sábado, 21 de abril de 2007

considerações sobre a prostituição

                   


Reflectindo hoje sobre a questão da prostituição...

Considero que não devemos de reduzir o homem aos seus devaneios mentais que se culturalizam, e cuja sua variabilidade é muitas vezes equacionada, como por exemplo na corrente culturalista, a um fenómeno tão aleatório como a geração espontânea entre outras
filosofias místicas originárias existentes no paradigma pré cientifico.


O lugar da prostituição feminina independentemente da sua normatividade social, ou seja, tendo já em conta a sua construção cultural relativizada, parece condensar em si mesmo a confusão.

Parece haver assim uma dificuldade na definição, não na palavra ou da clarividência conceptual que temos dela, (pois tal como rezam os ditos populares é a mais velha profissão do mundo, logo a invenção de uma palavra que a designe terá eventualmente de ter sido também uma das primeiras) mas sim na ambiguidade dos ideias e contradições emocionais e sistemáticas que subjazem a esta profissão.

Este estilo de vida, se assim podemos definir a prostituição, constitui sem duvida uma das ameaças aos sistemas de pensamento identificadas por Mary Douglas em pureza e perigo, na medida em que ameaçam a conjugalidade e a monogamia (pelo menos nas culturas europeias).
Desta forma, esta actividade torna-se uma prática impura pois encontra-se no limiar da cultura
transgredindo as linhas internas de um sistema.

Esta transgressão é assim considerada como poluiçao ou seja, "barulho" e entropia que ameaçam a boa ordem das coisas e que constituem por isso uma forte ameaça ás estruturas éticas e morais de uma sociedade.

Mas, segundo penso, devemos de ir para alem deste diagnóstico estruturalista assente na organização do pensamento humano e centrar-nos quer na universalidade desta prática, quer na universalidade desta abominação para alem dos sistemas simbólicos.


O "problema" relativo á prostituição é no fundo uma contradição.
Esta contradição deverá de ser focada na própria lógica que sustenta a sua existência:
 ---- a valência biológica diferencial e intersexual do apetite sexual humano e a necessidade masculina pela variedade sexual, contrastante com uma maior selectividade e restrição numérica face aos pares de acasalamento resultantes da escolha feminina.

Para suplantar a sobre-necessidade sexual dos indivíduos masculinos face aos indivíduos femininos gera-se , pela mais simples lógica da oferta e da procura, um mercado de oferta sexual feminina.

O constrangimento vem precisamente do facto de que este apetite sexual por variedade contrasta com a anguista da paternidade.

Podemos também assim perceber o porquê da ausência generalizadas de troca de parceiros sexuais, embora existam exemplos de comunismo sexual como por exemplo o descrito por Marcel Mauss no “Ensaio sobre as Variações Sazoneiras das Sociedades Esquimós” ou mesmo a emergência na sociedade contemporânea ocidental de práticas cada vez mais comuns como o swing.

No entanto todas estas práticas entram em contradição com o ciúme, mecanismo que evoluio também diferencialmente em cada um dos sexos, mas que favorece o sucesso reprodutivo dos indivíduos sejam eles masculinos ou femininos. Se pensarmos evolutivamente, os indivíduos que não tinham ciúmes do contacto sexual entre as suas parceiras e outros machos corriam sérios riscos de não virem a ser os pais crias destas e como tal, não serão provavelmente os nossos antepassados, mas sim, indivíduos cuja codificação genética se perdeu algures no tempo (levando consigo a ausencia do ciume).

A prostituição assenta assim numa necessidade contraditória que tem como personagem central o individuo masculino em vez do feminino, pois é o primeiro que acaba por classificar e ter toda uma relação dupla com o fenómeno.

Esta dupla acepção deve-se primeiro á necessidade da existencia de um mercado sexual mas cuja valorização é feita muito negativamente devido á existência do mecanismo do ciúme.

isto permite assim que fundamentalmente  possam existir certas mulheres que, por necessidade extrema o façam, mas onde se mantenha uma liberalização da actividade sexual feminina altamente restrita (eis o porquê de a prostituiçao não ser totalmente ilegal em nenhuma sociedade do mundo, embora seja sempre restrita e restritiva.)

O objectivo de que esta prática se mantenha sempre uma actividade, não só oculta como condenável, favorecerá o desprestigio social de qualquer das esposas dos consumidores sexuais  que a possam vir a pratica-la, de forma a que estas não comprometam a paternidade dos seus pares masculinos com actividades de poligamia.

Obviamente poderemos considerar este sistema de constrangimentos á masculinidade como um constitutivo da própria condição feminina por parte dos homens que, não só lhes confere a guarda do par, como a construção de uma dualidade simbólica da feminilidade:
-- a mulher sob o seu controlo é a virgem , mãe (dos seus filhos claro),
-- a mulher autónoma e livre sexualmente é sempre conotada com um leque vasto de termos socialmente negativos e desvalorizantes... da libertina á prostituta.

Poderemos assim avançar que o aparecimento da cultura é o maior mecanismo de controlo do outro (especialmente do feminino) suplantando largamente e a longo prazo qualquer dominância assente na força física como eventualmente terá sido praticada pelos nossos antepassados não humanos.

A vitória da cultura parece assim representar a vitória do mundo masculino sobre o mundo feminino, pois é ela que permite a criação de todo um conjunto de mitos de monstros e inseguranças existentes para alem das fronteiras da aldeia (ou conjunto territorial onde ficam confinadas as mulheres e as crianças) .

Esta capacidade de produzir cultura, arte , palavras , lendas e mitos permitiu assim aos indivíduos masculinos um mais fácil acesso ás garantias das suas próprias necessidades sexuais.

A monogamia (ou pelo menos o racionamento na distribuição mais ou menos igualitária das fêmeas por cada um dos machos constitutivos de uma sociedade ) poderá eventualmente ser a melhor estratégia para o garante deste controlo culturalizado sobre o feminino , universo este que fica agora confinado a uma territorialidade restrita por fronteiras de onde apenas os homens estão autorizados a trespassar.


O aparecimento da cultura será provavelmente o mecanismo revolucionário do patriarcado que retirou os homens da sua perseguição , muitas vezes servil das hordas femininas (sobretudo recolectoras) e que por isso mesmo estariam sujeitas aos desígnios da natureza no que respeita á recolha do alimento.

Eis mais uma vez aquilo que parece ser o porquê da conotação mitificada da mulher com o mundo natural e do homem com o mundo cultural, e eis mais uma vez a origem da inversão do estatuto do matriarcado original, para o patriarcado actual. Realidades que cronologicamente poderão não andar tão desfasadas de um real mas que têm muitas vezes sido apenas interpretado como Mitos de origem, histórias inventadas, logicas de  inversão simbóilicas estatutárias sem fundo de verdade e nada mais .





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