Com os anos 50 e após o términus da segunda guerra mundial, aceleram-se os processos globalizantes, nomeadamente o desenvolvimento tecnológico que acentua os fluxos de pessoas e capitais, gerando interdependências, remodelando deste modo os conceitos de fronteiras até então construídos. Da facilidade de contacto entre os povos, surge a necessidade destes, de elaborarem novas fronteiras de carácter acentuadamente simbólico (COHEN,BARTH). É nesta ambiência de choque e contrastes ao nível cultural, que os antropólogos vislumbram um novo objecto de investigação, a construção de uma personalidade colectiva capaz de distinguir os povos dos demais, tentando através da sua análise construir um perfil psicológico colectivo ou psicologia étnica que identifique os sujeitos individualmente considerados, num conceito mais lato, o de nação (ANDERSON). No entanto, a génese desta problemática científica, remonta a finais do séc. XIX, data das primeiras emigrações de Portugal para os Estados Unidos (Baganha) e dos primeiros choques culturais.
Em Portugal, o assunto da psicologia étnica é desenvolvido a partir de 1870/80, sensivelmente no momento crucial do “take off” do projecto Antropológico. É o caso de Teófilo Braga, com uma visão simpática dos Portugueses, descrevendo-os como indivíduos orgulhosos, propensos à aventura, de genio imitativo com contornos de fatalismo. Obras de referência são: “A Pátria Portuguesa. O Território e a Raça” ou “ Cancioneiro Popular Português”. Com uma visão mais negativa, aparecem-nos Rosa Peixoto e Adolfo Coelho, o primeiro devido ao seu gosto pela arquitectura, estabelece paralelismo entre o interior das habitações e a alma Portuguesa, que considera rude, indigente, violenta e nada criativa. Na sua obra “Cruel e Triste Fado”, acentua esta visão negativa , apelidando este tipo de canção e o carácter dos Portugueses, como sendo vadio, imundo, hipócrita e malandro. Adolfo Coelho partilha desta negatividade, sendo que de alguma forma se mostra percursor no caminho para a interdisciplinaridade. Mostra-se atento a factores de ordem degenerativa ao nível da psicologia étnica em “Esboço de um Programa para o Estudo Patológico e Demográfico do Povo Português”, 1890. João Leal aponta dois reparos a esta panorâmica, o facto de considerar as reflexões pouco sistémicas e o do seu resultado não apresentar concenso entre os vários estudiosos da época.
A partir de 1950 com o fim da guerra, o boom da emigração de Portugal para a Europa, o início da guerra colonial que possibilitou maior mobilidade dos Portugueses dentro do seu território, florescimento da interdisciplinaridade e a necessidade de afirmação no plano internacional de diferenças estrategicamente elaboradas com fins políticos (COHEN) ou fronteiras simbólicas potenciadoras de um self ascription or ascription by others(BARTH), surge no panorama Português Jorge Dias, que inaugura uma tendência de cooperação entre antropólogos, no caso Margot Dias ou jorge Galhano, que devido ao clima de enorme fluxo de ideias, pessoas e mercadorias viaja pelos E.U.A. , onde adquire alguma visibilidade internacional e de onde resultam influências no seu trabalho etnográfico do Culturalismo Norte Americano, inspirado por exemplo na obra “A Espada e o Crisanto” de Ruth Bendict, onde é descrito o carácter colectivo dos Japoneses, com atavismos nítidos em “Elementos Fundamentais da Cultura Portuguesa”. Saliente-se a sua preocupação em estabelecer uma caracterização do perfil psicológico étnico dos Portugueses, de onde se reflectem evidentes influências de Orlando Ribeiro. Inaugura novos objectos na etnografia Portuguesa, nomeadamente em contextos Africanos, mais concretamente com os Maconde em Moçambique.
Em Portugal, o assunto da psicologia étnica é desenvolvido a partir de 1870/80, sensivelmente no momento crucial do “take off” do projecto Antropológico. É o caso de Teófilo Braga, com uma visão simpática dos Portugueses, descrevendo-os como indivíduos orgulhosos, propensos à aventura, de genio imitativo com contornos de fatalismo. Obras de referência são: “A Pátria Portuguesa. O Território e a Raça” ou “ Cancioneiro Popular Português”. Com uma visão mais negativa, aparecem-nos Rosa Peixoto e Adolfo Coelho, o primeiro devido ao seu gosto pela arquitectura, estabelece paralelismo entre o interior das habitações e a alma Portuguesa, que considera rude, indigente, violenta e nada criativa. Na sua obra “Cruel e Triste Fado”, acentua esta visão negativa , apelidando este tipo de canção e o carácter dos Portugueses, como sendo vadio, imundo, hipócrita e malandro. Adolfo Coelho partilha desta negatividade, sendo que de alguma forma se mostra percursor no caminho para a interdisciplinaridade. Mostra-se atento a factores de ordem degenerativa ao nível da psicologia étnica em “Esboço de um Programa para o Estudo Patológico e Demográfico do Povo Português”, 1890. João Leal aponta dois reparos a esta panorâmica, o facto de considerar as reflexões pouco sistémicas e o do seu resultado não apresentar concenso entre os vários estudiosos da época.
A partir de 1950 com o fim da guerra, o boom da emigração de Portugal para a Europa, o início da guerra colonial que possibilitou maior mobilidade dos Portugueses dentro do seu território, florescimento da interdisciplinaridade e a necessidade de afirmação no plano internacional de diferenças estrategicamente elaboradas com fins políticos (COHEN) ou fronteiras simbólicas potenciadoras de um self ascription or ascription by others(BARTH), surge no panorama Português Jorge Dias, que inaugura uma tendência de cooperação entre antropólogos, no caso Margot Dias ou jorge Galhano, que devido ao clima de enorme fluxo de ideias, pessoas e mercadorias viaja pelos E.U.A. , onde adquire alguma visibilidade internacional e de onde resultam influências no seu trabalho etnográfico do Culturalismo Norte Americano, inspirado por exemplo na obra “A Espada e o Crisanto” de Ruth Bendict, onde é descrito o carácter colectivo dos Japoneses, com atavismos nítidos em “Elementos Fundamentais da Cultura Portuguesa”. Saliente-se a sua preocupação em estabelecer uma caracterização do perfil psicológico étnico dos Portugueses, de onde se reflectem evidentes influências de Orlando Ribeiro. Inaugura novos objectos na etnografia Portuguesa, nomeadamente em contextos Africanos, mais concretamente com os Maconde em Moçambique.
No fundo, o que se procurava através da articulação das estratégias não planeadas ou planeadas do povo Português e a visão sobre elas lançada pelos cientistas, era a invenção de um “do it yourself kit”(Orvar Lofgren) passível de ser transportado por um discurso político, do tipo “banal nationalism”de Billig, para as mais profundas raízes étnico-psicológicas através de um processo de socialização, transmitido mediante massificação cultural e que aglomerasse em torno de símbolos, essa essência "do ser português",transformando-a em algo de “genuinamente” nacional ou seja uma representação com convicção e consenso de realidade generalizada.
2 comentários:
Não sei em que medida isto é executável, mas creio que seria interessante combinar esforços em prol de uma clarificação deste problema étnico. Sendo a tua formação antropológica e a minha filosófica, existe uma clara complementaridade. estou deveras preocupado com situações xenófobas que observo todos os dias. Contacta-me quando puderes Lugosi.
Abraço.
É executável e já o foi, como por exemplo o luso tropicalismo difundido pelo estado novo, em que o português aparece como um benévolo colonizador, com facilidade de adaptação e com tolerância perante os costumes locais (Gilberto Freyre). São muitas vezes trabalhos que indirectamente servem estratégias de manipulação política e ideológica, tem este lado perverso, embora tenha outros que são comunitariamente positivos.Abraço
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