É minha opinião, que o HOMEM na sua incessante busca de deus, o procura igualmente na ciência, venerando sacerdotes de ciência e AS SUAS VERDADES REVELADAS, vulgo paradigmas, substituindo-se neste âmbito aos dogmas religiosos. Nesta sequência de ideias, realço o facto de ter sido exactamente a ciência e os seus primeiros paladinos a encetarem um processo crítico face a essas verdades reveladas e absorvidas pela fé religiosa. Surge a inquisição e alguns dos pioneiros vão para a fogueira. O norte da europa lidera essa guerra pela espiritualidade racional, alguns, como Descartes (que foi para a holanda, não sei se por o haxixe lá ser legal) pretendem alcançar um equilibrio precário entre a ciência e a religião, entre racionalidade e emoção, Século XXI...tudo na mesma...separa-se religião e ciência, porque a primeira é crença e espiritualidade, a segunda lógica e experimentação. No entanto, não passam de duas vias para o mesmo desiderato, a busca de si mesmo...o homem busca-se em ambas e em ambas esconde a verdade circunstancial de querer ele mesmo ser deus. Daí que as religiões de maior dimensão tenham um deus antropomorfico como catalizador de todas as emoções e reposição de angústias.Pela religião e ciência se vão dominando as ovelhas, estabelecendo fronteiras e hierarquias, atingindo sensações de domínio do homem sobra a natureza, o Deus que ambas, por intermédio da maior parte dos seus agentes, pretendem destronar. A necessidade de classificar advêm do desejo escondido de dominar algo ou alguém. Sou ateu em todos os sentidos, mas acredito que a única coisa que existe são as hierarquias legitimadas por imagens antropomórficas inventadas. Necessidade e natureza em várias camadas.
5 comentários:
:) Muito bom. Mas em Descartes não havia apelo ao equilíbrio entre racionalidade e emoção, todo ele apela à pura racionalidade (tanto que a prova, incompleta diga-se, das meditações metafísicas, o banal Cogito ergo Sum surge puramente do intelecto, a prova da existência de Deus surge porque Descartes não queria descartá-lo e porque não foi tão extremo ao ponto de admitir a inexistência - possível - do mundo exterior). Quanto à ciência, por mais elaborações que façam é a substituição de Deus pelo Universo, ou pelas leis físicas. A procura de inteligência no universo - em todos os sentidos - é exactamente a tentativa de substituir um Deus que não parece ser suficiente para os humanos por um outro deus que justificaria a indiferença pela raça humana. O ateísmo neste sentido é tão coerente como o teísmo. Abraço.
formalmente não havia emoção, na prática, como em tudo o que é produto da criação humana, era uma realidade: "como é que eu ser imperfeito, posso ter a ideia de um ser perfeito?"
O facto é que a emoção existe em tudo o que é humano, por muito que a maioria considere a ciência tão mais fiável, quanto menos emotiva. Isso não é possível, mais um mito, o da ciência objectiva. Até o cientista que coloca o ratito num laboratório, é movido por emoção, ainda que formalmente a negue.Abraço
Sem duvida que a ciencia se tornou na religião dos séculos XIX , XX e XI, de tal forma que parece quase impossivel contraria-la. A ciencia conquistou no mundo actual o poder de uma linguagem dogmática, não me refiro á discussão de um ou outro ponto muito especifico dentro de cada investigação em particular, mas na ciencia enquanto linguagem geral. Somos actualmente educados para adquirirmos um pensamento orientado para o metodo cientifico de aprendisagem, colocando a experimentação entre a causa e a consequencia. Mas, para todos os efeitos fazemos uma distinção fundamental entre esta nova religião e as anteriores chamando ateísmo a todo o que não acredita nos deuses do passado.
De facto a revolução cientifica parece ter tido tanto impacto nas civilizações modernas como teve o abandono do politeismo e a adopção do monoteismo nas civilizações clássicas. Se é melhor ou pior, entramos sempre e claro estes juízos de valor mais uma vez nas dinamicas identitárias onde cada um gere a sua crença como aquela mais sensata tendo em conta o seu desenvolvimento interno e o contacto com as influencias externas , culturais e circunstanciais.
Relativamente á emotividade da religião e muitas vezes á ausencia dela na ciencia acredito pessoalmente ser é uma verdade.
Curiosamente e pegando um pouco num tópico sobre o qual ouvi na rádio uma discussão, penso que não podemos mais separar a ciencia do capitalismo. Um psiquiatra referia-se ao crescente problema na medicina onde os grandes laboratórios a par das ginásticas orçamentais dos governos contemporaneos confinam cada vez mais o diagnóstico médico a uma acção rotineira, mecanica e desprovida de interacção com o individuo inteiro, abandonando a sua dimensão holista e conferindo á observação a tipica análise parcial , isoladora de variáveis consideradas muitas vezes ainda distintas e estanques do funcionamento vivo e integrado dos individuos.
Desta forma a hegemonia do paradigma cientifico está intrinsecamente ligada e depende do paradigma económico capitalista. Esta relação está a ter impacto na fugacidade dos diagnósticos médicos mas também na diminuição das relações humanas ajudando á consolidação hegemónica de uma linguagem unica e tão "Melhor" que só ela se permite ser quantificada movendo-se nas unidades minimas, distintivas e objectivamente valorativas dos numeros e materializando-se em dinheiro..
é também esta a ciencia e a materialidade que se impoe cada vez mais áos quotidianos de todos nós.
Sem dúvida, até porque entre os variados ramos de conhecimento e ciências, existem valorações externas diferentes, que se traduzem igualmente num diferente investimento, isto é, de certa forma existe uma bolsa de cotação das ciências, pelo imediatismo da sua utilidade e muitas vezes dos seus "maus" usos,que se reflecte no investimento dos governos. A informática que dispensa parte da mão de obra humana, a física e a química que têm enorme influência na industria do armamento e a medicina, porque naturalmente existe sempre alguém poderoso que sonha em ser eterno ou da eternidade se aproximar. No caso, a antropologia adquiriu a sua visibilidade essencialmente nos contextos coloniais. Existe aqui, sem dúvida, um lado perverso da ciência, sem dúvida que ligado às dinâmicas do poder político, religioso e económico.
Sim, Lugosi, até o Descartes sentia emoções, lol. Curiosamente citaste uma da provas cartesianas da existência de Deus, lol. Sem dúvida que não à toa. Primeiro, como dialogante já conhecido deste blogue esclarecer: sou teísta e não vejo razões lógicas - formais portanto - para EU não achar que há algo de inteligente no universo. Depois, não compartilho da ideia da malevolência da ciência, a razão que me prende a isso é razoavelmente simples, a ciência, tal como outras disciplinas devotadas à tentativa de conhecer mais e melhor, não é boa nem má. O que põe em causa a sua utilização é sempre o ser humano. O lado perverso, como bem referiste Lugosi, é exactamente o lado humano. E depois há gente devotada ao bem na ciência que comete erros que dão numa fatalidade para milhões de pessoas, como no caso de Einstein. Convenhamos, ele até podia não ser boa pessoa, mas duvido que quisesse a morte de tanta gente por uma descoberta que foi importante do ponto de vista da humanidade. Há, felizmente, muitos debates científicos a apelar à prudência no seu uso. Uma última ressalva é quanto à linguagem que a sapiens diz ser dogmática. Não se trata bem disso, acontece que factualmente existem motivos para considerar leis explicativas como, até prova em contrário, indisputáveis. Para além disso, para a compreensão de uma lei da física, química, e outras variantes é necessária uma linguagem convencional, dogmática no sentido em que não pode admitir excepções - salvo que se prove a sua falsidade - e nesse sentido não podemos fugir nem devemos criticar negativamente a ciência, pois é sempre o utilizador desse conhecimento que parece ser perigoso no uso da informação.
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