quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Quando a noite cai

Circunstancializando o posterior relato: já era tarde, 2 ou 3 da manhã. O casal vai finalmente para a cama, tentar dormir. A conversa que passo a descrever, sucedeu efectivamente.
ela: eu tinha uma professora que ministrava...
ele: ministro vem do latim magister e que tem a ver com magisterium que creio ser função...
ela: ai é?
ele: Mas é engraçado (delirando) que derivado de ministro existe um verbo que é ministrar, o qual nunca é aplicado à circunstância em que actualmente se adjectiva alguém como ministro, ou seja, um titular de uma pasta num governo de estado. Nunca se diz, ou pelo menos não me lembro de ouvir dizer, que o ministro, ministra, no entanto, já é mais vulgar ouvir dizer ou dizer, que um professor ministra. O ministro quanto muito administra (delirando com intensidade)...as palvras sofrem os efeitos dialécticos da mudança que as preênche...tipo a dialéctica Hegeliana, a viagem do espírito, da ideia no seu eu virado para si, a confrontação com a sua alteridade, que irá culminar numa sintese, que de sintética nada tem, pois já contem em si mais momentos, que os estadios que a precederam. Isto é interminável...nunca acaba...o problema do Marx é que a coisa se reduzia muito à luta de classes...chamavam-lhe socialismo utópico! Mais uma vez o latim...topus=lugar, logo utopos é o que não tem lugar...chamavam-lhe o materialismo histórico...
ela: ahhhhhh...bocejou intensamente.
ele: Pois...penso, logo existo!
ela:Pois é...
ele:Esse era um racionalista...tudo estava na razão, já o Locke era um empiriscista, tudo passava pelos sentidos...tudo, mas tudinho mesmo, a teoria da folha em branco ou tábua rasa!
ela:ahhhhhh
ele: Havia ainda uns cépticos...David Hume..blã blá blá, esses duvidavam da capacidade de se produzir saber ou conhecimento. Então apareceram os idealistas...tipo Kant, o paradigma misto entre empiricismo e racionalismo, as categorias àpriori espaço e tempo que enquadram a experiência...
ela:ahhhhhhhhhhhhhhhh
ele:epah! desculpa lá não me calar...mas isto era só para explicar que as palavras têm vida, algo que se assemelha à dialéctica hegeliana, só que neste caso é tipo uma dialéctica Sousurreana, a oposição constante entre palavras, em si vazias de conteúdo, que só adquirem significado pela relação opositiva que estabelecem entre si, no fundo uma visão sistémica, tipo teoria dos vasos comunicantes. Sistema, não como soma das partes, mas sim como soma das relações entre as partes, tás a ver? O mundo e a vida são só movimento criado pelo confronto, oposição, fricção, enfim muita coisa que acabe em ão!! Nada está parado, mesmo quando parece que está...já o Foucault dizia que "o agonismo é uma recalcitrância autêntica do indivíduo"...epah!Por falar neste senhor, heterotopias é um termo dele...mas agora não me lembro...hetero...tem a ver com o outro, tipo se é heterossexual...é porque se sente atraído pelo sexo diferente, por isso...heterotopia tem que ver com diversidade, não achas?
Mas ela já dormia profundamente. Ao menos serviu para algo, pensou o gajo. Boa noite.

1 comentário:

Henrik disse...

LOL. Serviu sem dúvida...e é sempre bom ter companhia na cama....Curioso...outra coisa irónica: Ministro sempre significou 'o menor' dos governantes. Primeiro-Ministro deveria ser a mais baixa patente da elite política 'O primeiro dos menores'. Deveria ser 'magistro' e não 'ministro'...mas enfim...assim se faz um Estado...ou vários...Outro detalhe não há eu em Hegel. Tudo é um todo que participa do absoluto que Hegel tutela à História que é a manifestação temporal de Deus. Locke também era céptico e kant um grande 'crítico' sobretudo...=P
Abraço!