Aproveitando a boleia da relatividade cultural trazida para o blog pelas viagens do Bela Lughosis, trago também algumas novidades relativamente á minha viagem á Suécia. Contrariamente ao colega rumei a um país concebido internacionalmente como um dos mais desenvolvidos, ricos e civilizados quer da Europa , quer do Mundo e, de facto, na minha experiencia pessoal deparei-me com diferenças gritantes relativamente ao meu próprio país presentes nas práticas diárias dos seus habitantes.
O Ethos do povo Suéco, é, pelo menos á primeira vista, de uma responsabilidade civica e individual impar. Na Suécia quase todos andam de bicicleta, actividade que é facilitada pela planitude geográfica, no entanto, a maioria dos seus habitantes não necessita ainda de colocar cadeados nas mesmas, embora também me tenham dito que esta prática tinha vindo a aumentar... Sinais dos tempos... as suas casas, construidas maioritáriamente por madeira ainda não conhecem grades nas janelas e muitas delas nem tão pouco possuem portões ou muros. O respeito pelos espaços privados é um dado adquirido na cultura nativa.
Relativamente aos transportes, aos quais tive de recorrer frequentemente para me deslocar, notei duas diferenças fundamentais relativamente aos do meu país, a primeira é que a densidade populacional dentro dos mesmos é baixissima, o que claro, faz aumentar exponencialmente os custos, mas que por outro lado permite uma conservação e actualização dos mesmos que se afasta em todos os pontos e mais alguns dos "chaços" da carris. O outro aspecto a destacar é a velocidade a que os motoristas conduzem os ditos cujos. Pressuponho que isto se deva a duas questões, uma delas é ao transito. Na suécia, pelo menos nas cidades onde estive quase não se deslocam carros, a densidade do trafego é realmente baixa, não se ouvem buzinas, consegue respirar-se ar puro e caso se seja um desses poucos condutores, os nossos niveis de stress serão infinitamente mais baixos do que os de um condutor lisboeta. Este factor será muito provavelmente um dos motivos pelo qual os motoristas dos autocarros podem cumprir os limites de velocidade e garantir a segurança dos passageiros. O outro motivo será com toda a certeza o planeamento dos horários que garante tempo suficiente para se chegar ao destino sem ter de se bater os 80 ou 100 km horários como já tenho experenciado por cá.
De forma geral os dias correm calmos, não se vêm pressas porque aparentemente se cumprem horários e se planeiam tarefas. A pressa parece de facto ser um factor contagioso bem como os atrasos que geram novos atrsos e que acabam por estar presentes em muitos elementos da vida dos portugueses fazendo uma efectiva parte da sua cultura.
Um outro aspecto de realçar, é que, para além da baixa densidade populacional que nos deixa espaço para respirar a estética e a manutenção das estruturas e infra estruturas parece ser uma espécie de hobbie e motivo de orgulho para o povo suéco. Tudo, ou quase tudo, na suécia está em optimas condições de conservação... regra geral os edificios parecem acabados de construir, não se vêm estruturas abandonadas ou em estado de decomposição, os jardins estão escrupulosamente tratados e floridos e o lixo no chão é uma verdadeira quimera. A suécia é um país de pormenores... a todo o momento me vinha á cabeça quem teria sido a pessoa que foi paga para tratar de tão minucioso elemento decorativo ou utilitário... Por cá , contrariamente , parece reinar a lógica do desenrasca e do temporário que se torna efectivo e dos horrores urbanos e estéticos que não "nos" parecem ferir os olhos...
obviamente a suécia é um país rico, capaz de cuidar de sí. A suécia é uma metáfora de uma casa nobre , até certo ponto famíliar e sem criados de servir sem estatuto.
Neste país , reparei que o trabalho que cá consideramos "baixo", "sujo", "sem nivel" e "desprestigiante"... em tres palavras "trabalho de imigrante" como a construção civil ou o trabalho de limpeza é desempenhado por nativos suécos que aparentemente não parecem sentir e representatr estas categorias de trabalho manual "indigno" como o sentimos em geral por cá. Esta dignificação é feita pelos próprios. O trabalho que fazem é complecto e investido de um sentido de orgulho na obra acabada. Os trabalhadores que esburacaram o chão para colocarem novos azuleijos num edificio onde me encontrei por algumas horas, não só esburacaram e colocaram os novos azuleijos como aspiraram e limparam atenciosamente todo o espaço do trabalho apos o terem finalizado... provavelmente cá chamar-se-ia uma senhora das limpezas que alguns dias depois passaria por lá para acabar o trabalho... por outro lado, enquanto os trabalhadores realizavam as suas tarefas, utilizaram todo o material do qual cá ainda muitos se riem e consideram no vernáculo "paneleirices" como capacete , protecções auditivas ou coletes de sinalização. Acredito firmemente que elementos como estes possam ajudar a dar alguma qualidade de vida aos próprios trabalhadores bem como a correspondente dignidade , reconhecimento e respeito pela sua obra. por cá, continua a trabalhar-se na insegurança embora sim, se vão vendo melhorias pontuais á medida que vão passando os anos.
Para além da discriminação no trabalho, como acabei de referir face ao "imigrante trabalhador do obral", nota-se também uma muito menor discriminação quer de género, quer de idade nos trabalhos desempenhados na suécia. De facto, já o havia lido e todos sabemos em geral que assim é. Acabei também por ver muitas mulheres em trabalhos considerados tipicamente masculinos como a condução de taxis ou autocarros bem como outros trabalhos de assistencia em aéroportos. O mesmo se passou com a idade, encontrando-se bastantes pessoas na casa dos 50's no antendimento ao publico para o qual cá se seleccionam preferencialmente caras joviais.
Bem, parece que até agora só falei das coisas boas... no próximo post falarei das más :) sim sim, também existem hihi