sábado, 21 de abril de 2007

Em frança, mudaram-se os tempos , mudam-se as vontades

                        


Para comprovar o carácter eclético deste espaço decidi falar um pouco de política uma vez que esta subjaz a toda e qualquer sociedade humana.

Para o bem ou para o mal, as eleições em França neste ano de 2007 têm uma importância que suplanta em larga medida a da "simples" eleição do presidente francês.

Elas parecem na verdade estar a revelar um ponto de viragem fulcral na história e na mentalidade dos povos europeus e na sua percepção de que se atingiram os limites de algumas das bases do socialismo, assentes não só em supostas igualdades que (sabe-se "agora") afinal não existem (ou pelo menos não na formula simplista sob a qual foram concebidas), como também ás fortes e já recorrentes evidencias empíricas da existência de mecanismos sociais (constituídos com os impostos de quem trabalha) que acabam por ficar votados a utilizações parasitárias, gastos em integrações falhadas ou em mecanismos multiculturais que rompem com os limites de tolerância das populações autóctones culminando inevitavelmente em conflitos sociais.


É keynes quem primeiro nos fala de modelos económicos eternamente em alternância. aliados a estes alternam os modelos sociais e políticos entre o liberalismo e o conservadorismo.  Penso que nos encontramos enquanto europeus precisamente num ponto de revira volta já sem retorno possível.


O século XX começou com a exaltação de liberdades falhadas que pressupunham o derrube dos antigos regimes de reis e Czares, através de inúmeros movimentos populares , comunistas e republicanos.

Estes movimentos libertários rapidamente originaram regimes austeros e totalitários, regimes

que caíram sensivelmente após o final da segunda guerra mundial.

o ponto da viragem desta nova era do inicio do seculo XXI marca-se a contra relógio para uma clara diminuição das "liberdades" e dos direitos adquiridos (económicos, laborais, humanos) aproximando-se de um novo equilíbrio despertado pelo aparecimento de novas economias emergentes que retiram progressivamente o protagonismo ao mundo ocidental.

A história do século XXI não parece andar muito longe do mesmo rumo que seguiu o passado século .

Em França obviamente todos estes elementos reveladores de descontentamento perante as politicas vigentes só vêm á luz numa altura onde se pede consecutivamente á classe trabalhadora que aperte o cinto devido ás conjunturas globalizantes e de escassez laboral que o nosso país também conhece...


Já diz o velho ditado... casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. por isso ´é claro e evidente que toda esta situação se põe nos pontos em que a encontramos hoje devido á recessão económica (grande inimiga do estado social).


Não considero que seja anormal a tentativa defensiva ou de preservação por parte dos europeus em casos onde se vêm realmente ameaçados os pilares de uma sociedade assente  em dois pilares fundamentais democracia e na economia capitalista.


Para compreendermos a situação politica francesa , de momento a mais flagrante mas com certeza não sendo a única, deveremos de evitar a recorrência a simplismos de cariz emotivo e puramente opinativo como alguns que por aí tenho ouvido de que : -- a população francesa afinal não está tão evoluída como se pensava... sendo assim penso que me é legitimo perguntarmo-nos o que é que é ser evoluído? é continuar nos dias de hoje a ver o mundo com os olhos de ontem? ou interiorizar a mensagem que muitos acharam interessantíssima e reveladora aquando da queda dos regimes autoritários , mas a qual já não acham pertinente, (não obstante a sua intemporalidade) e que assim reza:

Mudam-se os tempos mudam-se as vontades


No fundo custa ver morrer o sonho de todo um conjunto de gerações que cresceram

... Com a ideia de um estado social, de certo modo paternalista, que lhes forneceria reformas para uma velhice que cada vez se estende mais,
... Na ideia de que os salários aumentariam todos os anos,
... Na ideia que se arranjaria um trabalho para a vida,
... Na ideia de que o progresso seria infinito e inalienavel,
...Na ideia de que os direitos adquiridos não reconheceriam retrocesso em qualquer circunstancia,
... Na ideia de que o ocidente seria para sempre hegemónico relativamente as restantes geografias do mundo,
...Na ideia que os direitos do homem são coisas naturais e não construções sociais

... entre outras tantas ideias que agora lhes vêm escapar por entre os dedos...

O trunfo da humanidade tem sido e será mais uma vez a capacidade de adaptação ás novas circunstancias... no entanto esta readaptação não se fará sem revolta e sem o derramamento de sangue numa Europa que não o conhece há já meio século.

12 comentários:

bela lugosi`s dead (F.JSAL) disse...

Esse Francês com nome de russo, prepara-se para ganhar as eleições...depois digam-me que lógica existe nas massas, senão a da ilógica?? O homem viu-se negro no ano passado com toda aquela revolta e m Paris e arredores.

sapiens disse...

Eu não acredito na ilógica , a nao ser na sua existencia conceptual por oposição a tudo aquilo que é lógico e que fundamentalmente é o resultado da cogitação humana.

bela lugosi`s dead (F.JSAL) disse...

Desculpa sapiens...eu não acredito na lógica...mas sim em várias lógicas, entre as quais a lógica do ilógico. Porque a lógica...também é uma questão de civilização, de cultura:)

sapiens disse...

Se é lógica do ilógico então é lógica e não ilógica. a ilógica é a negação do pensamento humano tal como ele existe. obviamente ele é variavel e sim , tem na sua base elementos estruturamentes completamente diferentes, mas a todas estas lógicas, subjaz uma logica maior que é universal, ela é pura e simplesmente opositiva e hierarquizante dentro de um sistema, o que significa que o raciocinio gerado na apreciação / avaliação de algo terá de estar fundamentado no , e de acordo com o sistema.

Assim, penso qeu poderiamos definir como ilógico algo que não opoe nem hierarquiza de acordo com os sistemas onde o juízo ou o pensamento é realizado mas muitas vezes contra eles.

As pessoas que realizam esse exercicio de ilógica são em todas as sociedades sem excepção consideradas diferentes, uma vez que a norma exerce o exercicio lógico, mas acontece claro, que a sua consideração e apreciação de acordo com o sistema feita pelas pessoas com raciocinios lógicos dentro do referido sistema também varia e essa diferença poderá ser marcada quer como genialidade ou pura demência.

bela lugosi`s dead (F.JSAL) disse...

Pois...é a tua opinião...mas devo dizer-te que a lógica limita o pensamento livre, conforma-nos a pensar de modo lógico. A arte não tem que ter lógica por exemplo.A lógica será sempre um produto, não uma condição. Porque é que se chama vermelho ao vermelho?? Porque se consensualizou que assim seria...e assim nasceu mais uma classificação lógica.:)

sapiens disse...

Sem duvida, o pensamento artistico é desafiante das logicas existentes, no enatanto também não quer dizer que parte da criaçao e da arte não vão mais uma vez atreladas a logicas permitidas, toleradas e claro, compreendidas pelos outros. Se se teimar em ser completamente desarticulado do outro cair-se-á inevitávelmente na solidão.. mas sim, pelo que dizes também é verdade que se nao gostar da solidão é consensual, também se é livre para optar por outra lógica... talvez ilógica de se permanecer só... se o desvio for demasiado desembocamos mais uma vez na demencia ( obviamente não do individuo mas do que os outros vêm nele)... chatice do demos sermos um bicho social... bah

sapiens disse...

a verdade é que se a lógica limita o pensamento livre é uma grande verdade também é verdade que sem ela não seria possivel a nossa existencia uma vez que ela é um sistema de pensamento que permite a cooperaçao dos seres humanos... mas também concordo, um bocadinho de ilógica talvez seja o catalizador do desenvolvimento de novos sistemas lógicos, no entanto a ilógica nunca ultrapassará o estatuto de "enzima" ,uma enzima que contribui para o desenvolvimento de novos sistemas LÒGICOS, a nada mais.

bela lugosi`s dead (F.JSAL) disse...

É lógico...que o que dizes faz sentido (palavra chave, fazer sentido), mas ao admitires que existe uma espécie de dialéctica entre o ilógico enzimático e o posterior sistema lógico...admites a sua existência. Fazer sentido dentro de um sistema (utilizas a palavra sistema), não significa ser universal, assim a lógica relaciona-se sempre com um sistema inventado. A lógica é pois uma invenção...o ser humano busca na verdade a lógica, mas o mais natural nele é a ilógica, se assim não fosse e o inato nele fosse a lógica, ele não precisaria de a procurar...porque a lógica estaria nele mesmo.

sapiens disse...

sim, também é verdade , esse exercicio dialético torna toda eta discussão numa questão muito platónica onde a mente humana tenta organizar o mundo em seu redor. para isso testa diversas lógicas, que são no fundo sistemas integrativos... testa várias precisamente porque variaveis aparecem que muitas vezes não cabem nos sistemas já formulados. podemos comprovar isto pela simples teoria geocentrica, derrotada pelo heliocentrismo através da compreensão do movimento dos astros. O mesmo se passou com o criacionismo, substituido pelo paradima evolucionista devido á descoberta, entre outras coisas, dos fosseis e da hipotese teórica evolucionista que não sustentavam de forma alguma os 6000 anos da existencia do Homem no mundo.
Penso que o que é invenção são as subsequentes formas de lógicas integrativas que o Homem descobre.. mas assim acabamos por entrar noutra discussão.. o que é que é descoberto ou o que é que é inventado..

bela lugosi`s dead (F.JSAL) disse...

O que é descoberto, pré existe à descoberta, apenas o complexo de superioridade do homem leva a considerá-lo como descobertas...assim, o heliocentrismo já existia, quando alguém previamente inventou que era geocentrismo...a invenção parte da mesma insegurança da espécie, só que não constatando um facto pré existente de forma antropomorfica, mas sim inventando-o, para assim dar vazão à sua necessidade de domínio sobre a natureza. Em quaisquer dos casos, tanto da existência de lógica, como das descobertas ou das invenções, o que o homem pretende atingir é o domínio da natureza e dos seus conspecíficos, enquanto natureza, dos quais se distancia pela racionalidade, ao considerar que inventou, que descobriu ou que conferiu lógica.A profunda angústia da espécie que quer dominar a natureza, lutando por isso, contra si própria, enquanto parte integrante da natureza.No fundo, o fim da último da espécie é o conferir ordem à sua profunda e inata desorganização estrutural.

sapiens disse...

Sem duvida concordo, a invenção, a descoberta e a razão, feitos os quais o homem apenas reconhece á sua espécie (e que mesmo dentro desta os distribui de desigual forma)constituem discursos identitários de si próprio para um suposto outro que não ouve nem responde. esse outro é todo o mundo natural e animal. no entanto estas mensagens surtem efeitos apenas em si, nos homens que produzem esses discursos. É comum encontrar em todos os povos humanos escritos ou cantos, líricos, poéticos ou noutros tantos estilos, onde rezam histórias semelhantes aos Lusíadas portugueses entre outras "ilíadas" e "odisseias", tudo feitos, ou mitificações exageradas dos mesmos em tempos passados (e como tal não comprováveis). Isto tudo para mostrar a glória do Homem e tal como disseste o seu dominio sobre a natureza bem como sobre os outros homens.

bela lugosi`s dead (F.JSAL) disse...

:)isso mesmo colega!!!