sábado, 1 de setembro de 2007

O meu primeiro contacto com Deus



Não... este não é nenhum post religioso na sua essencia, nem eu me converti a uma dessas tão carismáticas igrejas evangélicas, no entanto tive uma experiencia curiosa nas ultimas férias que me fez repensar o conceito de Deus e a sua "utilidade".

Cumprindo ainda a promessa de me referir ás coisas menos boas da Suécia começo por relatar o meu primeiro grande trambolhão no desconhecimento das práticas da "casa".

Chegada á cidade de Gotemburgo: 22h. feliz temperatura de 14 ou 15 graus centigrados (um milagre); Establecimentos comerciais fechados, excepto as tradicionais lojas de conveniencia. Sentámo-nos esperando a chegada do Autocarro para o qual tinhamos no bolso o bilhete pré comprado via Internet. O dito cujo passaria ás 3h da madrugada, hora pela qual esperámos pacientemente. Entretanto, chegada a 1h da manhã são mandados fechar os portões da estação dos comboios que nos havia abrigado e fomos convidadeos a fazer tempo até ás 3 no agora "fresquinho"da noite suéca ... Quando se aproximou a hora prevista, rumamos ao terminal e esperamos pelo autocarro. Este terminal estava deserto, nem um sinal , nem uma informação , nem um mapa onde pudessemos confirmar as horas ou sequer as rotas da carreira... apenas um numero de telefone cheio de indicativos tao estranhos quanto a estranheza de se estar fora de casa. um pouco antes das 3 um autocarro para no terminal acusando rumar a copenhaga, capital da Dinamarca. Deixámo-lo partir e minutos depois quase davamos cabeçadas no alcatrão por não nos termos enfiado dentro do mesmo... sim, era aquele autocarro pelo qual haviamos esperado a noite toda, antes de chegar a copenhaga pararia em Malmo, local onde apanhariamos o Bus seguinte para o nosso destino. E logo agora que noite esta que havia arrefecido espantosamente ...

Apos a negação vem a aceitação e lá começámos a esboçar uma alternativa para saír da estação ... episódio que se revelou uma autentica saga digna de constituir o numero dois do Terminal de aeroporto protagonizado por Tom Hanks...

Felizmente, apenas uma hora depois da desgraça reabrem as portas da estação e pudémos usufruir da subida de alguns graus oferecida pelo abrigo enquanto decidiamos o plano B. Este constituia na compra de uma passagem de comboio... o pesadelo primeiro foi compreender qual seria o que passava na cidade para a qual nos dirigiamos, a cerca de 300 Km dali (eta tarefa torna-se verdadeiramente complicada quando tudo está escrito em suéco e não existem icones, mapas, ou desenhos que nos ajudem a compreender as rotas)... quando finalmente realizamos o percurso, restava-nos a parte "mais facil" : a compra dos bilhetes para a nossa viágem que teria inicio ás 6:55 da manhã. Revistámos todas as bilheteiras e nenhuma abria antes da hora da nossa partida. Constatámos também que os suécos não parecem conhecer o conceito de bilheteira com moedas... assim de nada nos serviam as kronas que tinhamos na carteira. O unico mecanismo de pagamento nas bilheteiras automáticas éra cartão... felizmente tinhamos conosco um mastercard... que claro, para piorar as coisas não funcionava de momento (viémos a confirmar mais tarde que havia sido uma falha temporária nos sistemas de comunicação com o banco)... assim não nos restavam muitas hipoteses se não a de pedir a alguém que generosamente nos quisesse comprar os bilhetes (caríssimos , como já havia referido no anterior post) com o seu próprio cartão que nos pagariamos o correspondente em dinheiro vivo...

É aqui então que entra a questão de Deus... provavelmente inventada na minha cabeça, mas a qual fez algum sentido neste momento de aflição...

10 minutos para a partida do nosso comboio e ainda não haviamos conseguido com que algém nos fizesse esse favor... eram várias as desculpas que nós próprios reproduziriamos provavelmente no lugar dessas mesmas pessoas (motivo pelo qual não as censuro) ...


Pouco mais de 5 minutos para a partida do nosso comboio e o desespero começava a apertar.. estavamos a ver-nos presos alí para sempre até que me dirijo já desesperadamente a um rapaz com traços sul orientais... Sinceramente não sei se seria indiano ou medio oriental, apenas sei que a sua resposta á minha solicitação foi inequivoca e espontaneamente diferente. Nas respostas negativas que havia ouvido antes confirmei a existencia da fracção de segundo necessária para esboçar uma mentira de "desenrasque", e a resposta deste rapaz revelou-se mais rapida e surpreendentemente positiva.

-- Yes, thats ok , I do it for you! No problem.

Já não me recordo se o meu coração acelerou com a surpreza, se diminuio com a sensação do "uff estamos salvos"...

A verdade é que dois minutos depois estavamos dentro do comboio com os nossos bilhetes. E, a justificação que provavelmente "inventei", ou quem sabe esboçei num acaso acertivo é que provavelmente uma resposta espontanea e positiva deste tipo poderá ter sido pré programada por uma ética moral de carácter religioso. (passo pré-conceito de associar tes e traços étnicos a religiões em concreto... foi neste momento uma questão pragmática)

Tive a oportunidade de conhecer virtualmente muitos muçulmanos, e , não obstante alguns traços que insisto "irracionalmente" em criticar, um elemento inegavel do seu ethos religioso é o de ajudar o próximo. Trata-se de uma práxis algo instantanea ajudar alguém em apuros e rejeitar o individualismo egoista e quase puramente capitalista no qual estão assentes as sociedades ocidentais.

Imagino que terá sido o que se passou naquele momento, e que talvez tenhamos sido ajudados por Deus, não pelo nosso, mas sim pelo Deus do outro....

Nunca saberei, mas tenho um certo gosto em acreditar que é verdade :)



1 comentário:

Henrik disse...

Grande aventura sim senhora! A curiosidade é essa definição antropológica, sem dúvida racional, mas igualmente racional é em actos de desespero aspirar a seres transcendentes. Racional, porque, bem vistas as coisas, quando tudo nos parece fora do alcance só o que está fora do alcance parece poder ajudar-nos. Não sei se na realidade foi os traços orientais do rapaz que influenciaram isso, mas a verdade pura é que a religião também tem esse lado, o educativo...o que no final de contas vos deu bastante jeito, seja o Deus dele, o vosso, o nosso, o de ninguém, a verdade é que em momentos extremos sentimos uma vontade de sentirmos que não estamos sós no universo, e por vezes acreditar que não estamos, sabe tão bem...