A questão essencial para mim, é respeitar a opção dos indivíduos, as suas escolhas, principalmente quando se pode efectivamente tratar de algo mais do que simples escolhas. Já vi aqui comentários, que podem induzir a que se pense na questão das travestis, como sendo algo equiparável à homossexulidade, sob o ponto de vista analítico. Não é essa a minha opinião. Ser gay, pode não ser na maior parte dos casos uma questão de escolha, mas sim algo que está no indivíduo. Quanto a ser travesti, há quanto a mim, claramente um transcender dessa condição de se ser homossexual, porque existe um decidir actuar sobre o corpo. A pessoa não exerce apenas a sua homossexualidade, vai para além dela ao "inscrever" no corpo as marcas de uma identidade (Kafka, Mauss), de uma identidade criada e reinventada todos os dias, de cada vez que se actua sobre o corpo, como marco mais visível e imediato de relação com o outro. Não sinto necessidade de fazer uma defesa das pessoas com quem contactei e contacto, pelo menos não mais do que faria relativamente a qualquer outro indivíduo. A razão é simples, do meu ponto de vista, essas pessoas são mais fortes e determinadas que a maioria, estando sob esse ponto de vista mais habilitadas para o fazer. O que expresso aqui claramente, é o meu respeito por uma diferença assumida contra tudo e contra todos, relativamente à qual pagam uma factura elevada a diversos níveis da sua vivência quotidiana. Quem conseguir olhar para além do exótico, verá simplesmente a pessoa, nas suas alegrias e angústias. Verá apenas o ser humano, despido das suas marcas identitárias exteriores, que passam a ser secundárias, embora não inexistentes.
8 comentários:
Sem duvida que a orientação sexual e a identidade de género são elementos constitutivos dos individuos e não podem ser alterados e, que acima de tudo são normais (durkheimianamente falando) e naturais (biológicamente). Já a questão do travestismo é algo mais complexo mesmo para quem estuda o fenómeno. Podemos pensar que é uma opção das pessoas, mas podemos igualmente pensar até que ponto esse facto não é uma necessidade com multiplas motivações e nessa medida igualmente legítimo, embora se torne problemático socialmente no que respeita áo próprio lugar do individuo não normatizado de acordo com os padrões sociais.
Também concordo que a homossessualidade já está dentro do indivíduo, a escolha deste reside em assumi-la perante a sociedade ou não! E por detrás de todas as pessoas, existe um coração humano com bloqueios e tristezas, aquilo que nos difere uns dos outros é as escolhas que fazemos na vida.
Nunca tinha visto as coisas por esse ponto de vista, mas devo dizer que concordo contigo, há um assumir verdadeiro daquilo que se sente perante a sociedade. Beijo
Talvez o sapiens tenha focado o ponto essencial. Em todo o caso, lá pela homossexualidade ser mais natural de um ponto de vista não quer dizer que o travestismo também não o seja. O travestismo de certo modo imita uma mímica teatral que é componente do individuo. Temos tendência para essa artificialidade (atente-se que não há aqui juízos de valor). Parece-me em todo o caso em todas as situações que fogem à «normatização» não há como resolver essa questão senão em sociedade. Quer dizer, estas questões do ponto de vista sociológico só se podem aceitar se o panorama global mudar. Assim sendo, serão indeterminadamente postos à margem...e sem dúvida que deve ser relembrado que independentemente das opções se deve tratar as pessoas pelo que são perante nós, e não pelo que aparentam. Não vejo razão para descriminar desde que se respeitem mutuamente o que já escapa largamente à realidade. Em todo o caso há que aprender a aceitar aquilo que não concordamos se isso não nos implicar a nós como indivíduos. É, e devia ser, indiferente se alguém é ou não travesti pois o facto de se gostar ou não não anula as opções de cada pessoa, a falta de respeito advém daí de nos julgarmos barómetros de moralidade.
É bem verdade Henrik, se racionalmente sabemos que é errada muita da discriminação que exercemos face ao outro, também é verdade que esta faculdade discriminatória é parte de nós, desenvolveu-se conosco e com a evolução da nossa espécie. Resta-nos compreende-la (a esta mesma evolução)e desconstrui-la ao ponto de podermos erigir um local melhor para todos e sobretudo á luz do nosso tempo e dos paradigmas cientificos com os quais nos prenda a contemporaneidade.
Estamos no caminho certo...
Beijos*
Ainda não sei limitar o preconceito das pessoas e muito menos entender...
Salve o Respeito!
Ao fim ao cabo o problema aqui é tão somente um como o de tantos outros blogs críticos... acaba por ser um espaço de elites e não de massas como o são outros meios de comunicação como jornais ou a televisão.
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