domingo, 1 de julho de 2007

Eu sou novo aqui

A questão essencial para mim, é respeitar a opção dos indivíduos, as suas escolhas, principalmente quando se pode efectivamente tratar de algo mais do que simples escolhas. Já vi aqui comentários, que podem induzir a que se pense na questão das travestis, como sendo algo equiparável à homossexulidade, sob o ponto de vista analítico. Não é essa a minha opinião. Ser gay, pode não ser na maior parte dos casos uma questão de escolha, mas sim algo que está no indivíduo. Quanto a ser travesti, há quanto a mim, claramente um transcender dessa condição de se ser homossexual, porque existe um decidir actuar sobre o corpo. A pessoa não exerce apenas a sua homossexualidade, vai para além dela ao "inscrever" no corpo as marcas de uma identidade (Kafka, Mauss), de uma identidade criada e reinventada todos os dias, de cada vez que se actua sobre o corpo, como marco mais visível e imediato de relação com o outro. Não sinto necessidade de fazer uma defesa das pessoas com quem contactei e contacto, pelo menos não mais do que faria relativamente a qualquer outro indivíduo. A razão é simples, do meu ponto de vista, essas pessoas são mais fortes e determinadas que a maioria, estando sob esse ponto de vista mais habilitadas para o fazer. O que expresso aqui claramente, é o meu respeito por uma diferença assumida contra tudo e contra todos, relativamente à qual pagam uma factura elevada a diversos níveis da sua vivência quotidiana. Quem conseguir olhar para além do exótico, verá simplesmente a pessoa, nas suas alegrias e angústias. Verá apenas o ser humano, despido das suas marcas identitárias exteriores, que passam a ser secundárias, embora não inexistentes.

8 comentários:

sapiens disse...

Sem duvida que a orientação sexual e a identidade de género são elementos constitutivos dos individuos e não podem ser alterados e, que acima de tudo são normais (durkheimianamente falando) e naturais (biológicamente). Já a questão do travestismo é algo mais complexo mesmo para quem estuda o fenómeno. Podemos pensar que é uma opção das pessoas, mas podemos igualmente pensar até que ponto esse facto não é uma necessidade com multiplas motivações e nessa medida igualmente legítimo, embora se torne problemático socialmente no que respeita áo próprio lugar do individuo não normatizado de acordo com os padrões sociais.

Marta disse...

Também concordo que a homossessualidade já está dentro do indivíduo, a escolha deste reside em assumi-la perante a sociedade ou não! E por detrás de todas as pessoas, existe um coração humano com bloqueios e tristezas, aquilo que nos difere uns dos outros é as escolhas que fazemos na vida.

Moura ao Luar disse...

Nunca tinha visto as coisas por esse ponto de vista, mas devo dizer que concordo contigo, há um assumir verdadeiro daquilo que se sente perante a sociedade. Beijo

Henrik disse...

Talvez o sapiens tenha focado o ponto essencial. Em todo o caso, lá pela homossexualidade ser mais natural de um ponto de vista não quer dizer que o travestismo também não o seja. O travestismo de certo modo imita uma mímica teatral que é componente do individuo. Temos tendência para essa artificialidade (atente-se que não há aqui juízos de valor). Parece-me em todo o caso em todas as situações que fogem à «normatização» não há como resolver essa questão senão em sociedade. Quer dizer, estas questões do ponto de vista sociológico só se podem aceitar se o panorama global mudar. Assim sendo, serão indeterminadamente postos à margem...e sem dúvida que deve ser relembrado que independentemente das opções se deve tratar as pessoas pelo que são perante nós, e não pelo que aparentam. Não vejo razão para descriminar desde que se respeitem mutuamente o que já escapa largamente à realidade. Em todo o caso há que aprender a aceitar aquilo que não concordamos se isso não nos implicar a nós como indivíduos. É, e devia ser, indiferente se alguém é ou não travesti pois o facto de se gostar ou não não anula as opções de cada pessoa, a falta de respeito advém daí de nos julgarmos barómetros de moralidade.

sapiens disse...

É bem verdade Henrik, se racionalmente sabemos que é errada muita da discriminação que exercemos face ao outro, também é verdade que esta faculdade discriminatória é parte de nós, desenvolveu-se conosco e com a evolução da nossa espécie. Resta-nos compreende-la (a esta mesma evolução)e desconstrui-la ao ponto de podermos erigir um local melhor para todos e sobretudo á luz do nosso tempo e dos paradigmas cientificos com os quais nos prenda a contemporaneidade.

Alê Quites disse...

Estamos no caminho certo...
Beijos*

Alê Quites disse...

Ainda não sei limitar o preconceito das pessoas e muito menos entender...
Salve o Respeito!

sapiens disse...

Ao fim ao cabo o problema aqui é tão somente um como o de tantos outros blogs críticos... acaba por ser um espaço de elites e não de massas como o são outros meios de comunicação como jornais ou a televisão.