Ao ler a pequena discussão no post "Antropólogo VS. Político", pareceu-me de todo coerente traçar uma linha cognitiva sobre a posição dessa figura - o antropólogo - que cada vez mais não passa de um mito do século passado.
É inegavel a existencia de evoluções tanto no aspecto micro como no aspecto macro de uma sociedade qualquer, idependentemente do contexto económico, politico e religioso em que se insere. E que essas "evoluções" (prefiro utilizar o termo "mudanças" ou "alterações" devido ao uso nefasto que tenta dar um valor simbólico sempre positivo ao termo "evolução") resulta de confrontos constantes entre delirios pessoais com delirios colectivos. Ultimamente a visão de um antropólogo provoca uma série de reacções. Para o comum dos mortais, o antropólogo é um ser abstracto que serve "só" para estudar os primitivos, as "sociedades frias" de história repetitiva (cf. Lévi-Strauss), as tribos, etc. Ou seja, somos diariamente confrontados com frases como "Antropólogos? Ah...aqueles tipos que estudam as tribos em Africa...". Não que se afaste muito da realidade, ou pelo menos do passado do antropólogo, que foi muitas vezes confudido como agente do governo colonial, ora através de uma relação cognitiva de construção preconceituosa ora de forma conciente e complacente pelo próprio antropólogo. Mas as alterações ao longo do tempo desde do inicio do século XX provaram que o mapa de objectos de estudos era bem mais alargado que o que era oferecido pela situação colonial que entrava em declínio. Não só pelos acontecimentos históricos bem conhecidos, mas também pela crescente saturação de estudos de casos e etnogtrafias coloniais africanas e arredores do mundo industrializado dito civilizado por oposição.
Mas o que nos interessa (e peturba) é o real da situação presente. Podemos olhar de forma pouco interessada e relativista de que ainda existe muito campo para o antropólogo investigar e trabalhar. Claro que por conta própria, mas, nesse aspecto está em todo o cidadão com o mínimo de curiosidade e de capacidade económica (mesmo não tendo a formação académica para tal) partir em busca do seu objecto e desenvolver através da sua própria observação o resultado. Mas em termos profissionais, ou seja, como emprego em que desenvovle estudos a troco da contrapartida monetária (de acordo com a legislação em vigor referente ordenados minimos da dita Sociedade) é totalmente inexistente. Não só porque, por um lado os antropólogos são vistos. cada vez mais, como empecilhos ao poder politico local e poder central, bem como por outro lado levanta um certo número de questões éticas e morais. Este último aspecto é "uma espada de dois gumes": ora por permitir levantar a suspeita sobre todo trabalho efectuado de toda uma classe em que por motivos religiosos, culturais, étnicos ou políticos leva um antropólogo a apresentar um estudo de caso ou levantar outras questões, ora por que a utopia é uma abrastracção delirante e que é bem possivel a existencia de certos individuos que traiem a sua prespectiva científica a troco de algo mais (um cargo politico ou um lugar de relevancia no partido X, posiçao na empresa Y, dinheiros e outros prémios, etc.) e a corrupção pode tomar várias formas. É este confronto (a imagem actual do antropólogo perante o "poder" e a relação entre este "poder" e o antropólogo) que tem levado cada vez mais para o esquecimento a Antropologia.
Na minha opinião, perante a minha formação e capacidade de observação que a Antropologia encaminha-se para um caminho sem retorno, sem futuro para os formados. Um futuro que se encerra em visitas curtas e esporádicas ao campo de trabalho e cada vez mais fechado entre quatro paredes a ler clássicos de outros tempos. O caminho para a recuperação, a meu ver, começa tanto dentro da Antropologia bem como pelos próprios poderes instalados que adoram a estagnação.