeiros responsáveis pela soberania de um povo e naõ de outro.


A "raça" (coloco entre aspas não por não considerar que ela não existe mas porque a comunidade cientifica quer acabar com o termo embora sinceramente acredite que não é com novilingua que se destroem conceitos radicados em valores identitários básicos como este) é fundamentalmente um aglutinador de pessoas sob um ponto em comum, a raça é uma categoria que une abstractamente pessoas, tal como a religião, a nacionalidade, o status social, o nível educacional, a ideologia politica etc... em todas estas categorias existem guerras e disputas por direitos e pelo acesso ao poder


Assim, penso que a única forma de se diminuir os conflitos será talvez uma minimização das diferenças em vez de se acentuarem ainda mais, e muito pessoalmente acredito que isso se faz com integração nacional e não com multiculturalismo (peço desde já as minhas desculpas aqueles que acreditam fielmente nesta ideologia / utopia)


Por outro lado acabamos por encontrar a mesma lógica que encontramos por exemplo face á homossexualidade ( temática que estou a estudar em concreto , mas tal como estas, outras minorias que o valham) ou seja, as pessoas discriminam no abstracto mas no concreto torna-se mais complicado discriminar porque se conhecem as pessoas reais altura em que se torna mais difícil encontrar pontos de divisão ou separação entre pessoas e que mais facilmente se encontram pontos em comum.


Depois penso que poderão existir questões de acumulação de características que aliadas á raça podem exacerbar aparentemente a importância desta. por exemplo quando pensamos em pessoas negras sabemos que elas não são todas iguais, tal como ninguém é igual, e, provavelmente teremos uma impressão diferente de um aluno universitário que tem a pele escura do que temos de um rapaz , igualmente de pele escura que vive no gueto e está inserido em gangs que traficam droga e praticam outro tipo de crimes. a valorização não poderá de forma alguma ser a mesma, no entanto , não existe um termo para designar o individuo branco que também se encontra neste gang. Se uma pessoa discrimina o individuo branco essa discriminação não tem nome, se uma pessoa discrimina o individuo negro essa discriminação tem um nome muito sonante : RACISMO, quando no fundo a critica poder-se-á estar a dirigir-se a outra dimensão do individuo que não a raça, como por exemplo o estilo de vida, as actividades ilicitas , etc...


O conceito de racismo tornou-se assim ele próprio um conceito polémico o qual é importante trabalhar e destrinçar nas suas múltiplas acepções


No entanto há que não esquecer que o racismo não é apenas uma questão unidireccional, pois, sendo a raça um suporte visível para a construção de categorias e posicionamentos em hierarquias temos obviamente também um racismo contra caucasianos que muitos dos críticos tendenciosos se esquecem de mencionar nomeadamente em países africanos que pretendem separar-se da influencia / dominância ou paternalismo dos europeus e que constroem discursos absolutamente racistas e ideologias como a da negritude assente obviamente na Raça. muitos casos na África do sul são bastante representativos como por exemplo o facto de os jogadores de rugby brancos são ameaçados de ver os seus passaportes confiscados caso não sejam seleccionados mais jogadores negros para a selecção nacional, ou o caso que já tem alguns anos onde se discutia a legitimidade da miss Angola ter uma tez "demasiado" clara...


A salientar que nada disto é uma questão racista, mas sim relativista, pensar que o racismo é apenas um comportamento do branco para o preto é considerar a existência de diferenças fundamentais até na própria estrutura de pensamento do individuo negro (mais uma vez inferiorizante)...


5 comentários:

Moura ao Luar disse...

Penso sinceramente que isso nunca será ultrapassado, infelizmente

bela lugosi`s dead (F.JSAL) disse...

No fundo esses dois conceitos são idênticos, a sua derivação semântica advém da necessidade classificativa da espécie humana e quanto a mim a palavra xenofobia, surge em consequência dum contexto de globalização, com os inerentes fluxos de pessoas, para referir as conflitualidades emergentes e latentes entre diversas nacionalidades. Assim xenofobia, etimologicamente direciona-se a qualquer outro indivíduo, que não partilhe a nacionalidade. A natureza e cultura lado a lado nos processos de diferenciação social, muitas das vezes dolorosos.

sapiens disse...

sim, também concordo, nunca irá desaparecer e xenofobia é um termo mais abrangente do que racismo... no entanto devido á visibilidade mais imediata do ultimo este acaba por ter um uso mais corrente embora muitas vezes se esteja a "abominar" a cultura em vez da raça.

Rafael disse...

O racismo do negro na África contra o Branco, como você disse ai, é plausível, já que o Branco destruiu e escravisou todos os Reinos e Impérios africanos, quanto ao racismo e a xenofobia, acho que isso nunca vai acabar, ou cada grupo humano vai ter o seu lugar, futuramente(quem sabe numa África reestruturada), no mundo, ou então uma tão sonhada miscigenação global(utopia).

Rafael disse...

O racismo do negro na África contra o Branco, como você disse ai, é plausível, já que o Branco destruiu e escravisou todos os Reinos e Impérios africanos, quanto ao racismo e a xenofobia, acho que isso nunca vai acabar, ou cada grupo humano vai ter o seu lugar, futuramente(quem sabe numa África reestruturada), no mundo, ou então uma tão sonhada miscigenação global(utopia).