Mais uma vez em redor do pensamento político penso ter chegado a uma conclusão simples acerca da política em geral. Acredito que ela se constrói unicamente sobre um eixo com dois extremos opositivos. Sim, são opositivos porque marcam a própria dualidade humana entre a necessidade de segurança e a de liberdade. Toda a vida do ser humano parece redundar na luta entre estas duas necessidades fundamentais se não vejamos:
-- A oposição entre a liberdade do eu e a coerção da sociedade a qual sentimos como uma forte imposição através dos moldes de formatação da cultura.
-- A oposição entre a liberdade utópica de se ser livre e independente e a inevitável dependência do eu face ao social e ás suas normas.
-- A oposição adolescente entre a necessidade de se ser livre e independente e a dependência económico-social face aos pais.
-- A necessidade de segurança no trabalho (muitas vezes assegurada pelo funcionalismo estatal), face à tomada de riscos (lógica empresarial privada) e a dualidade posicional entre a segurança condicionada do "ter algum" mas não muito, e do risco liberal de se poder ter tudo ou ficar sem nada.
Todas estas oposições entre muitas outras são fonte de frustração, e é no limite esta mesma frustração que está na origem dos movimentos políticos que podemos sintética mente definir como a união de indivíduos que se movem com objectivos e fins comuns.
Segundo este eixo podemos também analisar as várias soluções pensadas pelo ser humano para resolver a frustração causada pela ausência ou dominância de uma dimensão sobre as outras.
Temos nos regimes autoritários (ex: Comunismo ou Fascismo) a predominância da segurança fornecida pelo estado mas que obriga a uma diminuição da liberdade individual (potencialmente insegura para o grupo). Já os regimes mais liberais quer ao nível social quer ao nível económico (democracia e liberalismo) privilegiam a liberdade dos indivíduos mas condicionam-nos a maiores níveis de insegurança económico-social.
Vemos assim como esta lógica das necessidades opositivas funciona como uma balança que se desequilibra para se tornar a reequilibrar à medida que vai escrevendo a história, não em ciclos repetidos mas em elipses evolutivas de preocupações, inseguranças, sucessos e bem-estar. Disto tem sido feita a história do passado, mas esta questão torna-se especialmente problemática em sociedades cada vez mais macro e completamente embebidas no mundo da informação, mas também da infâmia e do boato.
Estas questões tornam-se cada vez mais preocupantes quando ganhamos a legitimidade para pensar que os governos do presente e cada vez mais os do futuro, única e exclusivamente devotos à ditadura do capital
Poderão estar a dobrar o eixo a favor de alguns votando as massas quer à insegurança dos regimes liberais, quer ao controlo anti-liberal da iniciativa privada. E isto acontece como e porquê?
Karl Marx parece ter escrito algo fora do seu tempo tendo sido mal interpretado e em ultima instancia tendo servido de mote à construção do pior regime autoritário despótico e distópico alguma vez conhecido, no entanto algumas das suas premunições fazem indiscutivelmente parte do século XXI, faltava-lhe apenas a variável GLOBALIZAÇÃO para compor o puzzle da dupla ditadura.
A globalização está, como todos temos consciência a trazer grandes benefícios para muitas pessoas, está no entanto a empobrecer outras tantas e a contribuir para formação de uma elite cada vez mais restrita e inéditamente endinheirada que toma hoje decisivo partido nas políticas implementadas. Por outro lado, embora estejamos "todos" a ficar mais instruídos, pois somos felizmente beneficiários de um sistema educativo mais democratizado, não estamos a ficar mais críticos sobre a realidade que nos circunda porque não é esse o objectivo da educação tendencialmente gratuita. Isto faz de nós seres humanos cada vez mais tecnocratizados mas menos pensadores ou contestatários. De qualquer das formas não há contestação possível quando a língua da honra e da moral foram suplantadas pela universalidade da linguagem do dinheiro. Desta forma termos como Flexi-segurança surgem no nosso país, a par de outros prováveis modelos noutras partes do mundo que expressam cada vez mais a concepção do ser humano como um número, uma propriedade que alguns detêm sobre os corpos dos outros e da sua força bruta de trabalho, a ser mantida operacional em tempos de produção prospera e em stand by (mas continuamente consumidora) em tempos de escacês. Por baixo de tudo isto passam conceitos que evoluíram com o homem como a sua objectivação e glorificação no trabalho e na obra substituídos agora por comportamentos indiscutivelmente danosos para o próprio planeta como o consumo.
Nos dias que correm os indivíduos deixaram de contemplar a honra e a moral enquanto valores de si construindo-se em valores alternativos como o consumo (auto-sustentado ou parasitário). Hoje os indivíduos afirmam-se socialmente (como sempre tiveram necessidade de se afirmar) por valores como a escolha na compra e mostra e ganhando especial prestigio com potlaches diários e individuais que são os consumos de moda.
Resta-nos então questionarmo-nos se estaremos realmente a caminhar para um futuro bom e livre quando a única forma de nos construirmos livres é consumir… Consumir… consumir... até mesmo quando não podemos trabalhar.
-- A oposição entre a liberdade do eu e a coerção da sociedade a qual sentimos como uma forte imposição através dos moldes de formatação da cultura.
-- A oposição entre a liberdade utópica de se ser livre e independente e a inevitável dependência do eu face ao social e ás suas normas.
-- A oposição adolescente entre a necessidade de se ser livre e independente e a dependência económico-social face aos pais.
-- A necessidade de segurança no trabalho (muitas vezes assegurada pelo funcionalismo estatal), face à tomada de riscos (lógica empresarial privada) e a dualidade posicional entre a segurança condicionada do "ter algum" mas não muito, e do risco liberal de se poder ter tudo ou ficar sem nada.
Todas estas oposições entre muitas outras são fonte de frustração, e é no limite esta mesma frustração que está na origem dos movimentos políticos que podemos sintética mente definir como a união de indivíduos que se movem com objectivos e fins comuns.
Segundo este eixo podemos também analisar as várias soluções pensadas pelo ser humano para resolver a frustração causada pela ausência ou dominância de uma dimensão sobre as outras.
Temos nos regimes autoritários (ex: Comunismo ou Fascismo) a predominância da segurança fornecida pelo estado mas que obriga a uma diminuição da liberdade individual (potencialmente insegura para o grupo). Já os regimes mais liberais quer ao nível social quer ao nível económico (democracia e liberalismo) privilegiam a liberdade dos indivíduos mas condicionam-nos a maiores níveis de insegurança económico-social.
Vemos assim como esta lógica das necessidades opositivas funciona como uma balança que se desequilibra para se tornar a reequilibrar à medida que vai escrevendo a história, não em ciclos repetidos mas em elipses evolutivas de preocupações, inseguranças, sucessos e bem-estar. Disto tem sido feita a história do passado, mas esta questão torna-se especialmente problemática em sociedades cada vez mais macro e completamente embebidas no mundo da informação, mas também da infâmia e do boato.
Estas questões tornam-se cada vez mais preocupantes quando ganhamos a legitimidade para pensar que os governos do presente e cada vez mais os do futuro, única e exclusivamente devotos à ditadura do capital
Poderão estar a dobrar o eixo a favor de alguns votando as massas quer à insegurança dos regimes liberais, quer ao controlo anti-liberal da iniciativa privada. E isto acontece como e porquê?
Karl Marx parece ter escrito algo fora do seu tempo tendo sido mal interpretado e em ultima instancia tendo servido de mote à construção do pior regime autoritário despótico e distópico alguma vez conhecido, no entanto algumas das suas premunições fazem indiscutivelmente parte do século XXI, faltava-lhe apenas a variável GLOBALIZAÇÃO para compor o puzzle da dupla ditadura.
A globalização está, como todos temos consciência a trazer grandes benefícios para muitas pessoas, está no entanto a empobrecer outras tantas e a contribuir para formação de uma elite cada vez mais restrita e inéditamente endinheirada que toma hoje decisivo partido nas políticas implementadas. Por outro lado, embora estejamos "todos" a ficar mais instruídos, pois somos felizmente beneficiários de um sistema educativo mais democratizado, não estamos a ficar mais críticos sobre a realidade que nos circunda porque não é esse o objectivo da educação tendencialmente gratuita. Isto faz de nós seres humanos cada vez mais tecnocratizados mas menos pensadores ou contestatários. De qualquer das formas não há contestação possível quando a língua da honra e da moral foram suplantadas pela universalidade da linguagem do dinheiro. Desta forma termos como Flexi-segurança surgem no nosso país, a par de outros prováveis modelos noutras partes do mundo que expressam cada vez mais a concepção do ser humano como um número, uma propriedade que alguns detêm sobre os corpos dos outros e da sua força bruta de trabalho, a ser mantida operacional em tempos de produção prospera e em stand by (mas continuamente consumidora) em tempos de escacês. Por baixo de tudo isto passam conceitos que evoluíram com o homem como a sua objectivação e glorificação no trabalho e na obra substituídos agora por comportamentos indiscutivelmente danosos para o próprio planeta como o consumo.
Nos dias que correm os indivíduos deixaram de contemplar a honra e a moral enquanto valores de si construindo-se em valores alternativos como o consumo (auto-sustentado ou parasitário). Hoje os indivíduos afirmam-se socialmente (como sempre tiveram necessidade de se afirmar) por valores como a escolha na compra e mostra e ganhando especial prestigio com potlaches diários e individuais que são os consumos de moda.
Resta-nos então questionarmo-nos se estaremos realmente a caminhar para um futuro bom e livre quando a única forma de nos construirmos livres é consumir… Consumir… consumir... até mesmo quando não podemos trabalhar.
1 comentário:
Dilemas e mais dilemas...todos eles justificados, no entanto até a liberdade de consumo está limitada pelo poder aquisitivo de bens, o que numa sociedade que estimula permanentemente o consumo desenfreado, se pode tornar extremamente doloroso para alguns, em tempos que ser é ter, quem não tem, pode assumir que não é. Por outro lado e no caso português, se por um lado devemos ter os olhos colocados noutros países da europa mais prósperos, devemos ter o discernimento de incluir no mapa mundo outras localizações geográficas para além de estados unidos e europa. sabem que por exemplo no Brasil o ordenado é cerca de 370 reais mensais?Sensivelmente 150 €...que no continente africano se vive com 1 € mês? Na verdade...tudo isto é extremamente complicado e por mais que se baralhe e volte a dar, os que verdadeiramente perdem são sempre os mesmos.
Bom tema Sapiens
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