quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Qualidade de vida no mundo Urbano



Partindo de um tópico muito interessante postado pelo Rafael no blog Buda verde, cabe-me elogiar a sua pertinência. Primeiro porque como se diz por cá, "só nos lembramos de Santa Bárbara quando faz trovões", o mesmo será dizer que muitas vezes só nos apercebemos do que está mal em situações limite.

Depois porque é essencial que as pessoas comecem a tomar consciência de que em pleno século XXI temos e devemos de reivindicar uma coisa que se chama qualidade de vida.. qualidade de vida não é só chegar ao fim do mês e ver um salário chorudo na conta. É sim, poder acordar de manhã com a garantia de que chegamos sãos e salvos ao trabalho, é podermos olhar para a frente da porta de casa e ver uma paisagem desafogada, ter direito ao sol, a um bom urbanismo, limpeza nas ruas e a respirar ar puro.

Actualmente, herdeiros da construção desenfreada que caracterizou as migrações maciças do campo para as cidades e pela construção desenfreada que aí teve lugar sem qualquer matriz de urbanismo, vemo-nos a braços com uma cada vez maior perda de qualidade de vida. O espaço urbano satura-se de uma forma impar na história moderna e pos-moderna.

Não sei se serão todos como eu, mas pessoalmente fere-me os olhos ver o mundo citadino tão agressivo... e o mais espantoso é vivermos no dito Século XXI onde se edificaram há muito estruturas urbanisticas de base, planos directores municipais, planeamento de áreas verdes etc e ver muito poucas destas regras aplicadas na prática.

Perto de minha casa, numa zona dos arredores de Lisboa, por sorte com prédios de pouca altura (vale-me a sorte de morar perto de um aeródromo, factor que não permite que os prédios se elevem acima dos 4 andares), as moradias crescem como cogumelos e nem a crise imobiliária parece abrandar esta tendência.

Actualmente vemos muros a entalar janelas, terraços que se estendem a telhados alheios , varandas que espreitam para os altos muros das traseiras da garagem do vizinho.. enfim, uma total ausência de espaços entre as habitações uma tão parca privacidade e sensação de espaço que só encontra par nas típicas medinas do mundo árabe.

Actualmente vai-se construindo “á multa”, estruturas aberrantes, algumas delas aprovadas directamente nos gabinetes de arquitectura das próprias câmaras municipais, outras por livre arbítrio dos desejos dos moradores. A câmara confina a sua acção á recolha das devidas coimas e o assunto fica, na maioria dos casos arrumado.



Um outro exemplo de absurdo urbano área metropolitana de Lisboa é precisamente uma das suas mais recentes urbanizações; a chamada"zona expo". Esta, que começou inicialmente por se erguer como espaço de elite, desenhada com esquadria e propagandeando-se como garante de elevados padrões de qualidade de vida decai perante o infindável desejo e procura de espaço para se construir mais e mais... Acontece que, com o passar dos anos, qualquer pessoa que a visite constata que esta se tornou num autentico aglomerado de betão onde as ruas estreitaram e os edifícios se elevam privando do sol ruas e outros edifícios. os estacionamentos são quase inexistentes por há muito terem sido ultrapassados os planos iniciais de loteamento... em resumo, aquilo que começou por ser um polo atractivo, tal como as nossas cidades dentro dos nossos países, vai-se aos poucos tornando numa zona de difícil usufruto.

Por sinal na zona onde moro não existe um único espaço verde que seja publico... ao queixarem-se deste facto os habitantes da minha freguesia receberam a caricata resposta sobre os espaços verdes da freguesia aquele que mais me saltou á vista foi precisamente o reconhecimento da “rotunda da repsol” que por sinal tem uma bonita relva... talvez pense em fazer por lá pic-nicks com a família um dia destes...

Para finalizar... com quem fica a culpa?

A meu ver fica com aqueles que no exercício do seu dever/poder permite a construção desenfreada a troco de uns "pequenos" bónus salariais.

... quanto á qualidade de vida... continuamos a vislumbrá-la nos livros.. e nos parcos exemplos dos países nórdicos... que quase já nem me arrisco a apelidar publicamente de civilizados com receio das represálias do politicamente correcto...

5 comentários:

bela lugosi`s dead (F.JSAL) disse...

ehehehe não sei não...após ver os comentários ao teu último post e a forma como terminas este, a ideia com que fico é que só se pode ter uma opinião e que a guerra será sempre uma primeira opção, face à argumentação, pois que ter outra, parece ser a antítese da revolta de alguns e do saber estar com sentido crítico. Reitero que, na sequência de 4 anos cursando antropologia, ver as coisas como mais ou menos civilizados me parece um contra-senso, mas na realidade corresponde a diferentes posturas perante objectos que serão tão mais mutáveis, quantos mais sejam os olhos que os observam. Quanto ao urbanismo, não há grandes dúvidas àcerca do que disseste. Gosto de uma boa discussão, até porque para a ter são necessários argumentos, não obstante, já não me agradam tanto acções de come merda e afins...sei lá...pontos de vista. No panorama musical também há quem não goste de música pimba de consumo imediato e fácil, no entanto, devo também acrescentar que não sou um ávido e elitista consumidor de música clássica...tenho dias, como todas as pessoas, o que não me impede de me manisfestar, quando não estou a gostar da música.Posto isto, vou ouvir um pouco de metal, ajuda-me a descomprimir e chama-me à atenção para o ecletismo musical e não só. Para mim a argumentação é um jogo em que ganha quem jogar melhor, quem possuir melhores condições no momento, nunca será uma questão de guerra e falo em guerra porque vi essa palavra referenciada insistentemente no post prévio, embora, justiça seja feita, enquadrada noutro contexto de ideias (pelo menos isso seria o mais natural).fiquem bem caríssimos e caríssimas, vou à procura de descontos:)

bela lugosi`s dead (F.JSAL) disse...

Esqueci de referenciar um pequeno pormenor e por isso peço perdão, é lógico que quando faço referência ao come merda e afins, não me referia a quem o postou no blog, porque tal contém uma mensagem:) sem mais a acrescentar, agora é que vou ao dia da promoção do peixe no feira nova...opss...acho que não é hoje...estou lixado, vou ter que comer bife ou secalhar apenas ovos estrelados, dá menos trabalho!!vida de indígena é fodida e ainda tenho que fazer a dança da chuva, pois que este ano não chove népias!!se eu vivesse lá mais para cima...já não precisva dançar...só precisava do guarda chuva mesmo...aué aué chove uma beca aki aué aué aué chove uma beca aki!! estas penas na cabeça são de péssima qualidade, a culpa é do grande chefe trovão do sul!!leva-nos as batatas todas, que colhemos cheias de bicho e nem penas de jeito arranja ao pessoal...aué aué aué chove uma beca aki aué aué aué..opss estou a ficar louro!!xiii k friooooooo

sapiens disse...

A ideia com que fico sob as posi�es de muitos acad�micos � que um curso de antropologia parece ter a obriga�o de nos retirar car�cter, preferencia, gosto ou personalidade pr�pria. Feliz, ou infelizmente (tudo depende do ponto de vista claro) fa�o minhas as palavras da figura Russe no programa c�mico "vai tudo abaixo" -- "Os meus amigos est�o-me sempre a dizer para largar a "personalidade" e o "pol�ticamente incorrecto" , mas eu n�o sou pessoa para deixar aquilo de que gosto!"

No meu ponto de vista os valores s�o relactivos obviamente, as culturas s�o diferentes e os desejos e ambi�es t�o distintos quantas as personalidades de cada um.

Isto � t�o verdade quanto o � o facto de cada um ver o mundo pelos seus pr�prios olhos e que, por mais relactividade que ponhamos nas coisas a verdade � que uma critica � e ser� sempre uma critica, um discurso posicional ... a Unica diferen�a � que quando este se insere no discurso corrente e tido como ambicionado para os planos "civilizacionais" da nova Europa humanista e Pseudo igualit�ria (sim , essa bonita capa sob a qual continua a vigorar a mais selvagem lei do mais forte que � a essencia do capitalismo) s�o vistos como inovadores , dignos e leg�timos, quando se est� neste ou naquele ponto, do outro lado da barreira, chovem acusa�es de ileg�timidade, falta de relatividade cultural e at� de falta de intligencia.

Se passarmos a vida a alhearmo-nos de olhar a nossa pr�pria sociedade porque n�o � digno prestarmos-lhe criticas e nem sequer de contrapondo-lhe as pr�prias pr�ticas e modos de fazer de outras sociedades, mas sim aceitar as nossas pr�ticas como as mais "correctas", continuaremos a viver conformados. Mais uma vez digo e defendo que a revolta � a arma para a mudan�a e , pura e simplesmente muita desta mudan�a parte das pr�prias palavras e ideias que tentamos transmitir.Se continuarmos a alhear-nos disto corremos um risco fundamental, o de continuarmos a construir discursos t�o vagos e russeanos que toda a gente continuar� a dar-nos a aten�o que at� agora temos merecido ... E poucas ser�o as pessoas que se dignar�o sequer a perder tempo a ler mais textos sobre utopias pois desejam encontrar textos sobre realidades concretas, criticas e ideias para melhorar a sua pr�pria forma de vida (desejo e objectivo que considero essencialmente humano).

Eu continuo a n�o ver as coisas assim. Felizmente ainda me considero uma pessoa com convic�es e prefer�ncias...

Se me perguntarem o que quero amanh� para o almo�o, decididamente preferirei batata frita com frango assado a peixe cozido com br�culos e n�o hesitarei em afirmar que um � MELHOR do que o outro... que � meu gosto pessoal, oviamente, est� implicito!

Desafio-vos ent�o para finalizar ... "quem nunca teve preferencias que atire a primeira pedra"

Unknown disse...

"Quantidade de vida no mundo urbano"

No mundo urbano o que interessa mesmo são as quantidades.
Seja a quantidade de comida que vai para o lixo, a quantidade de livros que lês ou a quantidade de carros numa fila, tudo gira mais à volta da quantidade, vero? :-)

E com a quantidade de merdas que tens de fazer todos os dias é um bocado difícil descobrir aquilo que realmente importa qualificar.

bela lugosi`s dead (F.JSAL) disse...

Peço desculpa Sapiens, mas sou ateu, por isso não digo amen, nem ao que tu dizes, nem ao que possam dizer. Como pareces ser muito realista nas abordagens que realizas, devias relembrar os teus primeiros posts, em que convictamente partias de uma forma teórica que aplicavas plasticamente às práticas dos indívíduos. Deves lembrar-te disso, pois referias muitas vezes a preponderância da estrutura sobre as práticas dfos indíviduos, enquanto que eu afirmava que partia das práticas dos indíviduos para a teoria. Para mim as práticas são a realidade, a estrutura o ideal das práticas. Parece-me que te contradizes. Outra coisa, essa cena de pegar o touro pelos cornos tem muito que se lhe diga,referes-te à imagem de 7 homensinhos vestidos a rigor a pegar um touro moribundo, todo furado e já sem pinga de sangue?
Fica bem.