segunda-feira, 23 de março de 2009

AS FAMILIAS QUE SOMOS


Finalmente online o folheto (manifesto, testemunho, conjunto de histórias de vida) informativo elaborado pela associação ILGA Portugal.
Este folheto foi o mote para o meu trabalho de estágio de licenciatura, e , como tal conta com a minha colaboração na recolha dos testemunhos =).
Mais uma vez fica um agradecimento a todos os que aceitaram participar expondo um pouco das suas vidas por uma causa MAIOR.
Leiam, divulguem e espero que gostem e fiquem a conhecer melhor através dos relatos na primeira pessoa, as vidas vividas dentro destes ainda gigantes TABUS no seio da sociedade portuguesa que são a Homo, a Bi e a Transsexualidade.

quarta-feira, 18 de março de 2009

História infantil





A verdade e a mentira

Dizem que há muito muito tempo atrás, Deus tinha acabado de criar o mundo e tinha criado os grandes montes, os grandes oceanos , os grandes desertos, e tinha também feito os animais, tinha feito o homem, tinha feito a mulher, e como dá muito trabalho fazer o homem e a mulher porque eles nunca estão satisfeitos com nada, deus subiu até ao alto do monte e sentou-se.

Sentou-se e deu um grande suspiro, e daquele suspiro saíram dois seres, do interior do criador, saíram dois seres mais, ninguém consegue adivinhar quais.

Eram eles a mentira e a verdade.

A mentira e a verdade eram duas mulheres.

A mentira era assim uma mulher um bocadinho de meter medo ao susto, mas a verdade, oh, a verdade era a mulher perfeita. Tinha um olhar translúcido, deixava transparecer toda a sua pureza, toda a sua sinceridade. A mentira não.
A mentira tudo o que ela era por fora era assim por dentro, muito retorcida, mal saio de dentro do criador começou a dizer mal de tudo. Elas eram tão diferentes tão opostas que quando resolveram conhecer o mundo seguiram caminhos opostos, e elas tinham que ter comida, tinham que ter dormida, então iam pedindo auxilio, às aldeias e ás cidades vizinhas. A mentira como era muito impostora e muito falsa aproximava-se de uma aldeia e punha um sorriso impostor na cara.

-- Ora muito bom dia, ah ah ah , olhe que aqui cheira muito bem, você deve ter cá um jeito para cozinha… E era assim que ela conhecia um caldinho.. Dormir num sítio…
A verdade coitadinha, como não conseguia dormir passava mal.

Um dia em que a vida corria melhor e melhor para a mentira, ia ela de uma aldeia para a outra ia ela pelo caminho fora quando começa a ouvir um pranto de desespero atrás de uns arbustos. Ela saiu do caminho e aproximou-se daqueles arbustos. Quando espreitou era a sua irmã baba e ranho por todo o lado, com os olhos inchadíssimos…

--- Ehh, oh verdade tu sai-me daí, tu nem digas que és minha irmã que eu tenho vergonha.
Ela saiu coitadinha estava muito mal e dizia que estava farta daquela vida….
-- O que é que eu devo fazer, ninguém gosta de mim…
Ela teve pena, compadeceu-se daquele sofrimento e de um saco que trazia consigo a mentira começou a tirar uns panos dourados, uns panos prateados umas coisas para fazer uns penteados esquisitos e transformou a verdade numa pessoa completamente diferente.
A verdade estava toda contente para experimentar o seu novo visual na nova cidade, mas antes de ela seguir caminho a mentira disse:
-- Alto! Não sigas caminho ainda. Tu agora quando fores para a próxima cidade verdade, tu vais dizer que o teu nome é história. Daqui em diante o teu nome vai ser sempre história, nunca digas que o teu nome é verdade, e desde então a verdade, vestida com panos da mentira seguiu o seu caminho e bateu á porta de todos os homens e todos os homens a deixaram entrar na sua casa e no seu coração e se nos olharmos bem para uma história nos sabemos que todas as histórias são grandes mentiras, mas no fundo bem lá no fundo há um bocadinho de verdade.

Fonte:
História contada por Tânia Silva á TSF como apresentação do que ira ser o Encontro de literatura infantil no Porto no dia 19 de Março, que vai juntar escritores, ilustradores, professores e contadores de histórias

quinta-feira, 5 de março de 2009

Metallica - Leper Messiah

O messias...o profeta...os anjos...arcanjos...assuras...coisas do céu e do inferno, medos e aspirações...conforto...segurança na terra, no céu ou no inferno...


domingo, 1 de março de 2009

Nada

(...) O circuito da comunicação acaba também por ser um circuito que produz um padrão de dominação e uma das suas escalas estabelece-se ao nível linguístico, que por sua vez emite enunciados discursivos que regulam ou condicionam as práticas, no entanto, reality exists outside language, but it is constantly mediated by and through language (Hall 2003:511). A teoria linguística (importante na compreensão dos discursos e das relações que estabelecem com as práticas) assume como conotação a maior fluidez e associação de significados e respectivos significantes, bem como a universalidade com a denotação.

It is because signs appear to acquire their full ideological value – appear to be open to articulation with wider ideological discourses and meanings – at the level of their associative meanings (that is at the connotative level) – for here meanings are not apparently fixed in natural perception (that is, they are not fully naturalized), and their fluidity of meaning and association can be more fully exploited and transformed (idem:512).

É portanto ao nível denotativo que as ideologias dominantes se posicionam, e ab contrarium, ao nível conotativo que a dinâmica transformativa se opera sobre o significado, derivando para uma interpretação e condição polissémica do discurso, bem como para uma correspondente diversidade das práticas ou apropriações estratégicas do significante dominante, ou seja denotativo/literal. The domains of “preferred meanings” have the whole social order embedded in them as a set of meanings, practices and beliefs (ibidem:512), dominação essa que se ergue sobre uma panóplia de sanções, legitimações e limites impostos por sistemas de coercibilidade. Esta ideia devidamente adaptada, constitui-se como a base de todo o pensamento de Judith Butler no que concerne à problemática sexo/género. Para ela o género constitui-se mais como uma questão de performances sociais reiteradas/ritualizadas de diferenciação e legitimação de hierarquias, do que como uma realidade apriorística, stopped as an attribute of a person, sex inequality takes the form of gender; moving as a relation between people, it takes de form of sexuality. Gender emerges as the congealed form of sexualisation of inequality between men and women (Katherine Franke in Butler 2006:XII). Ou seja:

When the constructed status of gender is theorized as radically independent of sex, gender itself becomes a free-floating artifice, with the consequence that man and masculine might just easily signify a female body as a male one, and woman and feminine a male body as easily as a female one (idem:9).

No mesmo sentido, Foucault considera que a lei, neste caso a que institui uma heterossexualidade alicerçada na existência de apenas dois géneros, feminino e masculino, cria a noção de uma lei prévia ao sujeito, naturalizando desta forma essa existência. No entanto, esse mesmo enunciado discursivo que estigmatiza e classifica a alteridade e simultaneamente legitima o normal, abre nessa sua apetência pela ordem positivamente discriminada, espaço à sua própria subversão (Foucault in Butler 2006). A lei ao discriminar o certo cria um vácuo imenso para tudo o que a seus olhos se revele como subversivo e poluidor, esse sujeito has developed some wrong condition or simply crossed over some line which should not have been crossed and this displacement unleashes danger for someone (Douglas 1969:4), pelo que a quebra do tabu se constitui como a negação da lei, negação essa infinitamente mais vasta do que aquilo que objectivamente visa negar. In representation, one sort of difference seems to attract others – adding up to a spectacle of otherness (Hall 1997:231-232), em que a negociação do sentido, ou seja a negociação muitas vezes agonística das representações, se desenrola num infindável entrelaçar de elos, em que uma forma de negação apenas pode ser entendida tendo como referência aquilo que tendencialmente se revela como hegemónico e simultaneamente objecto da negação. Hall goes on to argue, messages have a “complex structure of dominance” because at each stage they are “imprinted” by institutional power-relations (Hall 2003:507).