ANTROPO-REFLEXÕES
MUNDI-VISÕES AO SABOR DA ANTROPOLOGIA
quinta-feira, 30 de agosto de 2018
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017
terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
terça-feira, 6 de dezembro de 2016
segunda-feira, 28 de novembro de 2016
Armadilha do poder
Houve tempos em que a revolução surgia no contra-poder, hoje a revolução passeia perante os nossos olhos e nem a notamos. Hoje são os homens do poder que fazem a revolução. Antes a revolução era um choque contra o status quo. Era radical. Hoje acontece um bocadinho todos os dias, de tal forma que as coisas dão a aparência de mudar lentamente ou de nem mudarem. Antes os estudantes e a universidade apontavam novos rumos ao mundo, hoje reforçam a lenta mudança que adormece e que nos aprisiona no capital e no consumismo. Antes a revolução fazia verter o sangue de uma só vez, hoje o sangue escorre constantemente e nós, habituados às novelas e ao sangue, deixámos de lhe prestar qualquer atenção. Tudo por uma marca, nada por uma gota de sangue. A hemorragia tornou-se banal, vivemos com ela e de tão distraídos que andamos, nem nos apercebemos que sangramos de morte os nossos filhos e que condenámos os nossos pais a uma decadência indigna.
terça-feira, 11 de outubro de 2016
Mais um comentário deveras interessante
- Embora este blog não se debruce sobre a personagem Cris Negão, a verdade é que personagens deste calibre se tornam mitos, para o bem e para o mal. Falar de mitos envolve por vezes a recriação duma cópia imperfeita do original, porém neste caso, pode também produzir o efeito de chamar à atenção para determinadas relidades.
- Grato pelo comentário do anónimo.
- Conheci Cris Negão pessoalmente, eu desviava dela na rua por ser mulher, ela tinha ódio de mulheres, matava sem motivo. Aliás, ela matava qualquer pessoa por pouca coisa, especialmente quem tentasse pegar algo dela ou levantar a voz para ela.
Na época da Andreia de Maio, havia muito mais organização e respeito entre as travestis, Andreia era uma mãe!
Após a morte dela, Cris Negão "coincidentemente" assumiu o posto dela(vale ressaltar o fato de que Cris Negão era famosa por injetar silicone industrial que resultavam em catástrofes, vide a face do Fofão da Augusta, foi presente da Cris para um ex-travesti que quis falar mais alto do que ela), mas não era a única, havia também outra travesti que cafetinava na mesma rua, mais brutal do que Cris Negão, era a Micaelle Louise!
Micaelle foi encontrada morta a sete facadas, a polícia nunca apresentou uma conclusão do caso, afinal, os casos do centro não costumam ser investigados a fundo, mas todos da região dizem que foram os michês da Cris Negão que mataram a Micaelle Loiuse, a mando de Cris Negão, que estava perdendo afilhadas para a Micaelle, pq as multas da Micaelle eram mais amenas...
Resultado? Mexeu com o território dela, pediu pra morrer! ...e assim foi...
Cris Negão carregava dezenas de homicídios diretos e indiretos, Micaelle foi apenas mais uma na mão dela, assim como quem a devia, quem não pagava as multas, quem tentava gritar com ela, enfim...ela nunca precisou de motivo para matar quem quer que fosse, até policial ela mandava matar e nunca se importou!
Pq...afinal, até a polícia tinha medo de Cris Negão!
Ela era famosa por deixar o rosto das pessoas desfigurado, fosse com silicone industrial, cavos de vidro, fogo ou ferro em brasa, para que a pessoa não se esquecesse dela e nem do motivo de ter ficado com o rosto daquela forma, ela dizia que era para fazer lembrar toda vez que a pessoa se olhasse no espelho.
...e assim se encerra a história de uma das piores psicopatas que as ruas de SP já conheceram...
PS: ela nunca se importou com o bem estar das travestis, nem com ninguém que fosse, Cris Negão era psicopata e não possuía empatia de nenhum tipo. - 11 de outubro de 2016 às 14:40
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Novas varáveis, novos percursos
Depressão económica no séc.XXI, e agora alteram-se os fluxos migratórios ao nível da prostituição internacional? Há sinais de que esse processo está em andamento e a depressão não chegou ao auge. A tendência será a migração para outros países da Europa, orientada para a busca de melhores condições de mercado. Por outro lado, a prostituição em residência poderá dar lugar a um maior número de prostitutas na rua.
sábado, 2 de abril de 2011
A encruzilhada
"A antropologia não resolve problema nenhum, apenas levanta problemas!" E isso é pouco?? Senão levantarmos problemas e questões...como poderemos sequer tentar resolvê-los ou responder-lhes?
Creio que ouvi esta frase magnífica a Benjamim Pereira num seminário.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Família
Olá, a ausência faz-se sentir numa omnipresença sufocante de um trabalho sem fim. Sim, a matéria em apreço continua a ser a mesma, migrações, globalização, género, desvio, travestis e prostituição. Quem trabalha sobre migrações, sabe que um dos catalizadores do seu crescimento é a procura de melhores condições de vida, o desejo de ter uma casa própria no país de origem, de melhorar as condições de vida dos familiares distantes, originando muitas das vezes novas formas de organização familiar. No início deste empreendimento não material, a ideia preconceituosa de que o antropólogo parte para proceder à sua desconstrução, era a de que as migrações transnacionais da prostituição travesti brasileira para a europa se consubstanciavam em moldes diversos de todas as outras. Tal não é verdade, a começar pelo tópico com que iniciei este post. Na verdade os brasileiros sabem que a ajuda monetária à família é um dos objectivos da sua emigração, e inseridos nesse modelo de cidadania e sociedade, tendo como base a célula vital de toda a organização humana, ou seja a família, as travestis tal como a maioria dos migrantes enviam remessas periodicamente para o Brasil, com o intuito de ajudar a família. Um item interessante a ser analisado a partir desta constatação serão as novas formas de organização familiar, sua estruturação e/ou reatamento de relações familiares outrora moribundas que emergem destas novas relações de dependência transnacionais.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
De muitas e Variadas Partes ao Portugal do Século XXI
Contextos migratórios vários onde o género, sexo e nacionalidade se intersectam numa realidade global multi-cultural onde a diferença se desconstrói e constrói face à sua diferença, antes longínqua e continental e agora próxima e regional.
Sinopse:As relações familiares referenciadas a populações imigrantes têm vindo a constituir um foco crucial dos debates sobre a diversidade cultural e os seus limites, um objecto do discurso mediático e de intervenção política. Apoiado num estudo comparativo, este livro continua a pesquisar a influência das experiências migratórias na reconfiguração de valores e práticas de género, intergeracionais e familiares dos imigrantes.Índice:De muitas e variadas partes ao Portugal do Século XXI. Dinâmicas de género, intergeracionais e familiares em contexto migratório – IntroduçãoSusana Trovão “Handmaids of the Lord”: empregadas domésticas, esposas e mães à distância – rostos femininos da imigração Filipina em Portugal Inês David Usos da religião na participação cívica: recursos identitários de mulheres de origem são tomense no contexto pós colonial português Sónia Ramalho com a colaboração de Susana Trovão Da Guiné Bissau a Portugal: trajectórias socioculturais de mulheres muçulmanas de duas gerações Maria Abranches Do Brasil Palhaço ao Portugal Europa: a importância do ‘onde se vem’ na construção do ‘para onde se vai’ nas estratégias de imigrantes femininas brasileiras em Portugal Elsa Rodrigues De “mana em mana”: transnacionalismo e agência entre travestis brasileiras Francisco Luís e Susana Trovão Comparando relações de género, intergeracionais e familiares em populações imigrantes e minorias étnicas: debates “privados”, denegação pública e outras mediações Susana Trovão e José Gabriel Pereira Bastos SOBRE A ORGANIZADORA: Susana Trovão é professora associada da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, investigadora coordenadora da Linha Migrações, Etnicidade e Cidadania do CRIA (Centro em Rede de Investigação em Antropologia) e co fundadora do CEMME (Centro de Estudos de Migrações e Minorias Étnicas da FCSH). |
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
domingo, 8 de agosto de 2010
Eco logia ou ecologia?
A troposfera suporta já cerca do dobro de ozono de há cem anos. mas parece ser capaz de aguentar cerca de dez vezes mais ozono do que agora, pelo que também este problema mal começou (Weiner 1991:209).
Uma só molécula de metano aumenta o efeito de estufa da atmosfera da terra tanto quanto vinte moléculas de dióxido de carbono (Weiner 1991:72).
Água, dióxido de carbono e ozono: Estes três gases têm algo que as moléculas de nitrogénio e oxigénio não têm. Possuem um terceiro átomo. O nitrogénio é N-N e o oxigénio é O-O: pares de átomos. Os três gases de estufa são triplos: a água é H-H-O e o ozono é O-O-O, uma forma aberrante de oxigénio e altamente instável, um ménage `trois; o dióxido de carbono é, claro, é O-C-O...(idem:46).
Weiner, Jonathan 1991 Os Próximos cem anos, Gradiva:Lisboa.
Apesar de algo recuado no tempo, parece-me uma leitura imprescindível, quanto mais não seja para se concluir que há cerca de vinte anos já os efeitos nefastos da actividade humana eram conhecidos. Agora a Rússia arde, o trigo sobe, o Paquistão nada. Amanhã serão outros. José Lino quando afirmou que o Sul de Portugal era um deserto estaria já ele próprio ciente de que o efeito de estufa, o buraco no ozono, o degelo, a subida das temperaturas...iriam transformar todo o Portugal num deserto?
Outro assunto: De muitas e variadas partes ao Portugal do século XXI, autora Susana Trovão. Um retrato de panoramas migratórios no Portugal actual, desde S.Tomé, Brasil, Filipinas, Guiné Bissau, etc..De mana em mana: Transnacionalismos e agência entre travestis Brasileiras, é da minha autoria e da autora do livro, Susana Trovão.http://www.edi-colibri.pt/Detalhes.aspx?ItemID=1370
quinta-feira, 8 de abril de 2010
mediascapes (Appadurai)
Hoje dou-vos conta de um estudo que achei muito interessante, para além de relevante e super actual, "Fluxos Matrimoniais entre brasileiras e portugueses" patrocinado pelo Alto Comissariado para a imigração (ACIDI), da autoria de Paulo Raposo e Paula Togni (2009). Para além da pertinência da temática abordada, para mim foi duplamente interessante pelo facto de eu próprio me rever como actor social interveniente no mercado matrimonial transnacional através de um casamento misto com uma brasileira. Isto ainda fica mais engraçado quando verifico que desde Maio de 2009 já passaram por aqui 8558 brasileiros, enquanto que portugueses apenas 3338. De resto fica a sugestão de uma leitura interessada e interessante.
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
antropo-contexto
Isto tem andado parado, nem sempre estamos na disposição de dispôr dos nossos pensamentos, devaneios, ou até de dados mais objectivos colhidos e observados. Não obstante, tal não significa que se tenha parado, na verdade parece que dentro de sensivelmente três meses, o meu primeiro artigo será publicado, num livro em que doutorandos resumem num texto de reduzidas dimensões as suas mais vastas investigações de doutoramento. Um pouco ao acaso, o meu percurso académico encarregou-se de me direccionar para as questões de género, enquadradas num mundo cada vez mais pequeno e apertado, em que a estratégia geo-política mudou por completo e nos casos em que não mudou, irá mudar por força das circunstâncias. Já nada se produz para durar, neste mundo em que o distante se tornou próximo, parece impor-se uma consciência de que a mudança é a essencia do social, ainda que tal, por algum motivo e nalguns casos não se consiga vislumbrar. O evoluir dos acontecimentos políticos, económicos e sociais demonstram que quase premomitoriamente, o "futebol português" tinha razão: o que hoje é verdade, amanhã pode não ser ou seja: nunca digas nunca, na medida em que os alicerces de todas as culturas se mostram frágeis, tão frágeis como o tempo finito que lhes deu origem. O contexto nunca fez tanto sentido, com a ressalva de que ele é cada vez mais circunstancial.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
O Animal Moral
(you shouldnt) "expect the moral codes to serve the interests of society at large.
They emerge from an informal political process that presumably gives extra weight to powerful people.
They are quite unlekely to represente everyone's interests equally.
And there's definitely no reason to assme that existing moral codes
reflect some higher truth apprehended via divine inspiration or detached philosophical inquiry. "
(Wright, 1994)
...
E no entanto a moral está em todo o lugar.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
“gender is thought of as a process of structuring subjectivities rather than as a structure of fixed relations (Morris 1995:568).”
Morris, R. C. All Made Up: Performance Theory and the New Anthropology of Sex and Gender in Annual Reviews, 1995, Department of Anthropology, Columbia University: 567-592.
Morris, R. C. All Made Up: Performance Theory and the New Anthropology of Sex and Gender in Annual Reviews, 1995, Department of Anthropology, Columbia University: 567-592.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Reflectindo no mundo interligado, mas que mantém o confronto a várias escalas entre o nós e o eles, ou até, com a nossa própria alteridade.
Adriana Piscitelli é uma antropóloga brasileira que trabalha em questões de género e sexualidade, com uma imensa panóplia de temáticas associadas às duas primeiras.
A migração com vistas à inserção na indústria do sexo, envolve muitas vezes redes semelhantes às usadas por migrantes brasileiros que trabalham em outros sectores (…) nesses casos, o adiantamento de dinheiro a ser devolvido com juros análogos aos pagos num clube, a oferta de uma vaga em um apartamento (pelo qual se paga um valor superior ao que ela de fato teria) e/ou o apoio para se estabelecer em “pontos”, na rua, tudo isso é lido como “ajuda”(Piscitelli 2007:21.
(…) outras, contudo, estavam inseridas em redes femininas de vizinhas, amigas, conhecidas e parentes que já moravam na Espanha, o que também é recorrente para migrantes de outras nacionalidades, assim como para pessoas transexuais (Piscitelli 2007:21).
(…) outras, contudo, estavam inseridas em redes femininas de vizinhas, amigas, conhecidas e parentes que já moravam na Espanha, o que também é recorrente para migrantes de outras nacionalidades, assim como para pessoas transexuais (Piscitelli 2007:21).
Piscitelli, A. “Corporalidades em Confronto; Brasileiras na indústria do sexo em Espanha” in Revista Brasileira de Ciências sociais, Vol. 2, nº64, Junho 2007.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
As Migrações num Mundo Interligado
As Migrações num Mundo Interligado, relatório acerca do tema implícito e explícito, interessante e a partir do qual me lembrei de mencionar factos do quotidiano de um mundo globalizado emergentes da minha pesquisa:
A própria Larissa confidenciou que as agências de viagens no Brasil a aconselharam - tal como fazem a outros migrantes - sobre os melhores percursos para fugir ao controlo fronteiriço europeu e lhes fornecem contactos. Após ter vivido durante três anos em Itália, deambulando de cidade em cidade, decidiu “mudar-se” recentemente para Portugal. A “entrada de Berlusconi no poder em Itália, dificultou muito mais a vida a quem trabalha na rua”, buscando desta forma a legalização, e utilizando a possibilidade que lhe é conferida em virtude do laço familiar com o pai português, actualmente a residir em Braga.
Etiquetas:
banalidades sistémicas
domingo, 27 de setembro de 2009
Género e sexo/referenciais de identificação
Na sequência da investigação que venho realizando desde há algum tempo, em que um dos tópicos se refere à questão do género, sua diferenciação, identificação e vivência vivida nas experiências quotidianas, um dos principais ganhos na caminhada sempre inacabada e sempre insuficiente do conhecimento, que não raras vezes culmina num lugar tornado comum do "só sei que nada sei" ao ponto de esse chavão se tornar um símbolo do conhecimento, que ele próprio pretendia sentenciar como arrogante, simplesmente pelo facto de se estender ao infinito (porque sempre inacabado), segundo Hegel tornado finito perante o absoluto, esse sim o infinito só imaginável, consistiu na possibilidade que a investigação me concede de colocar as questões em perspectiva, de que emerge o carácter relativo do social. Assim, e na sequência da estratégia adoptada de postar tópicos avulsos que concedam aos leitores a possibilidade de serem eles próprios a preêncher os espaços "em branco", faço hoje uma referência a Kessler e McKenna, dois autores e pesquisadores que demonstram que a interpretação dos corpos através de figuras mostradas a indivíduos, pende claramente para uma análise maioritariamente masculinzada da questão; se um pénis está presente na figura, em 96% das vezes identifica-se o género masculino, pelo contrário, em 95% dos casos em que uma vagina está presente, são necessários mais dois elementos ligados ao feminino, peitos ou cabelo longo por exemplo (Kessler and McKenna 1978:145). Esta abordagem mostra que a questão de género e sua ambiguidade é maioritariamente resolvida tendo em atenção referentes masculinos, then genetic males who live as woman will be among those most at risk for assault. Simply put, within western societies, it is easier for females to pass as man than for males to pass as woman (idem: 145).
Kessler S. e McKenna W. 1978 Gender: An Ethnomethodological Approach,The University of Chicago Press: Chicago.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Crónicas de uma marginalização legalizada
Pois bem, hoje não falarei de transnacionalidades, globalização, género, sexo, racismo...ou provavelmente até sim. Nestes 7 anos de paixão por uma raça socialmente amaldiçoada, muitas coisas me aconteceram, desde comentários a reáções de pânico, alguns dos quais relatarei mais à frente. A questão do açaime...complicado, sempre o utilizei no bonga, rottweiler que me tem acompanhado como um amigo dedicado desde há 7 anos, mas... se o usamos, a pergunta que nos assalta constantemente, para além do olhar aparvalhado e a crítica feroz, é...morde? Se não tivesse açaime atacava já, não é?...ufa a ginástica que faço para não ser eu a morder-lhes impiedosamente. Há uns dias atrás...saí do prédio, acompanhado pelo bonga, uns putos e umas gajas falavam alto e mandavam todo o tipo de lixo para o chão, mas eu tinha que passar né? Afinal não vivo do rendimento mínimo e até comprei a casa onde habito.Pois bem, a reáção foi a de 6 ou 7 pessoas começarem a gritar o mais alto que podiam...fiquei...bem...não vou dizer como fiquei, é mais prudente, no entanto sei o que o Bonga fez: imperturbável, lento no andar e altivo perante aqueles gritos histéricos, face a um cão preso e com açaime, olhou para uma das miúdas (provavelmente pensando se aquilo também pertencia à raça humana que se habituou a conhecer) e colocou-lhe as patas nos ombros, sinceramente não o evitei, mereciam, pois afectam de forma absurda a privacidade dos outros, a minha e a dele, obrigados a pagar seguro, a tirar registo criminal, licenças na junta, a ter um atestado médico comprovando condições mentais para os ter e depois qualquer merda se sente no direito de criticar, gritar, discriminar, ajuizar, censurar, etc..., mas continuando, ao colocar-lhe as patas nos ombros nada mais faz do que isso, da mesma forma que o faria a mim para me receber quando entro em casa, e de imediato se coloca de novo no chão olhando de forma imperturbável para mim, como se me estivesse a dizer que aquela merecia e de uma forma em que quase vislumbrei um sorriso de gozo. No regresso, estavam lá as mesma pessoas e mais um miúdo pequeno, ainda pouco sensível às lavagens cerebrais, que se aproxima do Bonga e o abraça, ele abana a cauda e eu não resisti a olhar para aquelas miúdas que tanto gritavam, mas que no entanto não deixam de ir para a porta de um prédio onde de antemão sabem que existem dois rottweilers, e de lhes dizer - veêm?Afinal também existem pessoas normais. Isto é na realidade um teste ao meu auto-controlo. Por exemplo noutra ocasião, estando eu a passeá-lo vejo um casal de ciganos e como já estou habituado a comentários ou perguntas estúpidas, já esperava qualquer coisa - Ó chefe não me quer dar o cão? - detesto que me chamem chefe, geralmente respondo de forma seca que não sou chefe de ninguém, mas desta vez fingi não ouvir, no entanto a questão repete-se - Ó chefe não me quer dar o cão? - irra! olhei para ele e disse-lhe - Porque lhe hei-de dar o cão, se ele é meu e gosto dele? - não perceberam e a mulher ajuiza: -estes são os cães mais perigosos do mundo - que raiva, esta gente sente-se no direito de gritar, comentar, perguntar e qual o nosso direito, apenas o de contribuir para o rendimento mínimo e para a riqueza da banca e companhias de seguros através das licenças, seguros, etc...?Ok...também há gente normal...mas são poucos. Pensem um pouco para além do que vos é dito, informem-se, pesquisem e pensem como uma legislação mal enquadrada prejudica quem ama os seus animais, independentemente da raça e é indiferente para quem os maltrata na sua dignidade e bem estar mental e fisíco, porque esses não os vão passear, não se dão ao trabalho de lhes colocar açaime porque nem há ocasião para isso, não lhes colocam chip que os identifica como propritário do animal, não os levam aos veterinários, não tiram licenças, não pagam seguros...népia...não fazem nada! E nós que pagamos, que os cuidamos, que os conhecemos e amamos que direitos temos? Um dever cumprido pressupõe um direito, um direito pressupõe deveres...no nosso caso, aos deveres apenas corresponde o dever de andar calado e a levar bocas de qualquer indivíduo que desconheça as regras básicas da civilidade e educação.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Antropologia
« Jamais me esquecerei da resposta que um dia me deu meu pai quando estudávamos uma lista de cadeiras oferecidas pela Faculdade de Letras da Universidade do Witwatersrand, em Joanesburgo, com vista a escolher as quatro que eu faria durante o 1º ano do meu B.A. "Que é antropologia social ?", perguntei. Respondeu-me : "Antropologia… ciência do homem… só pode ser interessante, meu filho. Faz ess" ».
João de Pina Cabral (1998)
João de Pina Cabral (1998)
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
O individuo
Aquilo que pode ser normal, razoável, salutar, para a grande maioria, não nos fornece um critério de comportamento no caso do indivíduo excepcional. O homem de génio, quer pela sua obra, quer pelo seu exemplo pessoal, parece estar sempre a proclamar a verdade segundo a qual cada um é a sua própria lei, e o caminho para a realização passa pelo reconhecimento e pela compreensão do facto de que todos somos únicos.
Henry Miller, in "O Mundo do Sexo"
Henry Miller, in "O Mundo do Sexo"
sábado, 4 de julho de 2009
segunda-feira, 8 de junho de 2009
(Travestis) Entre a estrutura que as apaga e lhes providencia recursos estratégicos (esboço de trecho de artigo para publicação).
(...) O salto para a Europa dá-se pelos mesmos motivos: o querer ganhar dinheiro (corroborado por Peixoto 2007, Xavier 2005) dependente de uma constante necessidade de renovação da oferta (perante a procura ávida de novidade por parte dos clientes), suportado por redes (essencialmente através do Messenger e Orkut) mediante as quais se trocam informações, se propõem empréstimos por parte das travestis estabelecidas na Europa e se sugerem países e cidades consoante a disponibilidade de habitações para troca.[1] Tais estratégias podem configurar-se como redes de auxilio à emigração ilegal, muitas vezes com a colaboração de agencias de viagens no Brasil, os imigrantes brasileiros viajam directamente do Brasil para Lisboa, de avião, ou via Paris, Madrid ou Amsterdão e depois de comboio ou autocarro para Portugal. Este percurso é aconselhado pelas agências de viagens, pelo facto de não existir um controlo de fronteira tão rigoroso (Peixoto 2007:188-189), conforme nos foi confirmado em entrevista por Larissa, embora num percurso alternativo, Budapeste-Viena-Milão. Este tipo de auxílio na rede travesti processa-se de forma similar à de outros migrantes de nacionalidade brasileira; para a angariação de mão de obra brasileira é suficiente exista um contacto em Portugal que vai chamando conterrâneos (idem:183), são redes pouco estruturadas e de organização horizontal, bem diferentes no modus operandi das redes de leste a actuar em Portugal, pelo que, segundo fontes policiais não existe prostituição forçada de brasileiras em Portugal, um menor grau de organização também pode ser acompanhado por um menor grau de coacção (ibidem:230).
Em particular, o salto para a Europa através de Portugal decorre, em grande medida, da abertura institucional ao nível de Estados, propiciada pelo Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Portuguesa e a República Federativa do Brasil. Como resultado da legislação subsequente, qualquer cidadão brasileiro pode entrar em Portugal com estatuto turístico válido por três meses, renováveis por mais três, caso comprove meios de subsistência suficientes para o período de estadia previsto (nos termos da portaria 1563/2007 que regula a lei 23/2007) relativa aos meios de subsistência como requisito para a entrada, permanência ou trânsito em território nacional.
Mais concretamente, tais cidadãos têm que possuir 75€ per capita para entrar em território nacional e uma quantia de 40€ para cada dia de permanência provável em Portugal. Porém, e no caso de tal não se verificar, prevê-se ainda a possibilidade de um cidadão português se responsabilizar no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras pela sua pessoa, bastando para tal comprovar a existência de rendimentos e residência nos termos do nº1 e nº2 do art.12 da Lei 23/2007. Ora, e ainda que de forma menos técnica e precisa, é justamente o conhecimento de tal possibilidade legal, constantemente difundida nas redes de imigrantes brasileiros e, nomeadamente, de travestis, que leva a privilegiar Portugal como um destino, para ganhar muito dinheiro a curto prazo. Este especial relacionamento entre os dois estados é ainda reforçado por um Estatuto de Igualdade de direitos e deveres, bem como de direitos políticos que pode ser requerido após residência legal em Portugal, regulado pelo Decreto-Lei n.º 154/2003, 15 de Julho.
Em particular, o salto para a Europa através de Portugal decorre, em grande medida, da abertura institucional ao nível de Estados, propiciada pelo Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Portuguesa e a República Federativa do Brasil. Como resultado da legislação subsequente, qualquer cidadão brasileiro pode entrar em Portugal com estatuto turístico válido por três meses, renováveis por mais três, caso comprove meios de subsistência suficientes para o período de estadia previsto (nos termos da portaria 1563/2007 que regula a lei 23/2007) relativa aos meios de subsistência como requisito para a entrada, permanência ou trânsito em território nacional.
Mais concretamente, tais cidadãos têm que possuir 75€ per capita para entrar em território nacional e uma quantia de 40€ para cada dia de permanência provável em Portugal. Porém, e no caso de tal não se verificar, prevê-se ainda a possibilidade de um cidadão português se responsabilizar no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras pela sua pessoa, bastando para tal comprovar a existência de rendimentos e residência nos termos do nº1 e nº2 do art.12 da Lei 23/2007. Ora, e ainda que de forma menos técnica e precisa, é justamente o conhecimento de tal possibilidade legal, constantemente difundida nas redes de imigrantes brasileiros e, nomeadamente, de travestis, que leva a privilegiar Portugal como um destino, para ganhar muito dinheiro a curto prazo. Este especial relacionamento entre os dois estados é ainda reforçado por um Estatuto de Igualdade de direitos e deveres, bem como de direitos políticos que pode ser requerido após residência legal em Portugal, regulado pelo Decreto-Lei n.º 154/2003, 15 de Julho.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Pensar o presente para moldar o futuro.
Porque uma sociedade melhor não pode surgir do acaso, mas sim da reflexão sobre a história e a actual conjuntura socio-economica, segue abaixo um excerto do texto Profit Over People: Neoliberalism and Global Order de Noam Chomsky (1999).
“O neoliberalismo é o paradigma económico e político que define o nosso tempo. Ele consiste em um conjunto de políticas e processos que permitem a um número relativamente pequeno de interesses particulares controlar a maior parte possível da vida social com o objectivo de maximizar seus benefícios individuais. Como diz Milton Friedman, guru do neoliberalismo, em seu livro Capitalismo e Liberdade, dado que a busca do lucro é a essência da democracia, todo governo que seguir uma política anti-mercado estará sendo anti-democrático, independentemente de quanto apoio popular seja capaz de granjear.
No melhor de sua eloquência, os defensores do neoliberalismo falam como se estivessem prestando aos pobres, ao meio ambiente e a tudo o mais um fantástico serviço quando aprovam políticas em benefício da minoria privilegiada. As consequências económicas dessas políticas têm sido as mesmas em todos os lugares e são exactamente as que se poderia esperar: um enorme crescimento da desigualdade económica e social, um aumento marcante da pobreza absoluta, um meio ambiente global catastrófico, uma economia global instável e uma bonança sem precedente para os ricos.
Os governos subsidiam prodigamente as grandes empresas e trabalham para promover os interesses empresariais em numerosas frentes.
A democracia é admissível desde que o controle dos negócios esteja fora do alcance das decisões populares e das mudanças, isto é, desde que não seja democracia. Essas mesmas empresas querem e esperam que os governos canalizem para elas o dinheiro dos impostos, que as proteja dos concorrentes, mas querem também que não lhes apliquem impostos e que nada façam em benefício de interesses não empresariais, especialmente dos pobres e da classe trabalhadora.
Em vez de cidadãos, produzem consumidores. Em vez de comunidades, produzem shopping centers. O que sobra é uma sociedade atomizada, de pessoas sem compromisso, desmoralizadas e socialmente impotentes. Em suma, o inimigo primeiro e imediato da verdadeira democracia.
Tratados comerciais e acordos de negócios que ajudam as grandes empresas e os ricos a dominarem as economias das nações sem quaisquer obrigações para com as respectivas populações. Esse processo nunca foi tão claro quanto na criação da Organização Mundial do Comércio (OMC) no princípio dos anos 1990 e, mais recentemente, nas negociações secretas para a implantação do Acordo Multilateral sobre o Investimento (AMI). Na verdade, a incapacidade de propiciar uma discussão sincera e honesta é realmente uma das mais notáveis características da globalização.
Para que a democracia seja efectiva é necessário que as pessoas se sintam ligadas aos seus concidadãos e que essa ligação se manifeste por meio de um conjunto de organizações e instituições extra mercado. Uma cultura política vibrante precisa de grupos comunitários, bibliotecas, escolas públicas, associações de moradores, cooperativas, locais para reuniões públicas, associações voluntárias e sindicatos que propiciem formas de comunicação, encontro e interacção entre os concidadãos.
Se agirmos com a ideia de que não haverá possibilidade de mudança para melhor, estaremos garantindo que não haverá mudança para melhor. A escolha é nossa, a escolha é sua.”
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Reflexões
(…) gender is thought of as a process of structuring subjectivities rather than as a structure of fixed relations (Morris 1995:568).
Cultural orders constructs gender and create subjects (idem:573).
It is possible to claim sex membership in a sex category even when the sex criteria are lacking. Gender, in contrast, is the activity of managing situated conduct in light of normative conceptions of attitudes and activities appropriate for one`s sex category (Zimmerman & West 1987:127).
“female” and “male” are cultural events – products of what they term the “gender attributes process” – rather than some collection of traits, behaviours, or even physical attributes (idem:132).
Cultural orders constructs gender and create subjects (idem:573).
It is possible to claim sex membership in a sex category even when the sex criteria are lacking. Gender, in contrast, is the activity of managing situated conduct in light of normative conceptions of attitudes and activities appropriate for one`s sex category (Zimmerman & West 1987:127).
“female” and “male” are cultural events – products of what they term the “gender attributes process” – rather than some collection of traits, behaviours, or even physical attributes (idem:132).
sábado, 18 de abril de 2009
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Violencia nas escolas.. um evento do passado?
Nos tempos que correm é tudo menos notícia o crescente exponenciar da indisciplina e violência nas escolas portuguesas. Mas, o fenómeno está longe de ser único, encontrando-se sim generalizado em praticamente todos os países democráticos que têm vindo a preconizar um aumento dos poderes e liberdades dos alunos face a um proporcional decréscimo dos poderes e autoridade dos professores e da escola em sí.
Embora o fenómeno seja comum a vários países, são as medidas adoptadas para eliminar o problema que marcam a diferença.
No Reino Unido os pais dos alunos que pratiquem vandalismo, agressões físicas e verbais ou outros actos de violência e indisciplina no espaço escolar serão multados em valores que rondam as 50 libras (aproximadamente 56 euros) em multas que quando acumuladas podem atingir os 1450 euros.
“As intimidações verbais e físicas não podem continuar a ser toleradas nas nossas escolas, sejam quais forem as motivações”, sublinhou a Secretária de Estado para as Escolas (britânicas).
“As crianças têm de distinguir o bem e o mal e saber que haverá consequências se ultrapassarem a fronteira”. Adiantou ainda que “vão reforçar a autoridade dos professores, dando-lhes confiança e apoio para que tomem atitudes firmes face a todas as formas de má conduta por parte dos alunos”.
Segundo garante a secretária de estado o objectivo da medida é transmitir aos pais que a escola não irá assumir as responsabilidades dos pais, em caso de comportamento violento dos seus filhos. Estas medidas serão sustentadas em ordens judiciais para que assumam os seus deveres de pais e em cursos de educação para pais, com multas que podem chegar às mil libras, se não cumprirem as decisões dos tribunais”.
“O Livro Branco dá ainda aos professores um direito claro de submeter os alunos à disciplina e de usar a força de modo razoável para a obter, se necessário”.
A mim parece-me pertinente... será um acto reaccionário? ou a percepção de que a Liberdade de que dispomos constitui na verdade uma responsabilidade a ser partilhado por todos??
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