quinta-feira, 6 de setembro de 2007

A primeira formulaçao freudiana sobre o complexo de édipo



“Acorreu-me ao espírito uma única idéia, de valor geral. Encontrei em mim, como em todo lugar, sentimentos de amor para com minha mãe e de ciúme para com meu pai, sentimentos que são, acho eu, comuns a todas as crianças pequenas, mesmo quando seu aparecimento não é tão precoce como nas crianças que se tornaram histéricas (de uma forma análoga à da romantização original nos paranóicos, heróis e fundadores de religiões). Se isso for assim, pode-se compreender, apesar de todas as objeções racionais que se opõem à hipótese de uma fatalidade inexorável, o efeito percebido em ‘Édipo rei’. Também se pode compreender por que todos os dramas mais recentes do destino deveriam acabar miseravelmente...mas a lenda grega percebeu uma compulsão que todos reconhecem, pois todos a”. sentiram. Cada ouvinte foi, um dia, em germe, em imaginação, um Édipo, e espanta-se diante da realização de seu sonho, transportado para a realidade, estremecendo conforme o tamanho do recalcamento que separa seu estado infantil de seu estado atual”.


Carta a Fliess de 15 de outubro de 1897


2 comentários:

Henrik disse...

Sem dúvida Freud neste ponto - como em outros tantos - foi muito perspicaz. O perturbador em Édipo, na sua formulação, é a subversão da ordem do tempo, o filho que mata o pai, casa com a mãe e é pai da própria irmã, detém essa anti-naturalidade da total inversão de ciclos biológicos. Não era o incesto que incomodava os gregos era essa subversão da ordem temporal.

sapiens disse...

sim, é verdade, o que parece incomodar as pessoas não são elementos concretos ou "self contained" em maldade ou horror, mas sim desordem e subversão , uma vez que tudo éstá incluido em sistemas que se pretendem estáveis.

... lembrei-me agora que a alice no país das maravilhas é uma brilhante história neste sentido... alí, subverte-se tudo... penso que a extensão de uma subversão vivida pelo próprio autor.