domingo, 8 de julho de 2007

Simplificações complexas, complexificações simplistas ou falta de conceitos para pensar?






É certo que no nosso Bilhete de Identidade não consta o nosso sexo pois este está implicito no nome dos individuos, mas é certo também que se constasse seria reduzido ao binómio Homem / Mulher ou Masculino/ Feminino.

Durante o meu trabalho de estágio as questões do sexo, género e identidade sexual foram tema central dos meus estudos. Compreendi que nenhum de nós se pode localizar a 100% em qualquer dos estériótipos concebidos socialmente para cada um dos sexos e que na realidade aquilo a que vulgarmente chamamos sexo é algo mais complexo do que a simples marcação genital ou sexual secundária. Decidi então esboçar uma espécie de BI referente á identidade e orientação social e sexual:
este deverá de ser preenchido segundo o binómio opositivo original: Homem / Mulher ou Masculino / Feminino

Sexo reconhecido bilógicamente: Feminino
Género de identificação: 75% Masculino ---- 25% Feminino
Orientação sexual: Orientada ao Masculino
Orientação social: Orientada ao Masculino.


Os termos orientada ao Masculino / Orientada ao Feminino prendem-se com o facto dos próprios termos Heterossexual, Homossexual e Bissexual serem redutores , resumindo a orientação á homologia ou oposição da genitália dos individuos. No sistema de classificação dos índios Navajo por exemplo, a orientação sexual é definida não de acordo com o sexo reconhecido biológicamente mas sim com o género de identificação dos individuos, desta forma uma pessoa com um sexo biológico reconhecido como Masculino poderá ter uma identidade de género feminina e nesse sentido ao contrair uma relação afectiva com um individuo cujo sexo biológico é reconhecido como masculino e cuja identidade de género seja igualmente masculina estará numa relação heterossexual e não numa relação homossexual como seria classificada na nossa sociedade. em resumo, a homosexualidade caracteriza-se pela homologia de género e não pela homologia do sexo biológico.

Outras questões surgem relativamente ao género que me levaram a abordar aqui a orientação social. Muitas vezes acontece que crianças do sexo masculino gostem de brincar e de socializar com grupos de crianças do sexo feminino e vice versa, na nossa sociedade temos isso como uma situação "anormal" ou pouco comum começando muitas vezes a suspeitar de que os mais pequenos poderão estar a desenvolver uma orientação sexual fora da norma heterosexual. Isto acontece pois não concebemos que para além da orientação sexual as crianças (e também os adultos) possam ter uma orientação social preferencial. A orientação social refere-se á preferencia que todos nos temos relativamente ao sexo / identidade de género dos individuos com quem nos relacionamos, eventualmente poderão existir preferencias na socialização de um individuo com um ou outro sexo / género ou dividir-se uniformemente por ambos os sexos / géneros (orientação social bissexual) o que nada tem a ver com a orientação sexual dos individuos. De facto a orientação social pode coíncidir ou não com a orientação sexual.

desafio-vos agora a preencherem também vocês o Bilhete de sexo , identidade de género e orientação social e sexual!

6 comentários:

bela lugosi`s dead (F.JSAL) disse...

Oi Sapiens, concordo com aquilo que em traços gerais expuseste e que se resume à questão do sexo poder não ser coincidente com a identidade de género. Mas houve uma coisa no final que não entendi, a parte da orientação sexual, poder não ser coincidente com a orientação sexual.

sapiens disse...

Bah, tens razão , era orientação social.. já corrigi :P

bela lugosi`s dead (F.JSAL) disse...

:)

Acho que a defesa do trabalho vai ficar para depois sapiens, o tempo aperta e não vejo saída...

Anónimo disse...

hello,

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André Benjamim

Henrik disse...

Muito bem Sapiens, mas tenho dúvidas nesta questão em particular. Há um problema de base que se pode depreender da tua informação, pode-se dizer que se envolve na área da «classificação». Mas comecemos por partes, não conheço actualmente definições - inclusive as cientificas que não sejam provisórias - mas não me vou dispersar. Concordo com todo o início, com a proposta apresentada, mas necessito de uma clarificação: pode-se assertivamente falar-se em homologia de género e de sexo biológico como binónimos opostos? não falo de preconceitos que sem dúvida estão implícitos e necessitam de ajuste (e não é disso que se trata quando definimos?9. A questão é a seguinte quando definimos em termos de género referimo-nos ao quê? e a questão biológica é dissociável? a homosexualidade não é um problema só a nível social é-o também a nível biológico, talvez até só neste último nível. Quanto às crianças de facto o problema é muitísssimo vasto porque se atentarmos até à venda de brinquedos reparamos que há uma tendência uniformizadora e a questão é sempre: quais são os modelos a que nos referimos quando aplicamos um padrão? como calcularás estas questões devem ser reflectidas. Por fim, bom trabalho e boas escritas espero por mais=)

sapiens disse...

Sem duvida Henrik que a questão do género é deveras complicada, mas penso que a sua definição é indissociavel da nossa dimensão social. Não sei obviamente se o meu pensamento está correcto, pois como tu próprio disseste os paradigmas estão sempre a modificar-se e a ciencia é um contínuo de duvidas e de novas descobertas. de qualquer das formas o género acaba por ser um modelo, uma forma, uma espécie de corrector da espinha dorsal que os pais e a sociedade em geral colocam nos filhos. Quando a criança nasce, os seus genitais são avaliados e é-lhe atribuido um sexo biologico inequivoco ao qual todos esperam que corresponda o seu género, é por isso que de imediato se o bebé tiver genitália feminina é considerado menina socialmente e lhe são ofertados vestidos e brinquedos cor de rosa, o mesmo para os bebés com genitália masculina na versão oposta.

quando me referi á homologia de género e sexo, estou a falar de um termo também pouco utilizado que é o cissexualismo / cissgenerismo que define a concordancia esperada pelas sociedades face ao sexo e ao género. as pessoas que não cabem neste modelo de concordancia são em determinado grau pessoas transgénero.

o que seria curioso avaliar, se isso fosse possivel seria em que medida as pessoas seriam mais ou menos transgénero se a imposição de moldes de brincadeira, desenvolvimento, posturas, práticas e até desejos e ambições não fossem tão segmentadas com base no género.

no outro dia deu uma pequena reportágem sobre isso, num daqueles programas onde fala um pedo-psiquiatra (penso que seja essa a sua formação) e que analisa os discursos das crianças relativamente a diversos assuntos. a temática éra precisamente essa , as diferenças entre meninos e meninas e a maioria das crianças com idades de aproximadamente 4 e 5 anos afirmava já uma grande clivagem entre os géneros denunciando-se como pertencente a um e não a outro, abominando em geral as práticas e brincadeiras do outro género. os meninos diziam que não gostavam de brincar com bonecas porque elas eram pirosas , as meninas diziam que gostavam delas porque tinham vestidos bonitos, roxos e cor de rosa. ou seja, as justificações não parecem muito plausiveis porque provavelmente não foram construidas de dentro para fora, mas sim de fora para dentro através dos modelos dos adultos. no entanto , no meio de todas essas crianças apareceram duas, um menino e uma menina, a menina gostava de jogar á bola e dizia que não gostava de bonecas precisamente pelo mesmo motivo que os meninos diziam não gostar delas, também um menino dizia que gostava de brincar com bonecas.. confesso que me surgio de imediato a ideia de que provavelmente ainda não havia sido reprimido relativamene a isso , mas que socialmente e inevitavelmente esses comentários e repressões iriam acontecer e o menino seria encorajado a aderir ao modelo dominante por meio de diversas recompensas.

a divisão de género parece ser uma forte culturalização das diferenças biológicas associando-lhes pilhas de outras caracteristicas como marcadores de identidade. estas caracteristicas são muitas vezes naturalizadas e aí é que se encontra o verdadeiro prblema do género, ou pelo menos daqueles que estão além género e que se expressa numa coacção para a pertença aos modelos formatados que não se coaduna com a verdadeira natureza dos individuos.